NA BENFEITA
foi inaugurada
a Casa Regional
com a presença
do Sr. Governador Civil de Coimbra
Foi dia de festa na Benfeita
o último sábado. E a festa justificava-se não só pela aquisição
de mais um factor de valorização da terra - a Casa Regional
- como ainda pelo que aquele empreendimento significa de vitalidade,
de manifestação de validade de um povo que prima em mostrar
o seu bairrismo. Bairrismo é, realmente, a melhor definição
da obra inaugurada. Tanto mais que, um investimento total de
duzentos contos, que foi quanto custou, aproximadamente, a Casa
Regional, não teve qualquer comparticipação oficial, mas apenas
tudo foi produto da generosidade do povo, da persistência, do
entusiasmo dos dirigentes da Liga de Melhoramentos da Freguesia
da Benfeita.
Festa, pois, inteiramente justificada,
a do povo da Benfeita, que, como muito bem se disse na sessão
inaugural, está de parabéns. Parabéns que A Comarca de Arganil
não lhe regateia, antes faz questão de reiterar, como os apresentou,
pela voz do seu representante que gostosamente se deslocou à
Benfeita no último sábado.

Teve a inauguração da Casa Regional
da Benfeita a honra da presença do Sr. Governador Civil de Coimbra,
Eng. Leopoldo da Cunha Matos, e do Sr. presidente da Câmara
Municipal de Arganil, professor José Dias Coimbra.
Presentes também, entre outras
pessoas, os Srs. Dr. António Luís Gonçalves, secretário da Universidade
de Coimbra e natural da Benfeita; Dr. António José Parente dos
Santos, presidente da Comissão Concelhia da Acção Nacional Popular;
Eng. Manuel Dinis Pinheiro, vereador municipal; Dr. Alberto
Ferreira, director da Escola Técnica de Arganil; Dr. Armando
Dinis Cosme, médico municipal de Côja; António Gaspar Pimenta,
António Bernardo Quaresma e Sérgio Martins, da direcção da Liga
de Melhoramentos da Freguesia da Benfeita; Eng. Ângelo da Fonseca
Rosário, presidente da assembleia geral da mesma colectividade;
José Bernardo Quaresma, José Dias e José Nunes dos Santos Oliveira,
da delegação da Liga da Benfeita, o último representando ainda
a Junta de Freguesia com os Srs. António Nunes da Costa e José
Gonçalves Matias; padre Joaquim da Costa Loureiro, pároco da
freguesia; Manuel Augusto Antunes Figueira, António Nunes dos
Santos (Alípio), Vitor Gonçalves Filipe e António Filipe, da
Comissão de Melhoramentos dos Pardieiros; António Duarte, José
Francisco da Costa e António Martins dos Santos, da Comissão
do Sardal; António da Costa, da colectividade do Enxudro; José
Ramos Antunes, da Comissão de Melhoramentos de Luadas; Vitor
Alves da Silva e Afonso Augusto Fernandes, da Comissão de Melhoramentos
e Beneficência do Pisão; Adelino Antunes dos Santos, José de
Deus Sequeira Padre, Carlos Alberto Bernardo, José Gomes Simões,
António Quaresma, Ângelo de Jesus, Fernando Ferreira, António
Martins Pereira, Acácio Gonçalves, comandante António Nunes
da Costa, José Macedo Santos, Adelino Martins dos Santos, Joaquim
Bernardo, Augusto Gaspar, Aurélio Simões Quaresma, Marcelo Martins
Pereira, José de Assunção Alves e António Gonçalves Feiteira,
benfeitenses vindos propositadamente de Lisboa, com seus familiares;
António Rosário Dias, Alberto Bernardo Dias, Eduardo Dias, Manuel
Simões, Artur do Rosário, Hermínio do Rosário Dias e Marcelo
do Rosário Oliveira, benfeitenses que se deslocaram de Coimbra,
etc…
De anotar, ainda, a presença
de muitas pessoas residentes na Benfeita e povoações da freguesia,
entre as quais muitas senhoras.
A Filarmónica de Vila Cova do
Alva contribuía para realçar o aspecto festivo do acontecimento.
Tal como a presença de uma representação da Associação dos Bombeiros
Voluntários de Côja, em traje de gala, com o respectivo estandarte.
Algumas dezenas de pessoas, em
vários automóveis, foram esperar as entidades oficiais à Ponte
da Baralha, limite da freguesia.
E eram cerca de 16 horas e 20
minutos quando o Sr. Governador Civil de Coimbra chegou a Benfeita.
