1957
No
princípio do ano, o Sr. Ministro do Interior, enviou à "Sopa
Social" diversos géneros e agasalhos que o Centro de Assistência
Social da Freguesia da Benfeita agradeceu em telegrama expedido àquele
ilustre membro do Governo.
Em Fevereiro, uma senhora anónima, protectora da "Sopa Social",
ofereceu ao Centro de Assistência Social uma panela com capacidade
de 42 litros, para nela serem confeccionados os alimentos destinados
às pessoas mais necessitadas, que entre crianças e adultos, nessa
data, era de cerca de cinquenta beneficiários.
Por intermédio da Cáritas Portuguesa, recebeu o Centro de Assistência
Social da Freguesia da Benfeita, grande quantidade de manteiga, queijo,
feijão, farinhas de trigo e de milho e leite em pó, que foram distribuídas
pelas pessoas mais carenciadas da nossa freguesia, oferta da Cáritas
Americana.
Para o Centro de Assistência Social, receberam-se em Abril, do Sr.
José Gonçalves Matias, das Luadas, 30 quilos de massa; do Sr. Artur
da Costa Prata, 20 quilos de arroz; do neto do Sr. Amadeu da Costa
Prata, 10 quilos de massa e 10 quilos de arroz e, de um anónimo, 18
pratos de alumínio.
Em Maio, receberam-se 2 alqueires de milho do Sr. José Carlos das
Neves.
O Centro de Assistência Social recebeu, em Junho, da Sr.ª D. Assunção
Peres, do Monte Frio, 50$00, e do Sr. José Filipe, das Luadas, 60$00.
No
final de Outubro, a "Sopa Social" ainda não funcionava,
fazendo o correspondente do Jornal de Arganil, na Benfeita, um apelo
a todos os benfeitenses, para que enviassem donativos a fim de se
prosseguir, nesse novo ano lectivo, com um pouco de conforto aos alunos
mais necessitados.
Mas, no final do mês de Novembro, os pequenos já beneficiavam da sopa
em abundância, graças à boa compreensão das senhoras da Benfeita,
que se apressaram em entregar géneros alimentícios, tendo-se recebido
nessa data 100$00, de um anónimo cujas iniciais de seu nome eram L.N.A.
1958
Em
Janeiro, o Estado concedeu um subsídio de 5.000$00 ao Centro de Assistência
Social e um anónimo, cujas iniciais eram C.N.L. entregou, para o mesmo
fim, a quantia de 100$00.
No
dia 20 de Dezembro, em cerimónia muito simples, o Sr. Dr. Mário Mathias
fez entrega, em nome da Direcção Geral de Assistência, à menina Maria
Odete Quaresma Simões, de 21 anos, de um carro triciclo propositadamente
construído para atenuar a invalidez dos membros inferiores, e que
permite a sua deslocação pelas ruas e estradas, sem necessidade de
qualquer auxílio alheio. À simpática e caritativa entrega assistiram
os Srs. Alfredo Nunes dos Santos Oliveira, padre Joaquim da Costa
Loureiro e António Simões e as Sras. D. Maria Amélia Mathias Parente,
D. Maria Edite Ribeiro Saraiva e Zulmira Simões.
O
Jornal de Arganil, em 25 de Dezembro, publicava o seguinte apelo:
Aqui
Benfeita
Andamos
empenhados em dar mais vida ainda ao Centro de Assistência Social
da Freguesia da Benfeita. Ele foi criado para a freguesia inteira.
Por ele se canalizará o auxílio aos necessitados de toda ela.
Os jornais lembraram a extrema penúria do nosso conterrâneo
cego José Vicente, da Dreia.
A caridade não conhece fronteiras, é certo, mas seria vergonha
que os estranhos tivessem necessidade de lembrar mais uma vez
a desgraça dos que vivem à nossa beira.
Talvez te tenha sorrido a vida. Se não conseguiste o que ambicionavas
vives ao menos sem vergonha do mundo. O trabalho e sacrifício
duro a que te devotaste frutificaram e Deus ajudou-te bem mais
do que mereceste.
