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Foi nomeado
para as paróquias da Benfeita e da Cerdeira em 22 de Dezembro de 1957, tendo tomado posse em 12
de Janeiro de 1958. Veio de Anobra (concelho de Condeixa-a-Nova) para substituir o Padre José
Rodrigues Redondo, que foi para Pelariga (Pombal). Mais tarde, foi também nomeado para a paróquia
da Teixeira, em 23 de Janeiro de 1966.
Dirigiu o Jornal Paroquial "O Facho", sendo responsável
por todas as actividades com ele relacionadas, desde a recolha de informações e redacção, passando
pela montagem, até à gestão e administração. Neste jornal soube promover a Vida Cristã, com
humanidade e inteligência, através da explicação da Palavra de Deus, aplicando-a a situações
concretas da vida quotidiana.
Ao seu espírito religioso e empreendedor, à sua dedicação e boa vontade, se devem os melhoramentos
realizados na nossa matriz paroquial, na reconstrução da antiquíssima capela de Nossa Senhora da
Assunção, o mais antigo templo da nossa freguesia e certamente a sua igreja primitiva, a par de
outros melhoramentos de menor vulto realizados em outras capelas e no Santuário da Senhora das
Necessidades, mas igualmente demonstrativos das suas qualidades de sacerdote devotado aos interesses
religiosos da freguesia.
Em Agosto de
1961, o Padre Loureiro foi figura de destaque no combate ao grande incêndio
que lavrou na nossa freguesia, pela coragem e determinação com que trabalhou
incansavelmente para dominar as chamas; uma verdadeira lição de amor
ao próximo e solidariedade humana. Os prejuízos foram, no entanto, elevadíssimos
para a região em pinheiros de sangria, oliveiras e eucaliptos, colmeias,
abrigos e barris de resina.
Em Setembro de 1965, após a inauguração da renovada Igreja de Nossa Senhora das Necessidades, o
Padre Loureiro promoveu, entre os seus paroquianos, a realização de uma plantação de árvores no
terreiro do Santuário. Esta inédita e simpática ideia teve um óptimo acolhimento, entre os devotos
de Nossa Senhora, que transformaram o dia da arborização do Santuário num verdadeiro dia de festa.
Saiu da Benfeita, a seu pedido, em 1976, tendo sido substituído pelo Padre Carlos da Cruz Cardoso.
Regressou à sua terra natal, onde assumiu a titularidade das paróquias de Sepins e Murtede. Faleceu
com 75 anos, no Hospital de Universidade de Coimbra, vítima de cancro na pele, em 20/02/1989.
A
OBRA DO PADRE LOUREIRO
A
obra do Padre Joaquim da Costa Loureiro foi reconhecida pela
comunidade benfeitense numa modesta cerimónia organizada pelo
Grupo Sócio Caritativo e realizada na sacristia da Igreja de
Santa Cecília, em Novembro de 1986, tendo sido descerrada uma
lápide comemorativa.
O Grupo
Sócio Caritativo era uma estrutura social que deu origem ao
actual Centro Social Paroquial, e que foi criado por iniciativa
do Padre António Dinis, com o apoio e dinâmica da Cáritas Diocesana.
Nesta cerimónia o Padre Loureiro esteve presente e foi convidado
a consagrar missa com o Padre António Dinis, mostrando, já,
sinais evidentes de debilitação física.
Ao Padre
Loureiro, a comunidade benfeitense deve, entre outras, as seguintes
iniciativas:
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Reconstrução,
restauração, conservação e embelezamento dos templos religiosos
da freguesia.
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Construção
das escadinhas de Sta. Rita, no bairro do Tanque.
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Desenho
e direcção de obra, das alminhas da Ponte Fundeira.
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Projecto
e construção do nicho-monumento à Senhora dos Caminhos.
-
Edição
do jornal paroquial "O Facho" que durante vários
anos foi o elo de ligação de muitos benfeitenses ausentes,
à sua terra natal, e que ajudou a levar o nome da aldeia
às paragens mais remotas, no país e no estrangeiro.
