José
Rosa Gomes, nasceu na aldeia Casal do Pau, freguesia
da Benfeita em 08/11/1896. Era filho de Carlos Gomes, natural
de Pinheiro, Tábua, e de Maria da Piedade, da Benfeita, moleiros,
e neto paterno de Luís Gomes e Joaquina do Passo e materno
de Manuel Rosa e Maria Domingues.
As velas dos moínhos
da terra onde nasceu, criaram nele uma empatia geral pela
Marinha e uma curiosidade muito especial pelas artes da marinhagem
e, ainda com 16 anos, entrou para a Escola de Alunos Marinheiros
do Sul, em Faro, onde foi admitido em 25/09/1913, tendo terminado
o seu curso no prazo legal.
Assentou praça na Marinha
como voluntário, aos 17 anos, em 01/08/1914, com a classificação
de atirador de 1ª classe. Foi grumete (1914), grumete artilheiro
(1916), 2º artilheiro (1916) e 1º artilheiro (1920).
Serviu na Armada, a bordo de diversos navios da República
Portuguesa (NRP), como: Fragata D. Fernando (1914), Couraçado
Vasco da Gama (1915), Canhoneira Zaire (1916), Cruzador Almirante
Reis (1916), Cruzador 5 de Outubro (1917), Lança-Minas Vulcano
(1918), Canhoneira Mandona (1918) e na Canhoneira Ibo (1919),
tendo feito várias missões de serviço
de: patrulhamento e defesa marítima da costa portuguesa,
incluindo os arquipélagos das Berlengas, Madeira, Açores
e Cabo Verde; escoltas; operações de busca e
salvamento; assistência a embarcações
necessitadas; socorros a náufragos; segurança
do cabo telegráfico submarino e fiscalização
de pescas.
Foi
louvado pelo comando da NRP Ibo, "pela espontaneidade e
bons serviços prestados em 13/11/1919, na amarração do navio
a bóia, serviço prestado em circunstâncias de tempo
que oferecia perigo e nele demonstrou possuir os conhecimentos
e qualidades de verdadeiro marinheiro experimentado".
Homem de grande coragem e
determinação, Rosa Gomes recebeu a medalha comemorativa
das Campanhas do Exército Português no Mar, em 1918; a medalha
de cobre de Socorros a Náufragos, em 1919; e a Medalha da
Vitória, em 1920.
Foi-lhe considerado o tempo
de serviço em zona de guerra de 2 anos, 2 meses e 28 dias.
Em 14/06/1921, com 24 anos, foi abatido ao efectivo dos Serviços
da Armada, por motivos de saúde, tendo sido julgado
incapaz pela Junta de Saúde Naval.
Casou com Palmira Vasques Gomes,
de cujo matrimónio viria a nascer Mário Vasques Gomes, em
18/07/1918. Este, viria a casar-se com Lucinda César
Gomes e falecido na Benfeita, em 07/11/1998, com 80 anos de
idade, vítima de uma trombose que o incapacitara durante
vários anos, deixando um filho, José Maria Vasques
Gomes que, depois de ter emigrado para a África do
Sul, onde trabalhou durante cerca de duas décadas,
em Joanesburgo, regressou já reformado tendo mandado
construir uma moradia logo a seguir à Ponte Fundeira, na estrada
para o cemitério.
Tendo
ficado viúvo, José Rosa Gomes viria a casar, em segundas
núpcias, com D. Genoveva da Costa.
Durante vários anos trabalhou
como encarregado de Garagem Tomarense, em Lisboa, sendo um
dedicado voluntário das formações sanitárias
da benemérita Cruz Vermelha Portuguesa, em cuja farda
foi amortalhado.
Faleceu com 60 anos de idade,
em Lisboa, na freguesia de Arroios, onde residia na Rua de
Arroios, 110, porta 3, durante a madrugada do dia 11/09/1957,
vítima de doença aterosclerótica degenerativa do coração.
A morte arrebatou-o quando
tanto ainda se esperava do seu dinamismo, espírito
de iniciativa e esforçada acção, tendo
falecido durante o mandato de António Nunes Leitão
à frente da Direcção da Liga, onde ele
exercia o cargo de Vice-Presidente.
Foi
sepultado no cemitério do Alto São João, em Lisboa, no talhão
dos Combatentes, coval 2003, tendo sido exumado para a cripta
dos Combatentes, em 04/10/1962, com a chapa 3206.
Por ter sido uma pessoa estimada
por todos, pelo seu amor e desejo de progresso e desenvolvimento
da Benfeita, a rua onde tinha a sua casa, no bairro do Outeiro,
era conhecida pelo seu nome.