Não feches o coração ao infortúnio e envia com caridade cristã
e compreensão ao Centro de Assistência da Benfeita as migalhas
da tua mesa, para que os pobres possam ao menos ter pão, sustento
e agasalho capaz.
Manda o teu supérfluo: dinheiro, géneros, víveres, tecidos,
calçado, ainda que já usados. O pobre tudo agradece e tudo lhe
fica bem.
|
Uma
boa e nobre senhora que quis esconder-se no anonimato enviou-nos 170$00,
para socorro dos nossos pobres, em especial do ceguinho da Dreia.
O Sr. José Dias, de igual modo se tocou de caridade, fez colecta na
capital e deixou-nos os 227$50 desse peditório.
Bem hajam essas boas almas, que tão prontamente sentiram como suas
as mágoas dos desafortunados.
Elas sabem bem que Deus perguntará ao homem quando o mundo e as suas
coisas para ele já não existam se deu de comer ao faminto, agasalho
ao desnudado, carinho ao doente.
Ao estômago do pobre não se lhe pode dizer: espera pelo amanhã de
manhã. Precisa todos os dias. E só em obras de caridade vivas terá
o homem cumprido a sua nobre missão na terra e aproveitado a sua passagem.
Pelo
Centro de Assistência está-se desenvolvendo uma acção benemérita de
ajuda ao pobre com a distribuição de 50 refeições diárias. Por quanto
tempo isto será possível? Depende da tua compreensão e ajuda. Manda-nos
da tua batata, do teu feijão, do teu azeite ou gorduras. Ao comércio,
faria falta um saquito de massa de vez em quando? Faltará generosidade?
Tanto mono e coisas inúteis e invendáveis na estante ou balcão a ocupar
espaço ou arrumado aos cantos como tropeço e que tanto arranjo fazia
ao pobre! Se tens coração, lembra-te de nós. Manda ao Centro ou distribui
por tuas mãos. O Centro talvez conheça melhor que tu as mais prementes
necessidades.
1959
No
dia 1 de Janeiro realizou-se uma cerimónia na Escola do Areal, a que
presidiu a Srª Dª Fedora Zaffiri Mathias, esposa do Dr. Marcello Mathias,
para distribuição de enxovais a cerca de 20 crianças em idade escolar
e cobertores a diversas pessoas pobres.
Foi
também apresentado, neste mês, o relatório da gerência do Centro de
Assistência Social da Freguesia da Benfeita, referente ao exercício
de 1958.
Nesse relatório poderá ler-se: Graças a Deus e devido ao auxílio do
Estado, à compreensão e generosidade dos melhores filhos da terra,
dum modo especial os Srs. Drs. Marcello e Mário Mathias e suas famílias,
tudo se saldou, não ficando dívidas.
Foram distribuídas, apresentava o relatório, 14.000 refeições, 53
enxovais completos e 29 cobertores aos pobres.
Só para o cego Vicente, da Dreia, gastou o Centro de Assistência Social,
cerca de 700$00 de pão.
Em
Abril, distribuiu-se arroz, massa e feijão, resultante de uma subscrição
para a qual contribuíram os Srs. António Nunes Leitão e José Gonçalves
Mathias, com 100$00 cada; António Gaspar Pimenta e Afonso Baptista,
este do Cadafaz, com 20$00 cada, e José Dias, José Martins dos Santos,
António do Rosário Oliveira Dias, Joaquim Bernardo, António Martins
Pereira, Adelino Quaresma Gonçalves, Hermínio Filipe Dias, Manuel
Dias, António Simões Quaresma, Armando Gonçalves Pereira e José Bernardo
Leitão, com 10$00 cada.
E, das contas feitas, do almoço de homenagem ao Sr. António Gaspar
Pimenta sobraram 24$00 que reverteram a favor desta subscrição que,
assim, totalizou a quantia de 374$00.
Em
Maio começou-se a estudar a possibilidade de se criar um Posto Médico,
na Benfeita.