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RECORDANDO
O PADRE LOUREIRO
Por ocasião da
comemoração das suas Bodas de Prata Sacerdotais, todo o povo da freguesia
da Benfeita viveu as comemorações com a maior intensidade e se associou
a elas com o maior entusiasmo, tendo, o Padre Loureiro, publicado no
jornal «O Facho» a seguinte nota de agradecimento:

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Fonte: O Facho
Publicação: Ano III - Nº 35
Data: Novembro 1965
Autor: Padre Joaquim da Costa Loureiro |
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Obrigado,
senhores! |
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Quem
sou e que fiz para merecer tamanha onda de simpatia, de
admiração e agradecimento?!
Não tenhamos ilusões. Como homem,
sou um nada. A figura humana será sempre um zero na dimensão
do mundo.
Dizia com acerto alguém, de glorioso
nome, dos começos deste século: «Não creia ninguém no
reconhecimento político dos homens nem na gratidão dos
povos: Vá, sim, tratando cada um de caminhar fazendo o bem
que possa, mas sem se alimentar com aquela ilusão».
Trabalhei? É certo, mas nisso está
a condição e nobreza do homem que não quer ser inútil às
gerações do seu tempo, pondo em acção os talentos de que
Deus o dotou.
Fiel ao dever? Sim, tanto quanto o
saber e as forças lho consentiram ou venham a consentir, mas
tudo isso nada tem de heróico que valha os atavios de que me
enlearam. Cumpri apenas um dever. E se louvores alguém merece,
sois vós, povo meu, que, sabendo compreender, soubeste
ajudar. Sem vós, que haveria feito este pobre de Cristo?
Obrigado, senhores!
A união comum fez nascer a obra e
esta é a glória de todos pelos reflexos de eternidade que em
si encerra.
Mas, por graça de Deus, sou padre.
Ora o sacerdote é uma configuração
ontológica de Cristo e uma participação efectiva do seu
Sacerdócio Eterno, e esta não se limita a um mandato
exterior, é, antes, uma consagração autêntica, verdadeiro
poder, sinal indelével da virtude sacerdotal de Cristo.
E, assim, o sacerdote é, como bem
diz um célebre pensador, «aquele homem que não tem família
mas que pertence à família de todo o mundo; que se invoca
como testemunha, como conselheiro ou como agente em todos os
actos mais solenes da vida; sem o qual ninguém pode nascer
nem morrer; que toma conta do homem no seio materno e não o
larga senão na campa; que benze ou consagra o berço, o laço
nupcial, o leito da morte e a tumba; o homem que as
criancinhas se afazem a amar, respeitar e temer; aos pés do
qual os cristãos vão derramar as suas mais secretas
lágrimas; um homem que é por ofício, o consolador de todas
as dores da alma e do corpo; o medianeiro forçado da riqueza
e da indigência; que vê o pobre e o rico vir alternadamente
bater-lhe à porta; o rico para liberalizar a esmola; o pobre
para a receber sem rubor; que, não sendo exclusivo de grau
algum social, pertence igualmente a todas as classes, às
inferiores por sua vida pobre e muitas vezes pela humildade do
seu nascimento e às altas classes pela educação, pelo saber
e pela nobreza de sentimentos que uma religião toda de amor
inspira e manda; um homem, finalmente, que sabe tudo e tem
direito de tudo dizer e cuja palavra cai do alto sobre as
inteligências e os corações, com a autoridade duma missão
divina e com o império duma fé sem réplica».
Ser assim outro Cristo no mundo é,
sem dúvida, atrair as atenções do mundo, estar disposto às
hossanas dos Domingos de Ramos, como às dores das
Sextas-Feiras de Paixão, como é sentir também os triunfos
da Ressurreição.
Isso, sim, é glorioso e foi isto,
só isto que vós, crentes fiéis, quiseste glorificar ao
findar deste quarto de século ao serviço da grei, na esfera
do Grande Rei.
Aquele cálix de simbolismo tão
profundo: - a Trindade, o mundo, o calvário que o remiu pelo
sangue redentor de Cristo e o seu prolongamento na renovação
perene, por este outro sacrifício do pão e do vinho, prefigurado
em Melquisedeque - encerra toda esta verdade. Deus vos pague,
irmãos. Ele será para mim a eterna lembrança deste povo
bom, crente, generoso, heróico e esforçado como nenhum
outro, que soube alevantar-se perante Deus e os homens numa
grandeza moral difícil de igualar.
