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Piódão-Foz d'Égua-Chãs d'Egua-Piódão INTRODUÇÃO A descoberta do prazer pelas caminhadas fez ressurgir nos locais assinalados a memória, já longínqua, dos caminhos que ligavam as aldeias e suas gentes. Muitos deles já se encontram imersos na densa vegetação. Foi apenas com a preciosa ajuda dos habitantes locais que actualmente se pode abrir à circulação pedestre alguns destes percursos. Ao metermo-nos ao caminho mergulhamos no quotidiano (já ido) destas gentes, visitamos quintas, avistamos terrenos de cultivo e por nós passa apenas a brisa carregada de fortes cheiros naturais, deixando-nos entrever a dura realidade de então. A conquista de terreno à encosta é um bom exemplo, qual escadaria de gigantes rumo ao infinito... Animar por inteiro esta paisagem é uma utopia. Mas por cada caminheiro que passa, passa também a história destas gentes que povoaram a serra e que hoje, infelizmente, vêm as suas terras e as suas casas habitadas apenas de memórias... O percurso apresentado liga a aldeia do Piódão a dois lugares da freguesia. São eles Foz d'Égua e Chãs d'Égua. Trata-se de um percurso com declive pouco acentuado, excepção feita apenas no caminho que liga Piódão a Chãs d'Égua, em que a altitude mínima ronda os 600 metros e a máxima atinge os 740 metros. Grande parte do percurso faz-se na encosta do vale onde, em baixo, corre a ribeira do Piódão, no caso do caminho Piódão-Foz d'Égua, e a ribeira de Chãs d'Égua, no caso do caminho Foz d'Égua-Chãs d'Égua. Os terrenos são basicamente xistosos e, em tempos, usados para o cultivo de uma agricultura de subsistência. A água abunda, por isso não há que temer a sede. A vegetação arbórea é rica em alguns majestosos castanheiros, carvalhos, pinheiros, algumas oliveiras e eucaliptos. De entre o estrato arbustivo é de destacar a urze, o rosmaninho, a carqueja e a giesta. Algumas casas abandonadas que se cruzam no caminho são testemunho da actividade pastorícia de então, tanto de caprinos como de ovinos. Nas clareiras podem avistar-se colmeias, testemunho da actividade apícola, ainda com alguma expressão na região. ALDEIA DO PlÓDÃO Antes de iniciar o percurso pode visitar a aldeia. Classificada como imóvel de interesse público a partir de 1978, beneficiou assim de alguma protecção. Mas só a partir da sua integração no projecto das aldeias históricas de Portugal, o Piódão viu o seu conjunto urbanístico salvaguardado. Ou seja, no âmbito desse programa todas as casas em cimento e telhados de telha deverão ser convertidas em paredes de xisto e telhados de lousa. As novas edificações deverão seguir a mesma cartilha. Só assim se valoriza a riqueza arquitectónica do Piódão e a sua referência como património a preservar. O registo mais antigo referente à aldeia do Piódão remonta ao ano de 1527, altura em que o rei D. João II mandou organizar o Cadastro do Reino com o objectivo de determinar o efectivo demográfico. Neste levantamento aparece então o "Casal do Piódão", com apenas dois moradores. Talvez tenha sido este o começo da aldeia, no entanto conta a lenda que Diogo Lopes Pacheco, um dos assassinos de D. Inês de Castro, após a fuga para Espanha, volta a Portugal e escolhe o Piódão para se fixar (século XIV), 200 anos antes do primeiro registo acima mencionado. No entanto, as lendas contam-nos que o Piódão nem sempre foi onde hoje se encontra. Segundo os relatos que passaram de geração, o Piódão seria mais abaixo, num local chamado "Casas Piodam", o qual viria a ser trocado pelo actual, mais seco, devido às pragas de insectos e formigas que assaltavam os potes de mel. Construção A aldeia tem um traçado e uma disposição típica de um povoamento de montanha. Abrigadas dos ventos dominantes, as casas trepam pela encosta acima. Os materiais de construção são aqueles que a serra oferece: xisto e madeira. As paredes têm duas camadas, uma exterior com pedras maiores e uma interior com pedras mais pequenas. Os telhados têm uma ou duas águas, chegando a ter quatro graus de inclinação média. O azul que pinta as portas e janelas é outro dos mistérios ainda por resolver. Ninguém sabe ao certo a razão. São várias as explicações, mas a mais conhecida prende-se com o isolamento da aldeia e com a chegada de uma lata de tinta azul. Não