Para
a confecção da "Sopa" muito contribuíram os pais dos alunos,
principalmente aqueles que o podiam fazer, que mandavam pelos filhos:
azeite, batatas, hortaliça, feijão, etc.
1960
Em
19/03/1960, o jornal "A Comarca de Arganil", publicava a
seguinte notícia:
Uma
grande obra
se está a erguer na Benfeita
Benfeita,
15 - A direcção do Centro Social da Benfeita,
levando à frente o Sr. Padre Joaquim da Costa Loureiro,
pároco desta freguesia, avistou-se a semana passada com
o Sr. Governador Civil, a quem expôs o projecto da obra
que, como já noticiámos, se vai erguer na Benfeita,
mercê da benemerência do Sr. António Nunes
Leitão.
A
sede do Centro de Assistência Social da Benfeita ficará,
como se pode ver neste desenho, um belo edifício
O projecto da casa, que reunirá num só edifício:
o posto médico, refeitório e cozinha da Sopa dos
Pobres e residências para o professorado, mereceu ao Sr.
Engº Horácio de Moura plena aprovação
e palavras de louvor pelo arrojo deste povo em tentar procurar
bastar-se a si mesmo.
Como se trata, segundo Sª Exª, da primeira e uma das
melhores obras do género a erguer por um povo neste distrito
sob o seu governo, o Sr. Engº Horácio de Moura prometeu
já, antecipadamente, assistir à sua inauguração
e ajudar a efectivação desta obra na medida das
suas possibilidades.
O construtor, Sr. José Nunes dos Santos Oliveira, que
assumiu a responsabilidade da execução deste belo
edifício, não com intuitos lucrativos, mas para
contribuir também, generosamente, para que a obra seja
uma realidade, começou já a sua construção.
Benfeitenses:
temos de cerrar fileiras à volta desta obra que se efectiva
já, mercê da generosidade do Sr. Leitão.
Este grande benemérito acaba de nos comunicar que, além
da sua oferta, já de todos conhecida, mobilará
também o refeitório e a cozinha da Sopa dos Pobres.
Falta o recheio do resto, sobretudo o posto médico, cujo
apetrechamento, incluindo um aparelho de radioscopia, está
orçado em 52.813$00, além da ligação
eléctrica.
Há, graças a Deus, muito benfeitense com vida
desafogada. Não haverá quem se digne ofertar todo
este mobiliário e apetrechamento ou parte dele?
Acreditamos sempre, e o mundo habituou-se a acreditar também,
que o coração do benfeitense, onde quer que se
gaste, não esquece a sua amada terra, que aspira a ver
sempre cada vez mais bela e progressiva e para a qual nunca
a sua generosidade secou.
|
Em
Abril, houve conhecimento de que tinha sido assinada uma portaria,
pelo Sr. Ministro da Saúde e Assistência, que concedeu ao Centro de
Assistência Social da Freguesia da Benfeita a importância de 38.250$00,
como comparticipação para a compra do material necessário ao apetrechamento
de um Posto Médico, na Benfeita.
Este subsídio foi patrocinado pelo Sr. Dr. Marcello Mathias, então
Ministro dos Negócios Estrangeiros.
Por
ter falecido o Sr. Alfredo Nunes dos Santos Oliveira em Abril, foi
remodelada, em Maio, a direcção do Centro Social da Freguesia da Benfeita,
que ficou assim constituída:
Presidente, Dr. Mário Mathias; Vice-Presidente, padre Joaquim da Costa
Loureiro; Secretário, Artur Nunes da Costa (sobrinho) e Tesoureiro,
António Nunes da Costa.
Em
15 de Agosto, funcionou no Largo do Areal, no dia e na noite da festa
de Nossa Senhora da Assunção, uma barraca de "comes e bebes",
cujo produto da venda reverteu a favor do Centro de Assistência.
No
dia 1 de Novembro, foi inaugurado na Benfeita, um magnífico edifício,
que serve para a instalação do Centro de Assistência Social da Freguesia,
funcionando no rés-do-chão, a "Sopa Social" e o Posto Médico
e, o primeiro andar, com esquerdo e direito, serve de habitação para
os professores.