Logo a Filarmónica de Vila Cova do Alva irrompeu executando
as estrofes do hino da
Maria da Fonte e no ar estralejaram foguetes.
Trocados cumprimentos, seguiu-se
em cortejo até à Casa Regional, em cuja entrada o Sr. Governador
Civil cortou a fita que simbolicamente a vedava, com uma tesoura
que lhe foi entregue pela menina Maria da Graça Nunes Dias.
Voltaram a estralejar foguetes
e os presentes sublinharam a cerimónia com uma salva de palmas.
Foram então percorridas as instalações
da Casa - um amplo salão, com palco, dois camarins, um bufete
com cozinha e dois sanitários.
Realizou-se em seguida uma sessão
solene, a que presidiu o Sr. Eng. Cunha Matos, ladeado pelos
Srs. professor José Dias Coimbra, Dr. António Luís Gonçalves,
Dr. Parente dos Santos, Sérgio Martins e José Dias, à direita;
e Eng. Ângelo Rosário, padre Joaquim da Costa Loureiro, António
Gaspar Pimenta, José Bernardo Quaresma e Dr. Alberto Ferreira,
à esquerda.
Usou da palavra, em primeiro
lugar, o Sr. Eng. Ângelo Rosário, como presidente da assembleia
geral da Liga de Melhoramentos da Freguesia da Benfeita, que
disse:
«Reunimo-nos hoje, aqui,
para proceder à inauguração desta Casa de Recreio, e não deveria
ser eu a dirigir-lhes a palavra; porém, as circunstâncias, que
não o meu desejo, assim o ditaram.
Esta Casa, aos olhos de uns será obra grande, aos de outros,
bem modesta; para outros, ainda, será obra útil e para outros
supérflua; é uma questão de ponto de visita. Porém, uma coisa
ela é de facto, e quanto mais não fôra, só por isso, motivo
de orgulho: é uma obra da contribuição voluntária de todo o
povo da freguesia da Benfeita.
E digo de todo o povo porque, julgo poder afirmá-lo, todos contribuíram:
presentes e ausentes, residentes ou não e até outros que não
têm quaisquer laços, além dos da amizade, com esta freguesia;
todos, com a sua parte, em dádivas, trabalho, materiais, dinheiro
e boa vontade, todos contribuíram, em maior ou menor escala,
e em conformidade com as suas posses e vontade.
Disse também que esta obra e resultado de uma contribuição voluntária.
E assim é, de facto. É mais um outro motivo de orgulho para
o povo desta freguesia. Efectivamente, todas as ditas contribuições
foram resultantes de actos de generosa voluntariedade, sem pressões
de qualquer espécie.
E, já que estamos falando em factos, será, talvez, oportuno
citar outros.
Assim, desde 1958 até agora, a Liga despendeu, em obras ou similares,
cerca de 460 contos, dos quais cerca de 200, nesta Casa. O restante
foi despendido na ligação da estrada à Praça Simões Dias, em
parte da rede de esgotos, em subsídios para trabalhos em Deflores,
Luadas, etc.,. E isto, só para citar alguns casos.
E se atendermos a que toda esta quantia foi resultante, além
das quotizações, de receitas de festas e peditórios, poderemos
bem avaliar quanto terá sido o esforço e canseiras dos "pedinchões"
- como alguém, humoristicamente, os chamou - que constituem
ou constituíram as direcções desta Liga. Para eles, o nosso
obrigado.
É usual, em ocasiões desta natureza, citar nomes. Propositadamente
não o farei.
Na verdade, se pretendesse fazê-lo, dois caminhos se me apresentariam:
ou citaria todos, mas todos aqueles que, de algum modo contribuíram,
sem olhar ao valor dessa contribuição, ou citaria somente os
nomes dos que mais se distinguiram.
No primeiro caso seria uma extensa relação em que ao cabo e
ao resto, e para as pessoas conhecedoras deste meio, não passaria
de referência a nomes já sobejamente conhecidos, e para os outros
e menos conhecedores do meio, não passaria além de uma extensa
e fastidiosa lista.
No segundo caso, eu teria que estabelecer um critério: onde
terminar? Citar somente uma ou duas dúzias e, injustamente,
omitir os outros só pelo simples facto de terem contribuído
com menos esforço ou dádivas? Não, não acho justo! E por isso
não referirei nomes. Os que mais se esforçaram que me perdoem.
Fiquemo-nos, pois, assim.
