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NOSSA SENHORA DO PERPÉTUO SOCORRO
Na
Igreja Matriz da Benfeita existe uma reprodução da imagem de Nossa Senhora
do Perpétuo Socorro, conhecida por Ícone da Paixão.
Esta imagem da arte sacra Bizantina foi oferecida pela Congregação dos
Missionários Redentoristas de Portugal, de Braga, em 20 de Dezembro
de 1998, existindo uma cópia, mais pequena, em quase todas as casas
da aldeia. Esta pintura pode parecer estranha aos olhos dos ocidentais,
por se tratar de um ícone da igreja ortodoxa; por isso aqui lhe quisemos
trazer a sua mensagem.
O uso dos Santos Ícones sempre foi uma das características mais
distintivas da Igreja Ortodoxa Oriental.
Nem todas as pessoas têm permissão para fazer ou pintar um Ícone, se
se tratarem de verdadeiros Ícones. O pintor de ícones deve ser um membro
fiel da Igreja, e deve preparar-se para a sua tarefa sagrada com jejum
e oração.
Não se trata somente de uma questão de arte, de habilidade artística
ou técnica. É um tipo de testemunho, uma profissão de fé. Pela mesma
razão, a arte em si deve ser subordinada de todo o coração à regra da
fé.
Há limites para a imaginação artística. O processo criativo na icnografia
Bizantina é limitado pelas regras de estilo, de fisionomia das figuras
religiosas, simbolismo das cores, posição das mãos e, tem até uma perspectiva
invertida, pois o ponto de fuga encontra-se fora do quadro.
Esta pintura relembra a
Virgem Maria como socorro dos cristãos, nas suas horas de necessidade.
Este quadro, existente na ilha de Creta, foi roubado durante as invasões
Napoleónicas tendo sido recuperado em Roma, 70 anos depois. Crê-se que o Papa Pio IX, no século XIX, entregou a pintura
original à Congregação do Santíssimo Redentor, não como um presente mas como uma missão, tendo-lhes
dito: "Fazei que Nossa Senhora do Perpétuo Socorro seja conhecida e venerada em todo o mundo"
e os Missionários Redentoristas abraçaram este desejo com todo o coração,
distribuindo reproduções da imagem e falando dela nas suas missões e homilías, por todo o mundo.
A imagem não retrata Maria como uma delicada
donzela de olhar meigo e deprimido; o seu olhar parece estar fixo em
nós e as suas feições determinadas chamam a nossa atenção. Ficamos um
pouco chocados com a falta de realismo das imagens pois Maria e Jesus
não estão posicionados numa cena mas colocados sobre um fundo de ouro
e Jesus, embora com o tamanho de um bebé, apresenta as feições de uma
criança mais crescida.
Embora se desconheça o seu verdadeiro autor,
presume-se que tenha sido pintado por São Lucas Evangelista. O propósito
deste estilo de arte não é mostrar uma cena ou uma pessoa maravilhosa
mas transmitir uma mensagem espiritual maravilhosa.
A pintura não é uma representação realista porque o artista tenta comunicar
alguma coisa mais gloriosa que qualquer outra coisa no mundo.
Uma pintura Bizantina é como uma porta. Ver uma porta maravilhosa é
bonito, mas quem deseja ficar ali apenas olhando para a porta? Nós queremos
abrir a porta e ir para além dela. A porta pode ser atraente, ou não,
mas é apenas uma porta, ali colocada para nos conduzir para um novo
mundo.
Esta deverá ser a forma de abordarmos esta pintura. O artista, tendo
consciência de que ninguém sobre a terra nunca terá sabido como realmente
eram Maria e Jesus, e que a sua santidade poderia, alguma vez, ser representada
em simples termos humanos, retratou a sua beleza e a sua mensagem em
símbolos.
Primeiro que tudo vemos
Maria, porque ela domina toda a pintura, ligeiramente inclinada sobre o Menino,
olhando para nós, directamente. Não olha para Jesus, nem para o céu, nem para os anjos sobre a sua cabeça. Ela olha
para nós como para nos transmitir alguma coisa muito importante. Os seus olhos parecem
sérios e tristes, e chamam a nossa atenção.
Sua expressão, embora
terna, tem um propósito, cheio de força e de atitude. Está pintada sobre um fundo em ouro,
símbolo da glória do Paraíso, onde a Virgem triunfa. Está vestida com um manto azul escuro
forrado a verde e uma túnica vermelha. Azul, verde e vermelho eram as cores da
realeza. Foi este o grau de importância dado, pelo artista, à figura de Maria;
pois, apenas a Imperatriz estava autorizada a usar essas cores. O manto azul escuro
é também interpretado como símbolo da maternidade e virgindade de Maria. Também
a túnica vermelha era distintivo das virgens no tempo de Nossa Senhora.