Este prédio foi mandado construir, a suas expensas, pelo Sr.
António Nunes Leitão, considerado o maior benemérito benfeitense,
onde gastou cerca de 100 contos, sendo o terreno necessário, oferecido
pelos Srs. Guilherme da Fonseca e José Bernardo Quaresma.
A sessão solene teve lugar no refeitório da "Sopa dos Pobres",
presidida pelo Sr. D. Manuel de Jesus Pereira, em representação do
Sr. Bispo de Coimbra, tendo a ladeá-lo um representante do Sr. Governador
Civil de Coimbra; o presidente da Câmara Municipal de Arganil, Sr.
Coronel Dr. Álvaro da Silva Sanches; a presidente da Comissão Municipal
de Assistência, Sr.ª D. Arminda Alves Caetano da Silva Sanches e o
Sr. professor José Maria Gaspar, que representava a Comissão Distrital
da União Nacional.
Falou, em primeiro lugar, o Sr.
padre Joaquim da Costa Loureiro, que agradeceu a comparência de
todas as autoridades presentes, depois de ter saudado o Sr. Bispo
Auxiliar de Coimbra.
O orador elogiou o povo da Benfeita, afirmando nunca ter servido um
povo tão compreensivo, generoso, dedicado e com tanta ânsia de progresso.
Seguidamente falou o ilustre benfeitense Sr. Dr. António Luís Gonçalves,
que disse:
«Muitos perguntarão porque
razão e a que propósito eu me encontro neste lugar. É que as vicissitudes
da minha vida têm-me forçado ao afastamento quase total das coisas
e das gentes da Benfeita. Levado por aspirações, aqui não realizáveis,
de cá parti por volta dos 12 anos e, desde então, apenas durante
algumas férias, que o tempo foi encurtando e tornando mais raras,
me foi possível contactar directamente com o meio, conviver de
perto com as pessoas, apreciar calmamente a beleza da sua paisagem,
saborear os encantos da sua vida simples, tranquila e acolhedora.
Durante os 9 anos que presidi aos destinos do concelho, no decorrer
dos quais me era aparentemente possível um contacto mais directo,
tive que repartir pelas 17 freguesias que o compõem, os esforços,
cuidados e afectos que a própria função despertava em mim. E,
em Coimbra, onde decorreu a maior parte da minha vida, é pequeno
e disperso o núcleo de benfeitenses. Apenas a casa de meus pais,
onde se vivem e viveram sempre, com amor e carinho, os problemas
da Benfeita e a amizade que me liga à numerosa família que aqui
conservo, mantiveram bem vivos e despertos os sentimentos que
me ligam à terra onde nasci.
Daí que, ao receber o convite do Centro de Assistência Social
para tomar parte nesta festa como pessoa da casa, eu sentisse
a sensação do regresso.
Regresso, na verdade, àqueles tempos de menino e moço, de que
me falam todos os recantos desta terra querida.
Regresso e encontro a Benfeita totalmente remodelada, progressiva
e acolhedora, como não era dantes.
Num relance, recordo muitos dos que mais contribuíram para o seu
engrandecimento por quem tanto por ela trabalhou.
Vejo na minha frente a figura veneranda de
Leonardo Gonçalves Mathias, criador de filhos ilustres, que
tanto haviam de honrar e prestigiar este pequeno burgo a dedicar-se
de alma e coração à construção da estrada, melhoramento que foi
princípio e condição de quanto de bom se iria aqui realizar.
Lembro Alfredo de Oliveira abnegado servidor da causa pública,
que durante 26 anos conduziu o pesado fardo da presidência da
Junta de Freguesia, dividindo a sua actividade e o seu incansável
zelo, por inúmeras realizações, que culminaram com essa grande
obra que é o abastecimento de água à povoação.
O padre António Quaresma, humilde e virtuoso sacerdote, a reconstruir
a igreja paroquial.
Um Dr.