Vou terminar e com umas palavras mais, dirigidas à mocidade
por quem esta Casa, como Casa de Recreio que é, mais será procurada,
e a ela eu lembro: que esta iniciativa seja um símbolo do que
pode a conjugação de pequenos esforços colectivos e que ela
sirva de escola à juventude desta terra, para que se habitue
a congregar energias no sentido que daí algo de benefício
resulte para si e vindouros, em oposição ao desgaste inútil
de esforços dispersos».
Seguidamente, a madrinha da Liga,
D. Maria Luisete Rosário Dias Ferreira, pronunciou as seguintes
palavras:
«Ao inaugurar-se a Casa
da Liga, a que V. Exª. Sr. Governador se dignou presidir, não
podia eu ficar alheia e não quis deixar não só de assistir,
como de erguer a minha voz para manifestar junto de todos a
satisfação que a inauguração desta Casa me deu, pois, como madrinha
da Liga, todos os melhoramentos que possam engrandecer esta
terra são de alegria e de júbilo para mim, são de júbilo e alegria
para todos os benfeitenses.
Por isso, aqui estou... E aqui estou para agradecer a V. Exª.
e a todos os presentes a honra que nos deram em terem vindo.
É preciso, imprescindível mesmo, que se proporcionem meios de
atracção e de interesse aos mais jovens, para que cada vez mais
e com maior vontade venham até esta terra maravilhosa que se
chama Benfeita.
Hoje, a inauguração da Casa da Liga, amanhã o parque acimentado
do Areal, depois o coreto, etc., etc., de forma a que as raízes
que prendem à Benfeita os nossos pais possam vitalizar-se e
revitalizar-se, para nos prenderem também a nós.
Terminarei com um voto de agradecimento a todos quantos possibilitaram
a realização desta obra e um viva muito expressivo à Liga e
à Benfeita».
O Sr. professor José Dias Coimbra
começou por saudar o Sr. Governador Civil, que pela segunda
vez visitava o concelho de Arganil por motivo de inaugurações,
embora aqui já tivesse estado para auscultar as necessidades
deste concelho, grande em extensão mas também grande na sua
gente - acentuou. Aludindo ao facto de para a Casa que se inaugurava
nem a Junta de Freguesia nem a Câmara Municipal terem contribuído
com um único tostão, disse que ela é obra de amor, é obra
do Regionalismo, do Regionalismo da Benfeita. Referiu-se aos
jovens presentes, incitando-os a aprenderem a lição dos regionalistas
que têm honrado a Benfeita, daqueles homens que sabem nada se
poder fazer se não estivermos unidos. Exaltou o bairrismo válido
dos benfeitenses, consubstanciado em avultadas verbas gastas
em melhoramentos, dizendo: «Para a Liga, os nossos
aplausos e o pedido para que continue a trabalhar para que a
Benfeita seja uma terra onde os seus habitantes possam ter aquilo
a que têm direito». Considerando a Casa Regional como
centro de recreio, falou da necessidade de ali ser instalada
uma biblioteca, e disse que lhe fôra muito grato assistir
aquela inauguração. Dirigiu depois algumas palavras de apreço
ao Sr. Dr. António Luís Gonçalves, realçando a obra que realizou
na presidência da Câmara Municipal de Arganil, e ao Sr. Eng.
Ângelo da Fonseca Rosário, «um arganilense de muito
valor».
Lembrando a notável acção do Sr. Presidente do Conselho e as
suas atenções para com o Regionalismo, propôs, finalmente, que
fosse enviado ao Sr. Presidente do Conselho um telegrama de
apoio à política seguida por S. Exª.
A sugestão do Sr. presidente
da Câmara foi calorosamente secundada pela assistência com demorada
salva de palmas.
O Sr. Governador Civil, depois
de saudar os presentes e de se congratular pela inauguração
da Casa Regional, afirmou:
«Num mundo quase submerso
em maré de irracionalidade, ainda sobressai um país onde surgem
obras como a que acabamos de inaugurar, e que se engloba na
série de benefícios que são devidos à cooperação das Ligas de
Melhoramentos com as autarquias e de que a da Benfeita é verdadeiro
paradigma.
Alto exemplo nos é dado pelas Ligas e Comissões de Melhoramentos.
