PROFESSORES  DA  BENFEITA

Escola Masculina

1840-1864  António Pedro Nunes Teixeira, "Padre Mestre"
1864-1865  António Soares Correia
1865-1865  Dr.Albino António Xavier
1866-1866  António Afonso Pereira Saldanha
1866-1891  António Anastácio de Figueiredo
1891-1891  José Fernandes Nogueira
1891-1891  José Gonçalves Mathias
1891-1895  Júlio Martins d'Almeida
1895-1895  P.Alfredo Nunes d'Oliveira
1895-1904  António Rodrigues da Silva
1904-1906  António Nunes d'Oliveira
1906-1906  Maria José Mendes Correia
1906-1908  Luiz José Henriques do Amaral Tardio
1908-1909  Maria do Nascimento Ladeira
1909-1910  Luiz José Henriques do Amaral Tardio
1910-1911  .Sem professor
1911-1914  Adelino Diniz de Abreu
1914-1915  P.António do Rosário Dias
1915-1916  .Sem professor
1916-1919  António Augusto Gil Figueira
1919-1919  Manuel Mendes Aparício
1919-1928  Manuel Ferreira
1928-1934  João Ferreira da Costa
1934-1934  Joaquim Pires dos Santos
1934-1936  António Coelho
1936-1938  Manuel Gonçalves Lage
1938-1940  José Carvalho Duarte
1940-1942  José dos Aidos

Escola Feminina

1916-1919  Maria Beatriz de Oliveira Gouveia
1919-1928  Sara da Anunciação Carvalho
1928-1935  Alice Dias Alves
1936-1942  Maria da Cruz Simões

Escola Mista

1942-1943  Albertina Alves Pais
1943-1946  Lucília Fernandes dos Santos
1946-1947  Estela Albertina da Silva Sarmento
1947-1954  Idalina da Conceição Gomes
1954-1955  Maria Edite Ribeiro Saraiva
1955-1956  Alda Peres Custódio
1956-1964  Maria Edite Ribeiro Saraiva
1964-1965  Idalina Mendes Pinto
1965-1969  Maria Margarida Sanches Pinto
1969-1970  Isabel dos Santos Aires Afonso
1970-1973  Maria Fernanda Marques de Abreu
1973-1974  Maria da Luz (de Cantanhede)
1974-1982  Maria de Fátima Silva
1982-1995  Rui Pais de Carvalho (marido)
1989-1991  Maria de Fátima Costa Gomes Brito Carvalho (mulher)
1996-1996  Carlos de Jesus Miguel
1996-1997  Rosa Maria Pereira Lima
1997-1999  Alfredo José Carvalheiro Gonçalves
1999-2006  Américo Manuel Marçal Simões China Marques
2006-2009  Carla Gouveia

O professor, o padre e o médico, sempre condicionaram o bem-estar das populações da Benfeita. Quando se podia contar com os seus serviços, numa base estável e duradoura, sentia-se crescer o progresso na região e as populações andavam mais bem-dispostas e motivadas.
Quando um deles faltava, durante um período de tempo mais ou menos prolongado, logo a população se sentia inquieta e insegura e, muitas vezes, isso constituía a "gota de água" que levava à emigração.

Quando se respeitava a hierarquia: família, padre, professor, médico, patrão, vizinho, etc. o mundo era muito melhor; as pessoas eram mais felizes e a vida tinha outras cores. Tudo tinha significado e importância, trabalhava-se com entusiasmo e esperança.

O professor era uma figura de grande destaque e importância na sociedade benfeitense. Uns mais do que outros, é certo! E uns bem piores do que outros, também!

Muitas vezes, em consequência dos maus resultados escolares dos filhos, quando os pais pediam conselho ao professor sobre o caminho a seguir, a sua resposta era invariavelmente a mesma: "Enxadórium, batatórium". E, com pais pobres e semi-analfabetos, sem recurso a outros meios de ensino, como: aulas particulares, explicações ou tutelagem, os alunos acabavam cedo nos campos de enxada na mão (enxadórium) a cavar batatas (batatórium).