Elísio da Fonseca, grande amigo da sua terra, sempre atento
aos seus melhoramentos, contribuindo para eles com esforço e com
dinheiro.
Eduardo Oliveira, que tendo partido para longes terras tão novo
ainda, nunca esqueceu o berço em que nasceu e, lá da América distante,
contribuiu sempre generosamente para os seus melhoramentos.
José Francisco Nunes, o grande agricultor da Califórnia, com doações
variadas e o seu contributo avultado e decisivo para a electrificação
da terra.
António Correia, o reformador das calçadas, contribuindo com avultadas
quantias para quantos melhoramentos foram levados a cabo.
Recordo os homens da
Liga de Melhoramentos, entre os quais se contam, além de alguns
já citados, José Rosa Gomes, Artur Oliveira, António Gaspar Pimenta
e José Bernardo Quaresma, todos irmanados no mesmo generoso desejo
de fazer maior a sua e nossa terra.
Por fim o
Dr. Mário Mathias, desde muito novo paciente e benemérito
investigador da história da Benfeita, o homem que esteve sempre
presente a ajudar e a orientar todos aqueles que se dedicaram
ao progresso e engrandecimento desta terra, que terminou por aceitar
o pesado encargo da presidência da Junta, sacrificando para isso
comodidades e interesses próprios.
Pois bem. Dentre todos esses e de outros que, sem desdouro, me
abstive de citar, destaca-se como um dos principais benfeitores
da nossa aldeia a figura de António Nunes Leitão.
E o lugar de honra que hoje lhe é destinado aqui, constitui merecido
prémio por tanto que tem feito por eles.
Não é este um homem nascido em berço de oiro ou por tal forma
bafejado pela fortuna, que tivesse surgido rico, como que por
encanto. Não.
Tendo saído da Benfeita, pobre de bens, mas rico de vontade e
persistência, começou a sua vida em luta e a lutar, conseguiu,
ao cabo de muitos anos de trabalho, amealhar o primeiro fermento
que, através duma administração discreta, sóbria e inteligente,
havia de proporcionar-lhe o desafogo de que hoje desfruta.
Dotado de coração bondoso, não foi preciso que as suas disponibilidades
atingissem o supérfluo, para que a sua generosidade se manifestasse
a plena luz.
Desde muito cedo as crianças das escolas foram objecto da sua
atenção e datam do tempo em que a vida para si era ainda uma incógnita
e o dinheiro lhe podia vir a fazer falta, as primeiras ofertas
de bibes e guloseimas.
Se são de agradecer e de louvar os dispêndios mais avultados com
que têm beneficiado as escolas e a mocidade escolar, ao longo
de muitos anos de prosperidade e abastança pessoal, são particularmente
dignas de registo aquelas dádivas, de uma economia débil e incerta
ainda.
Nelas se revela a plena luz o espírito do homem bom que, assoberbado
com os problemas da sua vida, encontra ainda tempo para pensar
nas dores do seu semelhante e para tudo fazer no sentido de os
minorar de algum modo.
Grande amigo da sua terra, manifestou sempre o maior interesse
pelos seus melhoramentos e se o vemos muitas vezes a colaborar
no esforço colectivo dos seus conterrâneos, presidindo, com o
maior zelo e sem se poupar a sacrifícios, à Liga de Melhoramentos,
ou contribuindo generosa e largamente para as grandes realizações,
como a estrada, a electrificação e o abastecimento de água, encontramo-lo
umas vezes a tomar, ele próprio, a iniciativa, fazendo a expensas
suas e sob o seu olhar vigilante, alguns melhoramentos reputados
de grande interesse público.
Falam-nos dessa desinteressada actividade o arranjo do Largo do
Areal, com os seus bancos e muros de resguardo, tão necessários
às crianças que ali usam brincar, a restauração do velho edifício
escolar, com a construção de dois gabinetes, o arranjo da Ponte
Fundeira, etc.
Por fim, melhor direi, por agora, nem a construção à sua custa,
do magnifico edifício hoje inaugurado que, além de resolver o
instante problema da residência dos professores, dará abrigo às
crianças, aos pobres e aos doentes.
