DR.  MARCELLO  MATHIAS

Filho de Leonardo Gonçalves Mathias e de Maria da Assunção Nunes Duarte Mathias, ambos naturais da Benfeita, Marcello Gonçalves Nunes Duarte Mathias, nasceu em Lisboa, na rua da Barroca, no Bairro Alto, em 15 de Agosto de 1903, tendo falecido na sua residência, no Estoril, em 9 de Junho de 1999, com 95 anos de idade. O seu corpo foi a sepultar no jazigo de família, no Cemitério do Estoril.

Formou-se em Direito com distinção, na Universidade de Lisboa, embora tenha concluído o seu curso, em Coimbra, em Julho de 1925. Foi nomeado Delegado do Procurador-Geral da República nas comarcas de Mértola e Alcácer do Sal, missão que abandonou para se dedicar só à advocacia, na capital, onde tinha escritório na Rua Garrett, 48-2º.

Em 1930, concorreu para os quadros "Diplomático" e "Consular", do Ministério dos Negócios Estrangeiros, tendo sido colocado, em Maio de 1931, como consul-adjunto, no Consulado Geral de Portugal, no Rio de Janeiro.

Em princípios de 1934 foi transferido para Paris como consul-adjunto e, em 1935, dirigiu durante algum tempo o Consulado Geral, em Atenas, cidade onde conheceu Mme. Fédora Charles de Zaffiri Duarte Mathias, de nacionalidade Grega, com quem casou em 09/03/1935, e teve três filhos: Leonardo Charles de Zaffiri Duarte Mathias, em 10/02/1936, Marcello Zaffiri Duarte Mathias, em 08/02/1938, ambos Embaixadores de Carreira, e Helena de Zaffiri Duarte Mathias, em 14/03/1945, que viria a contrair matrimónio com Floriano Berna Abecassis Schmidt. Teve 3 netos: Nuno Vaultier Mathias, Marcello Vaultier Mathias e Leonardo Bandeira de Mello Duarte Mathias, que também seguiram a carreira diplomática.

No mesmo ano, o Governo escolheu-o para o cargo de Secretário da embaixada de Portugal, em Londres.

Dr.Marcello MathiasEm 1938, foi delegado do Ministério dos Negócios Estrangeiros, ao Conselho Nacional do Ar.

Voltou, depois, ao Rio de Janeiro, como Secretário de 1ª classe, da Embaixada de Portugal, sendo promovido a Conselheiro de Legação, em Janeiro de 1945.

No ano seguinte regressou à capital, onde foi nomeado para exercer o elevado cargo de Director Geral dos Negócios Políticos e de Administração Interna, do Ministério dos Negócios Estrangeiros.

Foi nomeado por decreto para o lugar de Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário de Portugal em França, tendo tomado posse a 19 de Abril de 1948.

Foi embaixador de Portugal em Paris, durante 24 anos, somente interrompidos pelo período em que foi chamado ao Governo, para exercer o cargo de Ministro dos Negócios Estrangeiros, de 1958 a 1961, cargo que deixou de exercer em 1970 por ter atingido o limite de idade. A partir do final da sua Carreira, foi Administrador da Fundação Calouste Gulbenkian.

Ilustre diplomata e distinto homem de letras, gozando de merecido prestígio nos meios políticos e intelectuais franceses, foi condecorado no Eliseu, pelo Presidente da República francesa, René Coty, em Junho de 1958, com a Grã-Cruz da Legião de Honra (Grand'Croix de la Légion d'Honneur), na qualidade de Embaixador de Portugal em Paris.

Deve muito à habilidade e inteligência diplomática de Marcello Mathias, o resultado favorável da complexa negociação que permitiu a vinda para Portugal do valiosíssimo espólio artístico que Calouste Gulbenkian possuía em Paris, uma tarefa para a qual contribuiu a sua grande influência junto do poder político francês da época.