Ao egoísmo gritante desta hora, respondem com a solidariedade
que torna melhor a vida do seu próximo;
Ao materialismo que se expande a nossos olhos, respondem com
obras como esta onde o espírito se valoriza;
Ao absentismo que empobrece a região, respondem com uma presença
dignificante nos momentos como o que estamos vivendo;
À massificação opressiva da sociedade urbana, respondem com
associações, vivas e livremente aceites, dos naturais das povoações
da região;
Ao orgulho pelos bens de fortuna adquiridos, respondem com o
virtuoso desprendimento na valiosa quotização para beneficiar
a terra natal;
À vaidade por posições sociais atingidas, respondem com o debruçar
atento sobre projectos e empreendimentos que carecem de competência
e de protecção.
Tudo isto, afinal, justo motivo de regozijo para todos os homens
bem formados.
Vivem o mundo e a nação uma hora de renovação.
Com simplicidade, atenção e coragem, temos de colaborar uns
com os outros e todos com os responsáveis pelo Governo nas reformas
que urge fazer.
Ouvimos e lemos o pensamento do Sr. prof. Marcelo Caetano apresentado
em tais termos de clareza e sinceridade, que lhe são devidos
não só a nossa aprovação como o nosso apoio.
Para que lá, nos Paços do Governo, ele possa sentir como é compreendido
e como é acreditado, apoio a sugestão apresentada pelo Sr. Presidente
da Câmara, exprimindo a vossa adesão à política definida pelo
Sr. Presidente do Conselho e a vossa Fé numa Nação íntegra,
grande e livre».
Terminado o discurso do Sr. Eng.
Cunha Matos, que foi muito ovacionado, o Sr. Eng. Ângelo Rosário
leu os vários telegramas recebidos, entre os quais um do Sr.
Eduardo Oliveira, de Moçambique, oferecendo 6.000$00 para a
obra inaugurada, e outro da Casa do Concelho de Arganil, que
nas cerimónias se fez representar pelo Sr. professor José Dias
Coimbra.
Seguidamente, o Sr. Governador
Civil, acompanhado do Sr. Presidente da Câmara e outras entidades,
deslocou-se ao santuário da Senhora das Necessidades, à Fraga
da Pena e aos Pardieiros, sendo, nesta última localidade, obsequiados
com colecções de colheres de pau, cuja manufactura tiveram ocasião
de apreciar.
De regresso a Benfeita, e enquanto
o povo confraternizava na Casa Regional, foi servido, no salão
paroquial, um lanche aos convidados.
Aos brindes, usou da palavra
o Sr. Dr. António Luís Gonçalves, que disse da sua satisfação
em saudar o Sr. Governador Civil na sua própria terra. Terra
de gente de trabalho - acentuou - o que se fez deve-se ao trabalho
árduo, insano, dos benfeitenses, à sua persistência,
ao seu amor ao torrão natal. Gente de grandes virtudes - disse
- os naturais da Benfeita sabem agradecer tudo o que lhes fazem.
Em nome dos benfeitenses, agradeceu a presença do Sr. Governador
Civil e, referindo-se ao Sr. presidente da Câmara, afirmou que,
não sendo natural deste concelho, a ele se devotou, gastando
grande parte da sua vida no interesse das terras arganilenses,
e agradeceu-lhe a sua dedicação à causa pública e tudo o que
tem feito pela Benfeita. Saudando todos os visitantes, terminou
dirigindo-se aos benfeitenses, fazendo votos para que a Casa
Regional seja o ponto de partida para novas realizações a bem
da Benfeita.
Finalmente, o Sr. Eng. Cunha
Matos agradeceu as palavras do Sr. Dr. Gonçalves e prestou homenagem
ao «seu alto sentido de servir», agradecendo-lhe
também a colaboração que dele tem recebido. Associou-se às palavras
dirigidas ao Sr. Presidente da Câmara, que «tão devotadamente
se dá ao serviço do concelho, para cujo progresso não tem descanso,
não deixando de bater a todas as portas, desde o Sr. Presidente
do Conselho até ao Governador Civil».
Fez votos para que o Sr. professor José Dias Coimbra continue
por muitos anos à frente dos destinos do concelho de Arganil,
com o apoio do povo.
Referiu-se à presença do Sr. Dr. Parente dos Santos e outros
visitantes e agradeceu ao presidente da assembleia geral e dirigentes
da Liga de Melhoramentos da Freguesia da Benfeita os momentos
de agradável convívio que lhe proporcionaram viver com o bom
povo da Benfeita, agradecendo-lhes ainda tudo o que têm feito
pela sua terra. Teceu um hino de louvor às gentes da Benfeita
e desejou a todos muito e muito Boas-Festas.
Depois, foram as despedidas e
a debandada dos visitantes, enquanto a Benfeita continuava em
festa.
A COMARCA DE ARGANIL
6723 - 13/04/1971
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