POETAS  DA  NOSSA  TERRA

LURDES DIAS "Cléo"

Filha de Abílio Dias e de Leonilde Anjos, Maria de Lurdes Dias é natural de Lisboa, onde nasceu em 27/05/1965. Com dois meses de idade, o seu pai, natural de Pai das Donas, resolve voltar com a família para a sua terra. Aqui se manteve rodeada de muito carinho até aos 18 anos de idade, altura em que deixa a vida difícil da aldeia e parte para a capital, em busca de um horizonte mais risonho.

Despertou para a poesia em 2005, já madura, com uma linguagem simples, delicada e envolvente, associando a palavra a uma imagem com fundo musical e utilizando a Internet como suporte para a sua escrita e veículo de divulgação dos seus poemas.

Aqui tem mantido uma presença discreta, assídua e merecedora de muitas manifestações de agrado, carinho e simpatia nos mais de 500 poemas já publicados.

A forma que escolheu para transmitir ao mundo as suas palavras carregadas de sensibilidade e sentimento, apenas é possível através do maravilhoso mundo áudio-visual da Internet, onde consegue despertar belos efeitos, de grande riqueza, nos nossos sentidos, impossíveis de transmitir num simples livro de papel, envolvendo, penetrando e conquistando quem lê os seus poemas.

Neste mundo virtual onde todas as pessoas escolhem um pseudónimo, Maria de Lurdes optou por Cléo, de Cleópatra, nome pelo qual é conhecida entre os poetas do ciberespaço português.

In Pulsos, livro de Lurdes Dias (Cleo)Com a descoberta das novas tecnologias e das ferramentas que as mesmas lhe proporcionavam para abraçar o mundo, não hesitou e começou a dar vida a um outro “eu” que habitava em si, mas que até então desconhecia… Criou o seu primeiro blogue na Internet, chamado ECOS, e mostrou-se ao mundo sob o pseudónimo de "Medusa", começando assim uma fascinante caminhada pelo mundo das letras. Mais tarde conheceu alguns sites de poesia e ingressou neles, partilhando os seus escritos singelos e que ao mesmo tempo ia publicando no seu blogue principal, IMPULSOS, no endereço de internet (http://impulsosdalma.blogspot.com). Participou em algumas publicações colectivas, mais precisamente nos livros: “A Arte pela Escrita”, “Colectânea 2008 Luso Poemas” e “Nas Águas do Verso”, todas elas promovidas pelos sites de que faz parte, Luso Poemas e EscritArtes.

Em 6 de Junho de 2009 lançou o seu primeiro livro "In Pulsos", em Lisboa, pela Editora Temas Originais.

 


O TEMPO QUE ME DEVORA

Foto: Vivaldo Quaresma

Tema musical: Pink Floyd [Time]

bservo os ponteiros
Daquele estranho relógio
Que saltitam alegremente,
Entre um minuto e o outro,
Esgueirado-se pelas horas
Dos dias sem retorno...

Cinco da tarde, em ponto.
São horas de alimentar a besta!
Sento-me à mesa
E espero que a lâmina afiada
Das horas esfomeadas,
Me rasguem a carne
E me engulam a alma
Em sôfregas garfadas.

O meu corpo envelheceu,
Os anos foram passando
Enquanto eu, distraída,
Esperava pelos dias melhores
Que afinal já passaram...

Mesmo errado
O relógio não pára!
E eu sou o repasto do tempo
Que me devora a cada instante!

A MINHA ALDEIA

erdida nos montes
Da serra do Açor
Pequenina
Mas sentada no seu belo trono
Altaneiro
Sempre atenta a tudo em seu redor
Eis que se encontra ela
A minha pequena aldeia...

Foi lá que cresci
Correndo por montes e vales
Como um pássaro solto
Em seu voo de liberdade total

Calcorreei caminhos
Por entre pinhais
Ao som do canto de um cuco
Que se escondia sempre de mim...
E do chilreio dos pardais
Sempre atarefados 
Pulando e esvoaçando
Daqui para ali...

Retenho na memória
Recordações da infância
Que vivi
Naquela pequena aldeia
Que me viu crescer
E me povoa a alma...

Casas de pedra
Ruas estreitas
Os quintais verdejantes
De mimos
Onde nem a salsa faltava...

A pequena capela
Onde por vezes se rezava uma missa
Em memória dos falecidos
E no dia da festa...

Desde a fonte até ao outeiro
Não havia casa 
Onde não tivesse um primo...
Eram todos primos
As gentes da minha terra!

E na beira da estrada
A caminho da eira cabeça
Lá estava ela
Desde sempre que a vi ali
A velha cerejeira
Por onde eu subia
E me sentava no ramo mais alto
Deliciando-me com as vermelhinhas
Gostosas e belas cerejas...

Já não a vejo lá agora
Ardeu com um fogo...
Um após outro
Foram morrendo os meus primos...
Os cucos e os pardais
Continuam por lá
Sei que ainda cantam
Em todas as Primaveras
Mas são já tão poucos os que os ouvem...

ECOS

erdida no meio dos montes
Da serra do Açor
Existe uma pequena aldeia
Altaneira
Orgulhosa do seu ver…

Cresci no seu colo
Feito de campos verdejantes
E de gente simples
Sempre muito atarefada
Nas lides do campo
Desde a sementeira
Até ao recolher
Tantas voltas que o milho leva…

Levantei-me com as galinhas
Carreguei molhos e molhos
Cestas e mais cestas
De dias atrás de dias…
À noite
Deitava-me com o cansaço
Que me açoitava o corpo franzino…

Lembro-me da minha avó
Mulher magra e risonha
Que me deixou tantas saudades…
Das histórias que me contava na hora da sesta
Sentadas no seu velho telhado de xisto
Abraçadas ao sol do Inverno
Que nos aquecia o corpo e a alma…
Costurava mais um remendo
Nas já tão gastas calças do meu avô
E dos seus lindos olhos
De um azul mar
Saía um brilho de alegria
De cada vez que lhe enfiava a linha no buraco da agulha…

Eram velhas histórias verdadeiras
De crianças pastoras
E de cordeiros nos dentes dos lobos
De tempos de miséria
Onde as bocas eram muitas
E a malga das batatas era só uma
Por isso não se falava à mesa…
Até de um eclipse
[coisa estranha, um mistério]
Que lhe roubou o sol ao meio dia…

Tenho tantas lembranças
Guardadas nas prateleiras da minha memória
E vividas num outro tempo
No meu berço de casas de pedra
E ruas de penedos lisos
Por onde eu corria sem medo.

Pai das Donas
É o nome da minha aldeia
Escondida do mundo
Entre montes e fragas
Que valem a pena!
Uma terra
Bem pertinho da Benfeita
Que guardo com carinho
Num cantinho especial
Dentro do meu sentimento…

Hoje revisito-me nesse tempo
Através dessas lembranças
Que me chegam ao pensamento
Como se fossem ecos…
Ecos de uma infância feliz!

Maria de Lurdes Dias
[Cléo]

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