Entre outras condecorações e honrarias recebeu também, em 1958, a Grã Cruz da Ordem Piana da Santa Sé (Pio IX), das mãos de Sua Santidade o Papa João XXIII, o que traduz o apreço do Sumo Pontífice e testemunha o elevado prestígio de que gozava no estrangeiro.

Em 1959, foi homenageado pela Câmara de Comércio Francesa, no Hotel Avis, em Lisboa, pela sua notabilíssima acção de diplomata insigne, como Embaixador de Portugal, em Paris, onde deixou assinalada a sua passagem de maneira singularmente prestigiosa para Portugal, como homem de Estado e grande amigo de França, o que lhe valeu uma consagração excepcional por parte do Governo francês.

Em Novembro, deste mesmo ano, foi agraciado com as insígnias da Grã-Cruz da Ordem do Sol pelo Governo do Peru, no salão de festas do Hotel Ritz, das mãos do Embaixador daquele país, em Espanha, Dr. Manuel Cisneros, em nome do Presidente da República Peruana, e seu amigo pessoal, Dr. Manuel Prado.

Livros publicadosEm 1960, foi agraciado pelo Governo Espanhol com as insígnias da Grã-Cruz da Ordem de Isabel, a católica, aquando da sua visita oficial a Espanha.

Em 11/05/1967 foi agraciado pela edilidade parisiense com a medalha de oiro da cidade de Paris, onde era considerado "o mais parisiense dos embaixadores", sendo a primeira vez que tal distinção era concedida a um embaixador estrangeiro, entre os 103 acreditados em França, na época.

Figura prestigiosa da diplomacia portuguesa foi agraciado com a medalha naval de Vasco da Gama, pelo Ministério da Marinha, em Julho de 1973.

Foi, ainda, condecorado Cavaleiro da Ordem de Cristo (04/11/1931) e agraciado com as Grã-Cruzes da Ordem de Cristo (17/05/1945); da Ordem do Infante D. Henrique (03/01/1961); da Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul, do Brasil (13/11/1946), e a comenda da Ordem Militar de Santiago de Espada do Mérito Científico, Literário e Artístico "Grand'Croix de l'Ordre Militaire de Sant'Iago de l'Epée" (08/10/1945).

Poeta, ensaísta e escritor de mérito, foi um valor acrescentado na história do concelho de Arganil e do próprio país, não restringindo a sua acção ao exercício da diplomacia.

Publicou, entre outros: "Doze sonetos e uma canção", no Rio de Janeiro, em 1943, tendo tido várias edições, e "Correspondência Marcello Mathias/Salazar (1947-1968)", em 1984, com prefácio do Prof. Dr. Veríssimo Serrão.

Em Janeiro de 1973, a Livraria Bertrand editou, em Lisboa, o romance "Lusco-Fusco", cujo manuscrito mantinha para leitura há mais de três anos, da autoria de Pablo La Noche, pseudónimo enigmático de um escritor desconhecido e que viria a ser o vencedor do prestigiado Prémio Ricardo Malheiros, da Academia de Ciências, tendo sido muito elogiado por Urbano Tavares Rodrigues.

Placa toponímica no EstorilEm 1976, a obra foi traduzida para francês e editada em França, pela Robert Laffont, com o título "Pablo La Noche" (narrador e personagem central do romance), já com a autoria atribuída a Marcello Mathias, tendo-lhe valido o Prémio Rayonnement Français da Academia Francesa.

Em 2008, a Editora Quetzal traz de volta o romance de Marcello Mathias, dando eco a uma voz que os tempos da Revolução de Abril não deixaram ouvir.

O Embaixador Marcello Gonçalves Nunes Duarte Mathias mereceu honras toponímicas e um justo reconhecimento público no local onde faleceu, no bairro de Santo António, Estoril, concelho de Cascais.

VIVALDO QUARESMA

Veja também:
Poetas da Nossa Terra
Memória de Embaixador
Entrevista por Francisco José Viegas, a propósito do livro "Correspondência"
Entrevista "Rádio Comercial"
Homenagem póstuma ao Embaixador