LIGA  DE  MELHORAMENTOS  DA
FREGUESIA  DA  BENFEITA

Inauguração da Casa da Liga

Reportagem da inauguração da Casa da Liga ocorrida na Benfeita, em 10 de Abril de 1971, inserida no trissemanário "A COMARCA DE ARGANIL", ao melhor estilo dos tempos de então.
Embora possamos discordar de algumas opiniões nela contidas não escondemos nem rejeitamos as nossas raízes.

Vivaldo Quaresma

NA BENFEITA

foi inaugurada a Casa Regional

com a presença do Sr. Governador Civil de Coimbra

Foi dia de festa na Benfeita o último sábado. E a festa justificava-se não só pela aquisição de mais um factor de valorização da terra - a Casa Regional - como ainda pelo que aquele empreendimento significa de vitalidade, de manifestação de validade de um povo que prima em mostrar o seu bairrismo. Bairrismo é, realmente, a melhor definição da obra inaugurada. Tanto mais que, um investimento total de duzentos contos, que foi quanto custou, aproximadamente, a Casa Regional, não teve qualquer comparticipação oficial, mas apenas tudo foi produto da generosidade do povo, da persistência, do entusiasmo dos dirigentes da Liga de Melhoramentos da Freguesia da Benfeita.

Festa, pois, inteiramente justificada, a do povo da Benfeita, que, como muito bem se disse na sessão inaugural, está de parabéns. Parabéns que A Comarca de Arganil não lhe regateia, antes faz questão de reiterar, como os apresentou, pela voz do seu representante que gostosamente se deslocou à Benfeita no último sábado.

Teve a inauguração da Casa Regional da Benfeita a honra da presença do Sr. Governador Civil de Coimbra, Eng. Leopoldo da Cunha Matos, e do Sr. presidente da Câmara Municipal de Arganil, professor José Dias Coimbra.

Presentes também, entre outras pessoas, os Srs. Dr. António Luís Gonçalves, secretário da Universidade de Coimbra e natural da Benfeita; Dr. António José Parente dos Santos, presidente da Comissão Concelhia da Acção Nacional Popular; Eng. Manuel Dinis Pinheiro, vereador municipal; Dr. Alberto Ferreira, director da Escola Técnica de Arganil; Dr. Armando Dinis Cosme, médico municipal de Côja; António Gaspar Pimenta, António Bernardo Quaresma e Sérgio Martins, da direcção da Liga de Melhoramentos da Freguesia da Benfeita; Eng. Ângelo da Fonseca Rosário, presidente da assembleia geral da mesma colectividade; José Bernardo Quaresma, José Dias e José Nunes dos Santos Oliveira, da delegação da Liga da Benfeita, o último representando ainda a Junta de Freguesia com os Srs. António Nunes da Costa e José Gonçalves Matias; padre Joaquim da Costa Loureiro, pároco da freguesia; Manuel Augusto Antunes Figueira, António Nunes dos Santos (Alípio), Vitor Gonçalves Filipe e António Filipe, da Comissão de Melhoramentos dos Pardieiros; António Duarte, José Francisco da Costa e António Martins dos Santos, da Comissão do Sardal; António da Costa, da colectividade do Enxudro; José Ramos Antunes, da Comissão de Melhoramentos de Luadas; Vitor Alves da Silva e Afonso Augusto Fernandes, da Comissão de Melhoramentos e Beneficência do Pisão; Adelino Antunes dos Santos, José de Deus Sequeira Padre, Carlos Alberto Bernardo, José Gomes Simões, António Quaresma, Ângelo de Jesus, Fernando Ferreira, António Martins Pereira, Acácio Gonçalves, comandante António Nunes da Costa, José Macedo Santos, Adelino Martins dos Santos, Joaquim Bernardo, Augusto Gaspar, Aurélio Simões Quaresma, Marcelo Martins Pereira, José de Assunção Alves e António Gonçalves Feiteira, benfeitenses vindos propositadamente de Lisboa, com seus familiares; António Rosário Dias, Alberto Bernardo Dias, Eduardo Dias, Manuel Simões, Artur do Rosário, Hermínio do Rosário Dias e Marcelo do Rosário Oliveira, benfeitenses que se deslocaram de Coimbra, etc…

De anotar, ainda, a presença de muitas pessoas residentes na Benfeita e povoações da freguesia, entre as quais muitas senhoras.

A Filarmónica de Vila Cova do Alva contribuía para realçar o aspecto festivo do acontecimento. Tal como a presença de uma representação da Associação dos Bombeiros Voluntários de Côja, em traje de gala, com o respectivo estandarte.

Algumas dezenas de pessoas, em vários automóveis, foram esperar as entidades oficiais à Ponte da Baralha, limite da freguesia.

E eram cerca de 16 horas e 20 minutos quando o Sr. Governador Civil de Coimbra chegou a Benfeita. Logo a Filarmónica de Vila Cova do Alva irrompeu executando as estrofes do hino da Maria da Fonte e no ar estralejaram foguetes.

Trocados cumprimentos, seguiu-se em cortejo até à Casa Regional, em cuja entrada o Sr. Governador Civil cortou a fita que simbolicamente a vedava, com uma tesoura que lhe foi entregue pela menina Maria da Graça Nunes Dias.