havendo escolha, o azul impôs-se e é actualmente parte integrante do conjunto arquitectónico da aldeia do Piódão. Igreja Matriz Edificada no século XVIII, esta igreja poderá ser uma reconstrução de uma outra mais antiga, conhecida como igreja de Santa Maria, ligada ao mosteiro dos Monges Brancos de S. Bemardo que se pensa ter existido no Piódão no século XII, o que a ser verdade faz remontar a esta época a origem da aldeia. A igreja hoje existente tem por titular Nossa Senhora da Conceição. Conta-nos a história que os habitantes do Piódão reuniram todo o ouro disponível e encarregaram um pastor de ir a Coimbra falar com o Bispo para que fosse dada autorização para a construção do edifício. Alegando falta de fundos, o Bispo não se mostrou disponível. Então, o velho pastor abriu os cordões à bolsa e pôs a descoberto as reluzentes moedas de ouro. O problema estava resolvido. Em finais do século passado a fachada dava mostras de muita degradação. Foi o Cónego Manuel Fernandes Nogueira o autor da renovada fachada. Os três retábulos são do final do século XVIII, já restaurados. Sobre o arco e os vãos há diversas obras de talha do período de transição dos séculos XIX-XX. A única escultura antiga é a da Senhora da Conceição, feita em calcário e originária da segunda metade do século XVI. Capela de S. Pedro É uma construção vulgar situada no alto da povoação e que alberga a imagem de S. Pedro segurando a chave e o livro. Esta imagem remonta ao século XVI. Capela das Almas Construção simples com um retábulo em madeira onde se encontram representadas em três figuras as almas do purgatório.
O percurso tem início no caminho de acesso à ETAR do Piódão (1). Desce-se em direcção à ribeira, atravessa-se uma pequena ponte e daí até Foz d'Égua segue-se sempre pela margem esquerda da Ribeira do Piódão. Este caminho atravessa zonas agrícolas, hoje em dia grande parte delas abandonadas. Mais à frente vai-se ao encontro do estradão que liga Piódão a Foz d'Égua. Atravessa-se o lugar do Torno, apenas com sete habitantes, e após algumas curvas chega-se a Foz d'Égua. Pelo caminho ficou a nascente da Trepadinha (2), de águas cristalinas e geladas que brotam da rocha dura, provocando a quem as bebe uma sensação de leveza e bem-estar. No local assinalado com o número cinco (5) ainda hoje se pode ver um exemplo das cercas de pedra que outrora protegiam os colmeais, principalmente dos ataques dos ursos que habitavam os antigos bosques e se deliciavam com o mel dos cortiços. Conta-se que certo dia Pedro Lourenço, morador no Piódão, avistou aqui um enorme urso derrubando as colmeias e lhe gritou: "Ó lambão, se lá há mais alguma acaba já com ela". O animal ouviu-o, estacou e descobriu-o. De tal modo ficou irritado que resolveu saltar o muro e persegui-lo. O Pedro, ainda jovem e vigoroso, percebeu as intenções do bicho e como a distância entre eles era significativa deu marcha ao andamento em direcção ao Piódão. Mas o urso não desistiu. Desceu até ao riacho, subiu pela vereda, apanhou-lhe o rasto e persistiu na perseguição. Valeu a Pedro Lourenço um primo que também se dirigia para o Piódão mas pelo caminho fronteiro do outro lado da ribeira. Este via perfeitamente o urso e gritava-lhe: "Caminha Pedro Lourenço que ele já vai na Barroca da Quinta! Caminha... que ele já passou as Valeirinhas! Caminha...que ele já passou à Verdumeira!" Sabendo que já não teria tempo de alcançar o Piódão, saiu do caminho principal e abrigou-se num aglomerado de palheiros sito ao Moinho-Velho. O urso, não dando por isso, continuou em direcção ao Piódão e só parou junto à ponte, à vista do casario, escutando as vozes das gentes. Alguns homens, avisados pelo primo do Lourenço, pegaram em armas e foram-se a ele. O urso retrocedeu e sumiu-se no bosque impenetrável. Em Foz d'Égua merece uma visita a área da piscina natural. Local de encontro da ribeira do Piódão com a ribeira de Chãs d'Égua, que correm em direcção ao rio Alvôco. Se for tempo disso, não resista a um mergulho nas águas cristalinas desta piscina natural. Aí mesmo pode optar por regressar ao Piódão, agora pela margem direita da ribeira, ou seguir na direcção de Chãs d'Égua. Se seguir em direcção ao Piódão irá encontrar um grande rochedo (3) com a superfície plana, onde, conta a lenda, lindas