Assim, o nome de José Rosa Gomes, passou a fazer parte
da toponímia benfeitense, definitivamente, em 2014,
altura em que todas as ruas da aldeia receberam as suas placas
identificativas.

Foto histórica tirada
em 23/03/1944, durante um almoço em Cacilhas,
onde se discutiu a criação da Casa Regional,
os Estatutos da Liga e os seus Corpos Gerentes.
Em pé: Joaquim Bernardo (32) e José Rosa Gomes
(47).
Sentados: Alfredo Nunes dos Santos Oliveira (48), Leonardo
Gonçalves Mathias (71) e António Nunes Leitão
(56)
José Rosa Gomes foi
um devotado regionalista e um elemento preponderante da Liga
de Melhoramentos da Freguesia da Benfeita, desde a sua criação,
em 8 de Fevereiro de 1945.
Uma nova agremiação
regionalista
Está constituída
a Liga de Melhoramentos da Freguesia da Benfeita
LISBOA, 8. — Esta noite, numa das
salas da Casa da Comarca de Arganil, nasceu mais
uma agremiação regionalista. E desde
já se pode dizer, em face do transbordante
e sincero entusiasmo inicial, que a colectividade
tem o seu futuro assegurado. A freguesia da Benfeita,
tão encantadora e rica de pitoresco, pode
contar, como até aqui, com a devoção
dos seus filhos; mas, agora, coordenados os esforços,
disciplinadas as vontades, ritmada a acção
que se dispersava, essa devoção
terá, sem dúvida, resultados ainda
mais práticos.
Com a alegria e o optimismo que
devem ser características inalienáveis
de todos os que compreendem as virtudes e a mística
do regionalismo, saudamos calorosamenie a nova
agremiação, a Liga de Melhoramentos
da Freguesia da Benfeiia. E mais uma vez, felicitando
os animadores de tão bela obra, à
sua disposição colocamos as colunas
de A Comarca de Arganil, jornal
que, dia a dia, ganha novas energias para exemplar
cumprimento da missão a que se propôs!
A sala da Casa da Comarca de Arganil,
destinada à assembleia dos naturais da
freguesia da Benfeita que exercem a sua actividade
em Lisboa, foi pequena para conter os interessados
na formação da Liga. Todos quiseram
comparticipar da hora feliz em que a sua agremiação
ia ser fundada. Belo e admirável exemplo
e excelente prenúncio!
Presidiu à reunião,
iniciada pelas 22 horas, o Sr. Leonardo Gonçalves
Mathias, veneranda figura benfeitense que todos,
merecidamente, acarinham e que deu uma eloquente
demonstração — mais uma! — do enternecido
afecto que dedica à sua terra. Secretariaram-no
os Srs. Adelino Francisco Quaresma e Adelino dos
Santos, tendo sido lidos: um telegrama de felicitações
do Sr. Dr. António Luiz Gonçalves,
presidente da Câmara Municipal de Arganil,
e natural da Benfeita, e um ofício da União
e Progresso do Barril de Alva, saudando a nova
congénere.
Procedeu-se, depois, à leitura
do projecto de estatutos que hão-de regular
a Liga, ficando assente que esta se considera
fundada desde 1 de Janeiro do corrente ano (1945),
sendo o seu primário objectivo pugnar por
todos os melhoramentos de que careça a
freguesia da Benfeita. Durante a apreciação
do projecto, falaram os Srs. António Nunes
Leitão, António José Filipe,
António Correia, José Duarte da
Costa Nicolau e Diamantino da Silva, sendo, por
fim, o trabalho aprovado com ligeiras alterações,
de molde a poder dar-se-lhe a redacção
definitiva.
Seguiu-se a eleição
dos primeiros corpos gerentes, ficando estes constituidos
pelos seguintes senhores:
Assembleia Geral — Leonardo Gonçalves
Mathias, Adelino dos Santos e José Rosa
Gomes.
Direcção — Dr. Elísio
Dias da Fonseca, António Correia, Adelino
Francisco Quaresma, Armando Gonçalves Pereira
(Sardal) e Américo Pereira (Pai das Donas)
- efectivos; e José Augusto Rosário
Dias, José Martins Pereira, António
José Filipe (Pardieiros), António
Nunes Leitão, António Pena (Monte
Frio) e Abílio Dias da Costa (Dreia) -
suplentes.
Conselho Fiscal — Luiz dos Santos,
José Duarte da Costa Nicolau e Diamantino
da Silva.
Proclamados os novos eleitos,
que a assembleia demoradamente aplaudiu, usou
da palavra o Sr. José Rosa Gomes, que disse:
« É com muita satisfação
que faço uso da palavra, tomando parte
nos trabalhos desta primeira assembleia, e não
menos satisfação por ver reunidos
nesta sala muitos dos melhores elementos, que
poderei chamar a «elite» dos benfeitenses.