Se a criança não podia contar com a presença de um pai suficientemente forte para cumprir a sua função, ela poderia desviar a sua esperança para o professor. Se este, por sua vez, também fracassava na tarefa de modelo para identificação, estaria condenando a todos ao desamparo e à perda de perspectivas que os iriam orientar. As reacções frente a essa situação poderiam ser de desrespeito, agressividade, rebeldia, desvalorização, indisciplina e exclusão.

Alguns professores, na Benfeita e no resto do país, utilizavam métodos de ensino absolutamente reprováveis e que hoje seriam manifestamente interditos, como por exemplo o uso de castigos corporais, salientando-se para além da utilização da régua e do ponteiro, a vergasta, a "menina dos cinco olhos" (palmatórias de madeira com cinco orifícios) e os "grãos de milho", (obrigar os alunos, quando se portavam mal, a ficarem durante o resto da aula, ajoelhados sobre grãos de milho, voltados para a parede), o que os atemorizava de tal forma que os forçava, muitas vezes, ao abandono escolar, tendo de escolher entre saírem da aldeia em busca de trabalho ou ficarem para ajudarem seus pais nos afazeres do campo; não que isto fosse mau, mas porque fomentava o analfabetismo na região.

A imagem do professor atravessa, actualmente, uma crise muito séria na qual a sua identidade vem sendo questionada, juntamente com o papel que a representa. Do mesmo modo que o professor, o padre e o médico também vêm sofrendo abalos semelhantes. Antigamente não se questionava a autoridade de tais funções, que eram tratadas com admiração e respeito incontestáveis. É claro que, muitas vezes, o sentimento em relação a elas era, também, o medo.

Ancorados a uma estrutura patriarcal, os papéis desses personagens eram claramente determinados e davam apoio às regras e às leis por meio das quais a ordem se instalava. Se, então, a posição de mestre se apoiava numa tradição forte, com valores rigorosos, e muitas vezes até rígidos, hoje o que se vê é uma elasticidade quase flácida nos limites que definem o lugar de cada um.

... No tempo do "lá vamos cantando e rindo", havia na parede do fundo da sala, mesmo diante dos nossos narizes pingantes de ranho, dois retratos: o do Carmona e o do Botas. É que não bastando a abstracta consigna "Deus, Pátria e Família" para fazer de nós gente útil a essa trempe, ali nos davam como faróis de boa guia, as ásperas trombas dos mandantes: a do fardado que não riscava nada e a do civil que em tudo queria mandar.
Entre os dois crucificava-se Cristo que não tendo nada a ver com a comédia, ali sofria entre o bom e o mau ladrão, como dizia o meu avô que era do "reviralho". Da panóplia faziam ainda parte uns quadros que mostravam como o país era antes e depois do Estado Novo, a "menina dos cinco olhos", na secretária do professor e o globo terráqueo, onde o mesmo senhor nos mostrava que Portugal, pequeno na Europa, era grande no mundo e a quem não soubesse, tim-tim por tim-tim, o nome das colónias e seus enclaves, rios e montanhas, o senhor professor (sempre ele) enchia-lhe a marmita de porrada.
E com tais adereços se armava a nossa querida escola, do necessário, para fazer de nós Homens. Tudo pela nação, nada contra a nação...

Noutra história intitulada "Uma vingança gorada", surge o senhor Sousa, estereotipo do professor mau e exigente, e o Sidónio, um dos seus alunos "favoritos".
... O miúdo tinha, dentro da sala de aula, um verdadeiro pavor ao docente e esse facto era motivo para se tornar numa das vítimas privilegiadas da palmatória que, além dos seus cinco olhos, ainda tinha uma tacha na ponta.
Na escola do senhor Sousa ninguém reprovava e, como ele dizia: "a palmatória, a régua e a vara, utilizadas na hora certa, faziam milagres, pois conseguiam o que não conseguia uma psicologia de ponta".
Até que um dia, por ter sido castigado injustamente, o Sidónio arquitectou uma vingança. Mas, quis o destino, que o senhor Sousa viesse a falecer enquanto o miúdo se preparava para lhe tramar a vida. Em vez de incendiar a escola, partir a palmatória ou rachar-lhe a cabeça à fisgada, como muito bem havia planeado, o Sidónio apenas foi roubar um ramo de flores ao cemitério e foi depositá-lo nas mãos do senhor Sousa que, dentro do seu caixão, na Capela, aguardava transporte para a sua terra natal...