Nele despendeu o Sr. Leitão a avultada soma de 100 contos.
Quem procede desta maneira, mostra ter, não apenas um coração
que sente, mas uma cabeça que sabe pensar.
Vivemos numa época que é lugar comum chamar-se, de feroz egoísmo,
mas a expressão não traduz toda a gravidade do mal dos tempos
presentes.
O que está em causa não é apenas o homem, nas relações do dia
a dia, mas o próprio cristianismo, tocado no mais fundo das suas
raízes.
Na verdade, assiste-se ao crescimento dum autêntico farisaísmo,
que atinge paradoxalmente muitas almas ditas de eleição.
Ora, nestes tempos de verdadeira confusão de valores, em que a
caridade perde tanto o seu superior sentido, faz bem meditar no
exemplo deste homem simples, que trabalhou, lutou e venceu; que
ama, compreende e perdoa; que podia rodear-se do maior conforto,
mas renuncia às comodidades que a vida lhe oferece, para se devotar
ao auxílio daqueles que de tudo carecem; que estima, acompanha
e assiste aos seus amigos, mas não esquece também os que o não
são e sem alardes, sem ostentações, na modéstia do seu viver tantas
vezes torturado, vai fazendo todo o bem que pode, sem nada pedir
em recompensa.
Que Deus o proteja, o ampare e cubra de graças, tantas quantas
ele, nos limitados recursos da sua natureza humana, procura conceder
ao seu semelhante.
António Nunes Leitão foi, sem dúvida, o maior benemérito da Benfeita,
tanto em dinheiro como em trabalho e nem sempre acarinhado como
merecia.» |
No
final do ano, por despacho do Sr. Ministro da Saúde e através da Direcção
Geral de Assistência, foram subsidiadas várias instituições particulares,
entre as quais o Centro de Assistência Social da Freguesia da Benfeita,
ao qual foram concedidos 8 contos.
1961
Com
a construção e doação do edifício ao Centro de Assistência Social
da Freguesia da Benfeita, ficou "em parte" resolvido o problema
de assistência às crianças em idade escolar, aos pobres e aos doentes
da freguesia. Digo "em parte", porque o edifício por si
só, não resolve totalmente este magno problema, pois apenas ficou
resolvido a parte das instalações.
Agora há que pensar na sua manutenção, até que apareça um benemérito
que doe ao Centro de Assistência um rendimento com que se possa acorrer
às mais prementes necessidades.
A Liga e a Comissão de Melhoramentos da Freguesia da Benfeita, tiveram
a feliz iniciativa de levar a efeito uma festa de confraternização
regionalista, que se realizou em Lisboa, na Casa da Comarca de Arganil,
Rua da Fé, 23-1º, no dia 28 de Janeiro, a favor do Centro de Assistência
Social da Freguesia da Benfeita.
Para o efeito foram nomeadas várias comissões, sendo a de Lisboa constituída
pelos presidentes das direcções das duas colectividades, a quem coube
a elaboração do respectivo programa, passagem de bilhetes e a tarefa
de andar de porta em porta, solicitando dos conterrâneos residentes
na capital e arredores e tudo, o mais necessário a um bom resultado
lucrativo.
Por sua vez, dentro de cada povoação que compõem a freguesia da Benfeita,
as comissões nomeadas, angariavam diversos objectos e géneros que
foram largamente disputados.
Para que fique para a posteridade, registaremos aqui os nomes das
pessoas que formavam as comissões nessas localidades:
Benfeita - António Bernardo Quaresma, António Nunes
da Costa, José Nunes dos Santos Oliveira, D. Maria Edite Ribeiro Saraiva,
professora da Benfeita; meninas Maria do Céu Oliveira, Ilda Prata
Bernardo, Celeste Martins Feiteira e Maria das Dores Simões.
Deflores - Américo de Jesus e Muguete Lourenço.
Dreia - Alfredo da Gama, José Augusto Moreira, Lucília
das Neves e Maria do Rosário.