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Cálice
em prata dourada oferecido ao Sr.Padre Joaquim da
Costa Loureiro, pela população da freguesia da
Benfeita
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Obrigado também a vós, cerdeirenses,
que nesta onda de carinho e compreensão não quisestes
estar ausentes. Na candura da vossa oferta vinha a delicadeza
da vossa alma:
"Nas
bodas sacerdotais
Do nosso querido Pastor
Trazemo-lhe uma lembrança
Símbolo do nosso amor». |
Obrigado a todos os que de perto e de
longe se dignaram, com tanta amizade, testemunhar o seu
afecto.
Desculpai que use deste meio para vos
agradecer a todos.
Não quero deixar de fazer uma menção
muito especial de agradecimento ao meu Bispo, a quem devo
tantas provas de simpatia e compreensão que têm sido e são
estimulo reconfortante nesta ascensão tão difícil do
calvário da vida; ao Sr. Dr. Mário Mathias, alma aberta, e
leal, profundamente crente e actual nas andanças benfeitenses;
o impulsionador e construtor máximo de todo este surto de
progresso, que arrancou a freguesia à apagada vil tristeza
dum abandono de séculos e fez dela a aldeia mais progressiva
da terra portuguesa, que lhe dá jus a ser considerado, sem
favor, o maior benemérito benfeitense. Nele se entronca
também esta homenagem ao Pároco da Benfeita, de quem foi
autor.
A Sua Exa. se deve ainda a urdidura
da feliz campanha que levou a termo glorioso, a reconstrução
da Igreja do Santuário.
Bem-haja, Senhor Doutor, e que todos
os seus patrícios saibam reconhecer quem tanto por eles tem
trabalhado no silêncio actuante do seu gabinete. As grandes
vitórias começam por estruturar-se no segredo laboratorial
dos gabinetes, antes que sejam decididas nos campos de
batalha.
Muito me apraz ainda englobar neste
meu reconhecimento o povo da minha terra - Pampilhosa - que,
com as suas autoridades concelhias e paroquiais, quais
romeiros da saudade, quiseram com a sua presença, e em tão
grande número, testemunhar-me afectos tão nobres, apesar duma
ausência de convívio já de 18 anos.
E não contentes com isso quiseram
ainda glorificar, na minha pessoa, em 24 de Outubro, em
romagem igualmente célebre e única no seu género nos anais
da sua história, os esplendores do sacerdócio.
A recepção em massa no largo do
Freixo, apesar da inclemência do tempo, a Missa Solene em
cenário de comoção na união das três comunidades
paroquiais em festa - Benfeita, Cerdeira, Pampilhosa; a
sessão solene, onde tanto de belo foi dito por tantos
mestres; o jantar de confraternização - ecoarão no meu e
vosso espírito, por toda a vida como um marcar de posições
e baliza de nova e solene arrancada para novos e mais
gloriosos rumos da presente e futuras gerações.
Que Deus fecunde a semente lançada
à terra e a faça germinar em clarões de fé e de amor.
O Senhor, para quem vão os louvores,
vos pague e abençoe.
E, como me dizia o Senhor Arcebispo
de Mitilene, meu Prefeito e Professor: «rezemos uns pelos
outros».
P. Loureiro
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QUADROS VIVOS DA FIGURA SINGULAR DO PADRE
LOUREIRO
De acordo com o testemunho de José Bernardo Quaresma, que o conheceu
de perto e bem, o Padre Loureiro era um homem muito culto, calmo no falar e nunca
se exaltava, sendo estimado por toda a gente.
«Quando chegou à Benfeita trazia, na sua "bagagem", uma bancada de carpinteiro e uma
enorme quantidade de ferramentas manuais.
Era um homem muito activo e sabia tudo sobre agricultura. Tinha um
aviário e era um exímio apicultor, fazendo ele próprio, em madeira,
as suas inúmeras colmeias. Viveu sempre na residência paroquial e poucas vezes
se ausentou da Benfeita, vivendo a sua paroquialidade a tempo
integral, tendo a sua porta sempre aberta para quem o quisesse ver, receber
um conselho ou uma palavra amiga. Era um padre muito popular e
participava em todas as ocasiões festivas, nunca recusando um
convite.