Todos unidos, e como um só,
alguma coisa de bom poderemos fazer para levar
a cabo uma obra que se impõe, e da qual,
no futuro, não podemos prescindir, para
que a nossa querida terra, berço onde nascemos,
caminhe a par e passo com todas as outras freguesias
do concelho, já que não podemos
caminhar na vanguarda de todas elas.
Benfeitenses! Despertai: tanto
dormir, faz mal. Vamos mostrar ao mundo que na
Benfeita existem energias e que os seus filhos
dilectos querem sentir o prazer do sacrifício
para dar-lhe a sua mais pura seiva, o máximo
da sua vontade, para a tornar maior e melhor,
transformando-a assim, se é possível,
numa «Sintra da Beira», e para que, ao visitá-la,
tenhamos a certeza de que a civilização
não se encontra só nas cidades e
vilas. A Benfeita não pode dar, a quem
lá fôr, só o abraço
hospitaleiro. É preciso dar mais.
O forasteiro quer carinho e
esse é nosso, tradicionalmente. Mas, esse
mesmo forasteiro quer mais: quer limpeza, quer
ter ruas próprias, quer ver uma sociedade
recreativa, quer ver uma boa escola e, enfim,
quer ver uma casa arrumada, limpa, e isso tudo
e muito mais querem ter os bons filhos da Benfeita.
É por isso mesmo que nos encontramos aqui
reunidos.
Não posso espraiar-me
mais em considerações desta ou daquela
natureza, pois até aí não
chega a minha competência, mas quero, neste
momento, frisar que não vimos aqui pedir
para que se dê o que se não pode,
mas, apenas, quero dizer-vos que não basta
dar, é preciso agir. Todo o auxílio
agradecemos!
Que esse auxílio seja
colectivo, para que a nossa colectividade possa,
de igual maneira, satisfazer as muitas aspirações
que tem delineadas e para que todos digamos que
bem empregada foi a nossa quota-parte, moral e
material, na sua constituição.
É preciso que cada sócio
fundador, até 28 de Fevereiro traga outro,
venha de onde vier. É preciso que seja
bom, para que lhe possamos abrir os braços
que fraternalmente estão sempre abertos
para quantos nos queiram ou desejem ajudar.
Sendo assim, a nossa casa arrumada
e limpa será um facto.
Não quero nem desejo
focar os elementos que fazem parte dos corpos
gerentes da nossa associação, mas
tão somente dizer que são eles a
garantia de que as nossas aspirações
serão satisfeitas, pois que tendo, na presidência
da Mesa da Assembleia Geral, a mais veneranda
figura da nossa terra, o lutador acérrimo
que tantos sacrifícios por ela tem feito,
mais uma vez ele nos dá o seu exemplo de
sacrifício, vindo apontar-nos, com a palavra,
com a acção benemérita da
sua presença, o caminho que todos nós
devemos seguir. Ele é bem merecedor da
nossa mais desvelada consideração,
bem como da de todos os que têm a felicidade
de com ele conviver. O seu carinho, o seu afago,
que só ele sabe dispensar a todos os seus
conterrâneos, que somos nós todos,
os seus amigos, estão patentes!
Sr. Presidente: A V. Exª.
peço que me desculpe por estas minhas palavras
que, querendo dizer bem alto o que me vai na alma,
não chegam a traduzir aquilo a que V. Exª
tem jus.
Sr. Presidente da Direcção:
Não é à minha humilde pessoa
que pertence apresentar-vos a nossa assembleia.
Só o cumprimento dum dever me obriga a
dizer algumas palavras, pondo de parte o protocolo,
consciente e plenamente convicto de que a vossa
benevolência me perdoará.
Meus senhores: O nosso Presidente
da Direcção, que pela sua posição
social é um dos maiores valores de que
nos podemos orgulhar é, também,
um grande amigo da nossa e sua terra. Só
assim se compreende que S. Exª venha tomar
o seu posto, que é manifestamente dificil.
O seu bairrismo não é
de agora, é do tempo de menino e moço,
pois que tendo uma vida atribulada, nunca deixou,
quando podia, de visitar a nossa terra e sua aldeia.
Isto mostra-nos bem o carinho com que abraçou
a responsabilidade de ser ele o nosso Chefe.
Pois bem, nós vamos aqui
fazer-lhe um juramento, juramento de honra, que
consiste nestas simples palavras: «Querido presidente,
nunca vos encontrareis só, enquanto eu
viver».