Enxudro - António José, João Nunes, Marcelo Nunes da
Costa, Edite Fernandes e Alda da Conceição Duarte.
Luadas - José Gonçalves Matias, José Pereira, António
Dias da Costa Júnior, Elísio Dias Pereira, Alice Gonçalves Antunes,
Marcelina do Rosário Gonçalves e Carmina de Jesus Gonçalves.
Monte Frio - Manuel Custódio, Manuel Henriques, Mário
Simões, D. Gracinda Neves Mota, professora local, Suzete e Elisabete
Henriques Nunes, Eulália Custódio, Carminda Henriques, Délia e Maria
Fernanda Simões.
Pai das Donas - Manuel Custódio, José Nunes e Basílio
Figueira.
Pardieiros - Aurélio Fernandes, Filipe Maria Gomes,
Américo Duarte, Sr.ª professora Maria de Fátima Pereira dos Santos,
Maria de Jesus Fernandes e Aldina Fernandes.
Relva Velha - Adelino Nunes, Silvério Filipe, António
Castanheira, Maria Filomena, Ermelinda de Jesus Nunes e Germana Matias.
Sardal - Leonardo da Costa, José Simões, José Pedro,
Arlete Simões Pimenta e Adélia da Ressurreição Gonçalves.
A esta festa de confraternização, a favor do Centro de Assistência
Social da Freguesia da Benfeita, veio grande representação de habitantes
da nossa freguesia, que a Lisboa se deslocaram propositadamente, em
excursão, e se fizeram acompanhar das respectivas ofertas, angariadas
pelas comissões locais.
O leilão destas e de outras ofertas, foi feito pelo dinâmico Maico
dos Santos, de Ceiroquinho, que procurou tirar sempre o maior rendimento.
O lucro desta festa foi entregue totalmente à Direcção do Centro de
Assistência Social da Freguesia da Benfeita.
No
dia 22 de Outubro, o Sr. engenheiro Horácio de Moura, ilustre Governador
Civil do distrito de Coimbra, de visita à Benfeita, percorreu interessadamente
o edifício do Centro de Assistência Social, informando-se da acção
desenvolvida pelo Refeitório dos Pobres e pelo Posto Médico, tendo
prometido o seu patrocínio junto do Ministério da Saúde e Assistência,
para reforço do pequeno subsídio que nos era concedido, e ainda para
a conveniente aquisição de um aparelho de radiografia ou de radioscopia,
de que muito beneficiariam todos os habitantes da nossa freguesia,
como ainda os habitantes das freguesias vizinhas, que desejassem ser
observados através desses aparelhos.
1963
No
dia 20 de Setembro, realizou-se no Posto Médico do Centro de Assistência
Social da Freguesia da Benfeita, o radiorrastreio aos habitantes da
freguesia tendo comparecido 212 pessoas de ambos os sexos, dos 12
aos 80 anos de idade.
No
dia 22 de Dezembro, embora já funcionasse mas com pouca eficiência,
foi inaugurado o Posto Médico da Benfeita, instalado no edifício do
Centro de Assistência, com uma consulta médica semanal.
Essa consulta dada aos Domingos, pelas 10 horas, era feita gratuitamente,
pelo médico municipal de Coja, Sr. Dr. José Baptista Ferreira Júnior
e a enfermagem ficou a cargo do Sr. José Augusto Martins.
1964
Durante
o mês de Janeiro procedeu-se às eleições e tomada de posse dos corpos
gerentes do Centro de Assistência Social da Freguesia da Benfeita,
tendo ficado assim constituído:
Assembleia
Geral
Presidente - Ilídio Martins dos Reis
Secretários - José Bernardo Quaresma e José da Costa Prata.
Direcção
Presidente - Padre Joaquim da Costa Loureiro
Vice-Presidente - Dr. Mário Mathias
Tesoureiro - António Nunes da Costa
Secretário - José Carlos das Neves
Vogais - José Simões Feiteira e Manuel Simões
Substitutos
José Augusto Martins, José Nunes dos Santos Oliveira, José Martins
dos Santos e António Alberto Martins.
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