moiras encantadas estendiam ao sol o seu ouro reluzente, mas sempre fugidias aos olhares curiosos e enamorados dos pastores, que jamais puderam falar-lhes. O percurso continua ao sabor das curvas da encosta, tendo como paisagem a extraordinária engenharia de conquista de espaço à encosta: as quelhadas ou socalcos. São patamares sobre patamares, escadas que ziguezagueiam os terrenos a cultivar. Verdadeira prova de esforço do homem. Um pouco antes de chegar ao Piódão vamos encontrar a mina do Regato Sobral (4). Desconhece-se quando é que esta mina foi aberta. Apenas se sabe que servia para regar as culturas dos socalcos inferiores. Diz a lenda que o dono da quinta usava habitualmente um barrete vermelho na cabeça ao longo de todo o ano. No verão, ao fim da tarde, antes de iniciar o regresso a casa, tinha o hábito de se sentar junto à porta da mina a saborear um púcaro de água fresca enquanto enrolava um cigarro para fumar pelo caminho até ao Piódão. Certo dia, quando cumpria tal rotina, reparou que ao seu lado estava sentado um rapaz negro, alto e feio, que tinha na cabeça um barrete igual ao seu e que enrolava um cigarro e sorvia pequenos goles de água fresca com gestos idênticos e simultâneos aos seus. Estranhando o que estava a acontecer, resolveu apressar o regresso a casa sem dirigir palavra àquele indivíduo que não conhecia de parte alguma. Mais perplexo ficou quando observou que ele caminhava teimosamente ao seu lado, acompanhando-o em cada passo e em cada gesto. A certa altura, já perto do cemitério e antes de avistar o Piódão, o homem tirou do bolso um rosário que trazia sempre consigo e começou a rezar em voz alta. Nesse instante ouviu um estrondo medonho e o rapaz negro desapareceu, deixando atrás dei si um rasto muito denso de faúlhas e fumo preto. Quando chegou à aldeia e contou o que lhe acontecera todos concluíram que fora o demónio quem o acompanhara. Ainda hoje as pessoas vêm à porta desta mina e brincam com o eco: "Quem está aí? Se é o homem do barrete vermelho apareça agora aqui." Se seguir em direcção a Chãs d 'Égua (6) vai subir um pouco, sempre na margem esquerda da ribeira. Uma vez chegado ao lugar de Pés Escaldados pode optar por dois caminhos em direcção a Chãs d'Égua. Chegado à aldeia sente-se o isolamento. Mas nem sempre assim foi, pois no alto da serra, bem por cima da povoação, passava uma das mais importantes estradas do reino - a estrada real que ligava Coimbra à Covilhã. Do litoral vinha o sal e peixe salgado, para no regresso se transportar queijo, lã, tecidos... Pela estrada não vinham só as caravanas com os produtos, mas também todo o tipo de viajantes e entre eles alguns famosos fora-da-lei, como o Zé do Telhado e o Oliveira Matos, mais conhecido por Oliveirão. Contrariamente ao Zé do Telhado, que roubava aos ricos para dar aos pobres, rezam as lendas, o Oliveirão era temido pelas populações devido à sua brutalidade. Em Chãs d'Égua, por onde passava frequentemente, exigia comida e violava raparigas. Estes crimes, praticados de uma forma sistemática, motivaram num pequeno grupo de homens coragem suficiente para se esconderem no campanário, noite após noite, aguardando pela chegada do Oliveirão. Então, numa noite luminosa de Agosto em que o bandido se recolheu numa casa contígua ao adro da capela para acabar com a juventude de uma linda rapariga que acabara de fazer 16 anos, fez-se justiça. Alta madrugada a porta da casa entreabriu-se e assim permaneceu durante algum tempo. O Oliveirão, experiente e habituado a tomar precauções, colocou o chapéu na ponta do cano da espingarda e mostrou-o através da porta entreaberta. Porém, o luar brilhante da noite estava contra ele e favorecia os homens emboscados, que perceberam o ardil. Passados alguns momentos, o Oliveirão avançou para a rua confiante e foi apanhado por uma tempestade de chumbo grosso. Cambaleou, dobrou-se e tombou inerte. Pela manhã foi enterrado nas traseiras da capela. Benfeita- Enxudro-Pardieiros- Benfeita Este percurso liga Benfeita ao Enxudro, Pardieiros e novamente a Benfeita. O declive é um pouco acentuado, oscila entre os 300 m de mínima e os 700/800 de máxima. O percurso atravessa montes e vales outrora terrenos de cultivo povoados de pequenas quintas, como é o caso da Quinta da Misarela. A água é uma