E agora, olhai, o juramento
que acabamos de fazer, deve-lhe dar a certeza
de que em todas as emergências pode contar
connosco, para que a sua acção seja
benéfica, próspera, para que o seu
espírito lúcido possa levar a cabo
e a bom fim a obra que encetámos. Deve
encontrar no seu caminho muitos empecilhos. Pois
bem, é preciso que nós, obreiros
da mesma obra, lhe suavizemos a sua missão,
limando arestas e limpando-lhe o caminho dos escolhos
que ele há-de encontrar, no futuro, para
bem cumprir.
Dá-nos, também,
o exemplo do sacrifício, tomando responsabilidades
de que estava ilibado, mas como homem de carácter
forte, de amor firme à sua terra, de carinho
pelos seus conterrâneos, veio, perante nós,
tomar tal compromisso. Terá, muitas vezes,
de abandonar o doce carinho do lar para atender,
proteger e encaminhar a nossa associação.
Como devemos agradecer-lhe? Ser-se bairrista
e amigo da Liga dos Melhoramentos da Freguesia
da Benfeita.
A V. Exª peço benevolência
por estas palavras, por não serem a apreciação
perfeita do que V. Exª merece.
Dos outros componentes dos corpos
gerentes, nada digo, porque sabendo-se que o Sr.
Leonardo Mathias é o Presidente da Assembleia
Geral, e o Sr. Dr. Elísio da Fonseca, Presidente
da Direcção, todos os seus companheiros
são o que nós desejamos que sejam.
Terminando, peço para
que seja dado um voto de agradecimento por aclamação
aos nossos dois presidentes, por terem aceitado
os cargos para que foram eleitos. Viva
a Liga dos Melhoramentos da Benfeita! »
Novos vivas, novas manifestações
de entusiasmo reboaram pela sala, que mais ainda
se acentuaram na aprovação dos seguintes
votos: de saudação e agradecimento
à imprensa arganilense, na pessoa de Luiz
Ferreira, redactor na capital de A Comarca
de Arganil; de agradecimento ao Sr. Dr.
António Luiz Gonçalves, pelo envio
do seu teiegrama; de saudação ao
Sr. Dr. Mário Mathias, pelos relevantes
serviços constantemente prestados aos seus
conterrãneos; à União e Progresso
do Barril de Alva, por ter tido a gentileza de
felicitar a nova Liga; e de agradecimento à
Casa da Comarca de Arganil, pela cedêcia
da sala onde a Assembleia funcionou.
O Sr. Dr. Elísio da Fonseca,
prestigiosa figura benfeitense, agradeceu a sua
eleição para Presidente da Direcção,
dizendo aceitar o cargo porque entende não
dever recusar o seu concurso em benefício
da terra onde nasceu. Mesmo quando andou afastado
do continente, disse, trazia a Benfeita junto
ao coração. Em seu entender, os
naturais da freguesia devem formar um bloco indestrutível,
de forma a alguma coisa se poder fazer de útil.
Extintas as palmas que sublinharam
o discurso do Sr. Dr. Elísio da Fonseca,
falou, encerrando a assembleia, o Sr. Leonardo
Gonçalves Mathias, que declarou estar ali
no cumprimento de um dever. Doente, não
quis faltar. Comparecerá, sempre, onde
estiver a Benfeita!
Repetidas ovações
deram por finda esta primeira parada de forças
da colónia da freguesia da Benfeita na
capital. Agora, — para a frente e felicidades!
O Sr. Alfredo Francisco Gomes,
representou na assembleia a Casa da Comarca de
Arganil, e o Sr. José Augusto Rosário
Dias não pôde comparecer por motivo
de doença.
O número de sócios
logo inscrito, foi elevado.
C.A. 3121_2-16/02/1945
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Em 25/02/1995, por ocasião
das comemorações das bodas de ouro da Liga de
Melhoramentos da Freguesia da Benfeita e por iniciativa do
seu presidente da direcção, o saudoso Manuel
Simões, foi colocada na frontaria do edifício
da Liga, uma placa comemorativa, recordando e homenageando
os seus sócios fundadores que 50 anos antes iniciaram
a luta pelo progresso e desenvolvimento da Benfeita, que a
conceberam e lhe deram vida: Adelino dos Santos, António
Correia e José Rosa Gomes, e de alguns outros
que lhe deram continuidade, tais como: António Gaspar
Pimenta, António Simões Quaresma, José
Bernardo Quaresma, José Nunes dos Santos Oliveira,
José Simões Feiteira, Manuel Simões,
Dr. Mário Mathias, Ramiro Filipe e Dr. Salvador Rodrigues
Prata.
Esta placa foi descerrada
por Adelino dos Santos, único sócio fundador
ainda vivo, que viria a falecer um ano depois, a 21/02/1996,
com 88 anos de idade.
Vivaldo Quaresma
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