A TORRE DA PAZ |
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As badaladas do Sino Já são poucas as pessoas que se lembram desses tempos difíceis e, hoje, a juventude não consegue compreender a verdadeira dimensão dessa tradição histórica benfeitense, nem as causas que estão na sua origem. As guerras continuam a existir, mas, chegam-nos através da televisão. É um flagelo terrível; mas, é dos outros! Embora isso nos entristeça como seres humanos, deixa-nos um pouco mais tranquilos o facto de sabermos que as guerras estão longe da nossa porta. Mas será que, hoje, algum sítio estará longe de alguma coisa? Com o ouvido à escuta no seu "menino", o ti Mina, agora com 82 anos de idade, vai contando mentalmente as badaladas do Sino da Paz, um pouco afastado do seu antigo local de acção. São mais do que muitas e todas elas já foram muito sentidas ao longo dos 60 anos que tomou a seu cargo a manutenção do relógio mecânico da torre, dando-lhe corda duas vezes por semana e preparando-o para o grande dia, o dia 7 de Maio, todos os anos; sem ninguém lhe ter pedido e sem ter recebido qualquer remuneração por isso. Fazia-o com gosto, sentidamente!
Quando a Segunda Guerra Mundial começou, em 1939, o medo voltou a reinar nos corações dos portugueses; mas, em 1940, quando Salazar decidiu apresentar Portugal ao mundo, como país neutral e pacífico, os portugueses respiraram de alívio pois em quase todas as famílas havia a lamentar alguém que tivesse morrido ou desaparecido, ou ficado estropiado para o resto da vida, durante a participação portuguesa na Primeira Guerra. O facto de nos termos conseguido manter afastados da Segunda fez nascer, nos portugueses, um enorme sentido de gratidão para com Salazar, embora durante os 6 anos que durou essa paz, pairasse sobre os portugueses a incerteza e o medo de uma nova declaração de guerra.
Em 2004, em consequência de uma cirurgia dupla, ao joelho direito e à anca esquerda, no Hospital da Universidade de Coimbra, o ti Mina, ficou "agarrado" definitivamente a uma cadeira de rodas, nunca mais tendo podido voltar a subrir a escadaria de Santa Rita, nem os degraus da Torre da Paz, para dar corda ao relógio e continuar a missão que, voluntariamene, tinha abraçado.
Embora não possa sentir o apelo das badaladas do Sino porque, tendo nascido 15 anos depois do 25 de Abril, nunca sentiu sobre a sua cabeça o peso de uma ameaça de guerra, nem o sabor de um suspiro de alívio quando chegou ao fim uma guerra que ceifou milhões de vidas e deixou marcas horríveis por toda a Europa; estamos certos que o jovem Ricardo, para alguns "o guarda Ricardo", por ser o novo guardião da Torre da Paz, fará o melhor que puder, mesmo sem aquele estímulo, para dar continuidade e esse trabalho honroso e continuar a merecer a confiança de todos os benfeitenses. Vivaldo Quaresma |
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