presença constante, pois mesmo quando nos afastamos dos cursos de água o som perdura. São as ribeiras que nascem na serra e vão encontrar a ribeira da Mata na Benfeita. Como estamos paredes meias com a área protegida, a vegetação é rica na sua diversidade: castanheiros, carvalhos, loureiros, medronheiros, azereiros... No que respeita ao estrato arbustivo, vamos encontrar a urze, o rosmaninho, a carqueja e a giesta. São três as aldeias que englobam este percurso. Aconselhamos o início na aldeia de Benfeita (1), sede de freguesia e com cerca de 200 habitantes. As origens desta aldeia perdem-se no tempo, no entanto pensa-se que a sua origem seja anterior ao início da nossa nacionalidade. Na Idade Média o seu nome era Bienfecta, deixando antever origens romanas, povo que esteve nestas paragens trazendo consigo o latim. O documento mais antigo que se conhece data de 1196 e trata-se de um contrato de compra e venda dos terrenos onde se situava a aldeia de Benfeita entre Pelágio Arias, sua mulher, Lupa Soares, e o cónego Presbítero Salvador. Há notícia de por volta de 1300 a Benfeita receber foral do cabido da Santa Sé de Coimbra, conquistando assim autonomia administrativa e religiosa. Depois disso os elementos que nos chegam são apenas dados demográficos da evolução da população. O património religioso existente é testemunho da fé destas gentes. Temos assim a Capela de Nossa Senhora da Assunção, Capela de Santa Rita, Capela do Senhor dos Passos e a Igreja Paroquial. O percurso inicia-se logo a seguir à pequena ponte, à direita, em direcção aos Pardieiros. Durante algum tempo mergulhamos no vale verdejante, excelente espaço para a agricultura e que ainda testemunha esse privilégio. De um lado e de outro são patamares sucessivos ladeados de grandes escadarias, exemplo da perseverança do homem na conquista de terra arável. Logo a seguir, ao atravessarmos a ribeira, é preciso encher os pulmões e ganhar coragem para ultrapassar o declive acentuado. Pode optar-se por pequenas paragens que permitem o descanso e, ao mesmo tempo, o envolvimento com a paisagem. Uma das histórias que se contam sobre este local é que certa vez o Maneta (figura que ainda encontramos na memória das gentes de Benfeita), vindo sozinho pela serra abaixo, cerca da meia noite, a caminho de casa, ouviu grandes e repetidas risadas. Outro qualquer teria tremido dos pés à cabeça. O Maneta parou, atento, a certificar-se de onde vinha o som das gargalhadas e logo se encaminhou, resolutamente, através do pinhal para o sítio assinalado. Numa pequena clareira um bando de bruxas dançava e ria! Eram dez ou doze, desgrenhadas, horrendas! É cabrada brava - gritou-lhes o Maneta. Eu já vos digo! E rápido, decidido, traçando no ar com a mão mutilada um Signo Saimão e proferindo umas tantas palavras mágicas que só ele conhecia, logo ali prendeu as bruxas e as impossibilitou de fugir!... E assim as teve prisioneiras o tempo que quis. Bem berravam elas, bem estrebuchavam gritando ameaças tremendas, proferindo pragas e esconjuros ou invocando contra o seu carcereiro os poderes maléficos do demónio, seu dono e protector. Tudo era inútil, porque o Maneta, que de nada nem de ninguém tinha medo, sentara-se num comorozito e divertia-se com o espectáculo, disposto a deixar nascer o sol. Por fim as bruxas pactuaram, humilhando-se, chorando, súplices da quebra do feitiço que as constrangia, mas o Maneta só as desprendeu, pondo cobro ao seu encantamento, depois delas terem prometido, solenemente e em uníssono, não voltarem a atormentar nenhuma criança da Benfeita, nem perseguirem qualquer pessoa da freguesia, Depois de ultrapassar este obstáculo estamos já na Quinta da Misarela (2). Daqui até ao Enxudro segue-se por um paredão próximo da ribeira do Enxudro. A vegetação é abundante e passa-se junto a um linda queda de água. Já no Enxudro (3) pode fazer-se uma pausa para encher o cantil na fonte no largo da aldeia. Retemperam-se as forças para seguir em direcção aos Pardieiros. Depois de subir o estradão que sai do Enxudro é possível avistar Relva Velha e Monte Frio, outras aldeias da serra do Açor. A partir deste ponto é sempre a descer até à estrada que liga à Mata da Margaraça e aos Pardieiros. Neste ponto vale a pena virar à direita e visitar a Mata (4). Aí vai