Adeus, Pátria!
o
longe pálida e nua
Sobre o viso do alto serro,
Como um círio num enterro,
Saudosa desponta a lua.
Que triste agoiro! O canteiro
Que eu todo semeei de flores,
E que foi dos meus amores
Berço e túmulo primeiro;
Esses montes que se alteavam
Tapetados de açucenas,
Para que minguassem penas
Onde amores sobejavam;
E a frescura da ribeira,
Onde à tarde ao pôr do sol
Pipilava o rouxinol
Escondido na balseira;
E o toque da Avé-Maria,
Suspiro de mãe aflita,
Tão doce, que nem o imita
Uma rola ao fim do dia;
E os domingos de folgança
Em que ao pé da ermida se arma
Em festiva e doida alarma
Uma fogueira e uma dança;
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E aquelas tardes no rio,
Tardes e tardes inteiras,
Escutando as lavadeiras
A cantar ao desafio;
E aquela verde espessura,
Onde as pequenas da aldeia
Vão buscar a bilha cheia
De água a mais fresca e mais pura;
Tudo aí fica!... Um amante
Destes céus, deste luar
Como não há-de de chorar
Ao longe em terra distante!
Se tu és mãe de proscritos,
Se de teu lábio gentil
A minha boca infantil
Sorveu beijos infinitos!
Se os dias da mocidade
Lá os passei e vivi;
Ao ausentar-me daqui
Não hei-de sentir saudade?
Noites de eterna poesia,
Sonhar febril de criança,
Amor, ventura e esperança,
Tudo se acaba num dia!
José Simões Dias - "PENINSULARES" - 1870
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