Empenhou-se activamente na reconstrução das Capelas de Nossa
Senhora d'Assunção, Senhora da Guia e Senhora das Necessidades, e
nos melhoramentos introduzidos na Igreja Matriz e nas Capelas de Santa
Rita e Senhor dos Passos. Ele próprio projectava as obras e os
melhoramentos, orientando e coordenando os trabalhos e participando
activamente como trabalhador experiente e incansável.»
Depoimento de António Quaresma Martinho:
«Embora tivesse estado ausente da Benfeita, durante o período em
que o Padre Loureiro aqui paroquiou e, por conseguinte, não ter
testemunhado directamente a sua acção pastoral nesta freguesia,
posso, no entanto, fazer eco da expressão do sentir deste povo que o
respeitava e muito admirava. A lembrança do Padre Loureiro ainda
provoca, hoje, uma agradável recordação às pessoas que com ele
conviveram e que dele nunca mais se esquecerão.»
Depoimento de Artur Nunes da Costa:
«O Padre Loureiro era um homem digno e um prior exemplar. Era,
também, um óptimo mestre, possuidor de vastos e variados
conhecimentos. Era um profundo conhecedor de agricultura e partilhava
os seus conhecimentos com toda a gente. E os seus conhecimentos não
eram só teóricos: ele próprio cultivava a terra, sendo frequente
vê-lo de enxada na mão e com as roupas todas sujas de terra. Também
gostava de caçar e tinha um aviário com frangos e galinhas. Criava
coelhos e abelhas, tendo muitas colmeias espalhadas pela serra.
O seu interesse por estas coisas constituíram um enorme incentivo para
as pessoas da terra que, assim, se sentiam muito apoiadas, e
identificadas, no padre. E,
isto, teve um efeito psicológico muito positivo nas pessoas cá na
terra, o que facilitou muito a sua vida como pároco.»
Depoimento de António Alberto Martins (Mina):
«Acompanhei muito de perto a acção do Padre Loureiro, na
Benfeita, e posso garantir, sem qualquer sombra de dúvida, que o
Padre Loureiro granjeou a estima e a simpatia de toda a gente desta
terra, tendo deixado uma forte recordação e uma enorme saudade. O
seu envolvimento pessoal na reconstrução das capelas arruinadas, o
seu exemplo de dedicação e trabalho, o seu desempenho sacerdotal e a
sua inteira disponibilidade para ajudar, orientar e conciliar o seu
"rebanho", fizeram dele um "pastor" muito
respeitado e querido.»
Depoimento de Revº Padre Dr.António Dinis:
«O Padre Loureiro foi, acima
de tudo, um sacerdote que muito dignificou a sua função de padre, de
apóstolo de Cristo e de membro do Presbitério da Diocese de Coimbra.
Trabalhou muito na área da Catequese e da Liturgia, sobretudo no Grupo
Coral, e soube manter vivas as estruturas paroquiais, dando especial
atenção ao arranjo e restauro das igrejas e capelas.
Deixou uma boa memória nas populações da Benfeita, da Cerdeira e da
Teixeira como pároco e como amigo.
Era, por assim dizer, um padre lavrador que trabalhava a terra e criava
animais e comprava e vendia gasóleo; pois que, como a maioria dos padres daquela época,
ele próprio, tinha de
organizar a sua subsistência, de alguma forma. Eram os condicionalismos
próprios da vida de pároco de aldeia.»
TERÁ O PADRE
CAÍDO NO ESQUECIMENTO?
A
obra do Padre Loureiro é apenas do conhecimento da camada etária mais
idosa da Benfeita, por cuja memória sentem grande estima e simpatia.
Uma das sugestões que nos foi apresentada foi a divulgação da sua obra
nas escolas da região, de modo a sensibilizar os jovens para os valores
culturais da Freguesia da Benfeita.
É nosso dever e preocupação apelar a todos os benfeitenses, principalmente
àqueles que tiverem mais influência na sua época (política, económica
e social), pela necessidade de glorificar a memória do Padre Joaquim
da Costa Loureiro.
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