encontrar a Casa Grande, que funciona como centro de interpretação e onde pode obter informações sobre esta área protegida. Merece a pena referir que datam do século XIII as primeiras notícias da Mata da Margaraça, numa altura em que pertencia ao Bispado de Coimbra. Após a instauração do regime liberal, no século XIX, passa para a posse do Estado. Em 1941, os Serviços Florestais propunham ao governo a sua aquisição e a utilização das potencialidades da vegetação para a implantação de um viveiro com vista à reprodução de algumas espécies arbóreas (nomeadamente os castanheiros). Nesta época, a propriedade denominada Quinta da Margaraça pertencia a uma família de Avô, que a explorava intensamente. Foi vendida por esta família a um natural de Albergaria, que a registou em seu nome e dos filhos. E foi a estes últimos que o Estado adquiriu a Mata em 15 de Janeiro de 1985, sendo desde então gerida pelo Serviço Nacional de Parques, Reservas e Conservação da Natureza. Esta compra resultou de um longo processo de luta pela conservação e protecção deste espaço natural. Das entidades envolvidas são de salientar: as populações locais, representadas pela Comissão de Melhoramentos de Pardieiros; Junta de Freguesia de Benfeita, Câmara Municipal de Arganil, passando por estudantes e docentes através de Associações Científicas, diversas entidades governamentais, como o Ministério da Economia, Serviços Florestais... até à imprensa falada e escrita (nomeadamente "A Comarca de Arganil"). Estas breves referências evidenciam, efectivamente, a importância que este espaço tem, tanto como local privilegiado da representatividade da fauna e flora desta região de outrora, como também o de bem comum das populações que, pela sua potencialidade, urge preservar. Mas, afinal, o que é que faz desta Mata um espaço a preservar? Trata-se de uma formação vegetal que é tida como a representação mais próxima do que seria o coberto florestal primitivo das encostas de xisto do centro de Portugal. Assim, nesta densa vegetação dominam as espécies de carvalho alvarinho (Ouercus robur L.) e o castanheiro (Castanea sativa L.). O azevinho (Ilex aquifollum L.), a cerejeira brava (Prunus avium L.) e a aveleira (Corylus avellana L.) são igualmente espécies arbóreas frequentes. A presença de espécies de valor hortícola ornamental levaram a UNESCO a incluir esta formação na lista das reservas biogenéticas. Possui igualmente algumas plantas raras em Portugal, cujo valor científico é acrescido. É o caso do martagão, determinadas espécies de narcisos, o selo de Salomão, entre outras, abundando ainda musgos, líquenes e fungos. As inúmeras linhas de água que atravessam este espaço facilitam o desenvolvimento desta densa vegetação, possibilitando, igualmente, a presença de espécies animais associadas aos meios húmidos. Veja-se o exemplo do lagarto-de-água e da salamandra-de-cauda-comprida. De entre os mamíferos, destaca-se o javali e a gineta. No que respeita às aves, podem citar-se a coruja-do-mato, o açor e o gavião. É assim variada a riqueza deste espaço, compreendendo-se o destaque que é necessário conferir-lhe. Agora é tempo de voltar pelo mesmo caminho de acesso em direcção aos Pardieiros (5), aldeia com apenas 70 habitantes e sem grandes referências históricas. Ao visitar a aldeia podem encontrar-se alguns artesãos de ferramentas em punho a esculpir pequenos toros de madeira do qual resultarão colheres de pau, uma arte que ninguém sabe muito bem como nasceu mas que aqui tem expressão. A partir dos Pardieiros seguimos em direcção à Fraga da Pena (6), que merece uma visita obrigatória. Trata-se de uma sucessão de dez quedas de água que no seu conjunto medem aproximadamente 65 metros, de onde se destacam os 19 metros de queda sub-vertical da Fraga da Pena. Para ver a maior queda de água é necessário descer um pouco e ter algum cuidado com as escadarias de acesso. Depois de passar por um antigo moinho já se avista a Fraga. Vai encontrar algumas mesas e cadeiras, excelentes para uma pequena pausa. |
Agora é só voltar a subir... até ao caminho que deixou e seguir em direcção à Quinta da Misarela e daí, novamente, até Benfeita. |
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Veja também (cartas): |
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