A estrela de Belém, de oito pontas, brilha sobre
a sua fronte e foi adicionada posteriormente para representar a ideia
Oriental de que Maria é a estrela que nos conduz a Jesus, ao porto seguro
da Eternidade. Para reforçar este simbolismo, existe um ornamento em
forma de cruz com quatro pontas à esquerda da estrela, no véu que lhe
cobre a cabeça. Também a auréola foi colocada em 1867, a pedido do Vaticano,
pelos milagres que lhe são atribuídos.
As iniciais em grego na parte superior, sobre a sua cabeça, proclamam-na
Mãe de Deus. Os seus olhos são grandes e voltados para nossas necessidades; sua boca pequena
significa recolhimento e silêncio. O olhar de Maria está fixo em nós, mas a
sua mão esquerda segura Jesus, significando apoio e sustento à humanidade.
Nos ícones Bizantinos, Maria nunca é mostrada sem
Jesus porque Jesus centraliza a Fé. Jesus também usa roupagens da realeza.
Apenas um Imperador poderia usar uma túnica verde, faixa vermelha na
cintura e os brocados dourados retratados na pintura. As iniciais gregas
à direita do menino e o seu halo decorado com uma cruz proclamam-no
Jesus Cristo.
Jesus não está a olhar para nós, ou para Maria, ou para os anjos. Embora
ele esteja agarrado à mão de sua mãe, ele olha para longe, para alguma
coisa que nós não conseguimos ver alguma coisa que o fez correr
tão depressa para a sua mãe que uma das suas sandálias caíu; alguma
coisa que o faz agarrar-se a ela para protecção e amor. Este pormenor
da sandália caída apela ao nosso consolo em Maria perante as dificuldades
e os atropelos da vida.
O que teria assustado tanto uma criança, mesmo sendo o Filho de Deus?
As iniciais, em grego, sobre as figuras em cada lado de Jesus e Maria
identificam-nas como sendo os arcanjos S.Miguel e S.Gabriel. Em vez
de transportarem harpas ou trombetas de louvor, eles sustentam os instrumentos
da Paixão de Cristo.
À
esquerda, o Arcanjo São Miguel, segura o cálice da Paixão com que os
soldados ofereceram a Jesus, crucificado, cheio de fel e vinagre; a
lança que lhe penetrou o peito e a vara com a esponja.
À
direita, o Arcanjo São Gabriel, mostra a cruz de 3 braços, à maneira
da Europa Oriental e os quatro pregos, instrumentos da morte de Jesus
usados na sua crucificação.
Jesus viu parte do seu destino, o sofrimento e a morte que irá sofrer.
Embora ele seja Deus, também é humano e receoso do seu futuro aterrador.
Correu para a sua mãe que o aperta contra o seu peito, neste momento
de pânico, da mesma forma que irá estar perto dele durante toda a sua
vida e morte. Embora não lhe possa evitar o sofrimento, ela sempre pode
amá-lo e consolá-lo.
Então porque é que Maria olha tão atentamente para nós em vez de olhar
para o seu filho necessitado? O seu olhar fixo faz-nos tomar parte na
história, na pintura e na sua dor. O seu olhar diz-nos que, tal como
Jesus correu para ela, e nela encontrou abrigo, também nós, nos podemos
socorrer em Maria.
A sua mão segura as mãos do seu filho assustado num aperto protector,
mas mantêm-se aberta, convidando-nos para pormos as nossas mãos na dela
e nos juntemos a Jesus, para nos lembrar que, tal como Ele se colocou
nas suas mãos evocando a sua protecção, agora, do Céu, Ele coloca cada
um de nós sob o mesmo terno manto de amor e protecção maternal.
Maria sabe que há muitas coisas perigosas e aterradoras nas nossas vidas,
e que algumas vezes precisamos de alguém a quem recorrer em tempo de
sofrimento e de temor. Ela oferece-nos o mesmo conforto e amor que deu
a Jesus. Ela diz-nos para corrermos para ela tão rápido quanto Jesus,
pois com ela e por ela, melhor enfrentaremos as adversidades da vida.

REFLEXÃO:
O quadro de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro
resume, em poucos detalhes, um leque enorme de mensagens de extrema riqueza de
informação. A pintura expressa símbolos altamente significativos da fé:
devoção mariana, Nascimento, Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo. A
figura do Menino Jesus remonta o seu divino Nascimento. Ao mesmo tempo, a
atitude do Menino diante da visão aterradora, O transporta à mesma sensação
que iria sentir no Monte das Oliveiras. Ele busca no colo de Maria, Sua Mãe,
socorro, protecção, consolo e segurança. Este é o ângulo do observador em
relação ao quadro. Um segundo ângulo, porém, do quadro para o observador, ou
de Maria para a humanidade, traduz um significado tão profundo quanto o
primeiro: Maria se coloca como referência diante dos nossos pecados,
intercedendo por nós junto a Jesus. Diante dos nossos sofrimentos, ela é o
nosso colo, a nossa segurança, o nosso Perpétuo Socorro. Olhando
para o quadro, ficamos a saber que ela tem o poder de interceder, no Céu, em
nosso favor.
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Veja também:
A Paixão
de Cristo - A visão de um médico sobre aquilo que poderá ter sido a
agonia de Jesus.
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