Voltaram a estralejar foguetes e os presentes sublinharam a cerimónia com uma salva de palmas.

Foram então percorridas as instalações da Casa - um amplo salão, com palco, dois camarins, um bufete com cozinha e dois sanitários.

Realizou-se em seguida uma sessão solene, a que presidiu o Sr. Eng. Cunha Matos, ladeado pelos Srs. professor José Dias Coimbra, Dr. António Luís Gonçalves, Dr. Parente dos Santos, Sérgio Martins e José Dias, à direita; e Eng. Ângelo Rosário, padre Joaquim da Costa Loureiro, António Gaspar Pimenta, José Bernardo Quaresma e Dr. Alberto Ferreira, à esquerda.

Usou da palavra, em primeiro lugar, o Sr. Eng. Ângelo Rosário, como presidente da assembleia geral da Liga de Melhoramentos da Freguesia da Benfeita, que disse:

«Reunimo-nos hoje, aqui, para proceder à inauguração desta Casa de Recreio, e não deveria ser eu a dirigir-lhes a palavra; porém, as circunstâncias, que não o meu desejo, assim o ditaram.
Esta Casa, aos olhos de uns será obra grande, aos de outros, bem modesta; para outros, ainda, será obra útil e para outros supérflua; é uma questão de ponto de visita. Porém, uma coisa ela é de facto, e quanto mais não fôra, só por isso, motivo de orgulho: é uma obra da contribuição voluntária de todo o povo da freguesia da Benfeita.
E digo de todo o povo porque, julgo poder afirmá-lo, todos contribuíram: presentes e ausentes, residentes ou não e até outros que não têm quaisquer laços, além dos da amizade, com esta freguesia; todos, com a sua parte, em dádivas, trabalho, materiais, dinheiro e boa vontade, todos contribuíram, em maior ou menor escala, e em conformidade com as suas posses e vontade.
Disse também que esta obra e resultado de uma contribuição voluntária. E assim é, de facto. É mais um outro motivo de orgulho para o povo desta freguesia. Efectivamente, todas as ditas contribuições foram resultantes de actos de generosa voluntariedade, sem pressões de qualquer espécie.
E, já que estamos falando em factos, será, talvez, oportuno citar outros.
Assim, desde 1958 até agora, a Liga despendeu, em obras ou similares, cerca de 460 contos, dos quais cerca de 200, nesta Casa. O restante foi despendido na ligação da estrada à Praça Simões Dias, em parte da rede de esgotos, em subsídios para trabalhos em Deflores, Luadas, etc.,. E isto, só para citar alguns casos.
E se atendermos a que toda esta quantia foi resultante, além das quotizações, de receitas de festas e peditórios, poderemos bem avaliar quanto terá sido o esforço e canseiras dos "pedinchões" - como alguém, humoristicamente, os chamou - que constituem ou constituíram as direcções desta Liga. Para eles, o nosso obrigado.
É usual, em ocasiões desta natureza, citar nomes. Propositadamente não o farei.
Na verdade, se pretendesse fazê-lo, dois caminhos se me apresentariam: ou citaria todos, mas todos aqueles que, de algum modo contribuíram, sem olhar ao valor dessa contribuição, ou citaria somente os nomes dos que mais se distinguiram.
No primeiro caso seria uma extensa relação em que ao cabo e ao resto, e para as pessoas conhecedoras deste meio, não passaria de referência a nomes já sobejamente conhecidos, e para os outros e menos conhecedores do meio, não passaria além de uma extensa e fastidiosa lista.
No segundo caso, eu teria que estabelecer um critério: onde terminar? Citar somente uma ou duas dúzias e, injustamente, omitir os outros só pelo simples facto de terem contribuído com menos esforço ou dádivas? Não, não acho justo! E por isso não referirei nomes. Os que mais se esforçaram que me perdoem.
Fiquemo-nos, pois, assim.
Vou terminar e com umas palavras mais, dirigidas à mocidade por quem esta Casa, como Casa de Recreio que é, mais será procurada, e a ela eu lembro: que esta iniciativa seja um símbolo do que pode a conjugação de pequenos esforços colectivos e que ela sirva de escola à juventude desta terra, para que se habitue a congregar energias no sentido que daí algo de benefício resulte para si e vindouros, em oposição ao desgaste inútil de esforços dispersos».

Seguidamente, a madrinha da Liga, D. Maria Luisete Rosário Dias Ferreira, pronunciou as seguintes palavras:

«Ao inaugurar-se a Casa da Liga, a que V. Exª. Sr. Governador se dignou presidir, não podia eu ficar alheia e não quis deixar não só de assistir, como de erguer a minha voz para manifestar junto de todos a satisfação que a inauguração desta Casa me deu, pois, como madrinha da Liga, todos os melhoramentos que possam engrandecer esta terra são de alegria e de júbilo para mim, são de júbilo e alegria para todos os benfeitenses.
Por isso, aqui estou... E aqui estou para agradecer a V. Exª. e a todos os presentes a honra que nos deram em terem vindo.
É preciso, imprescindível mesmo, que se proporcionem meios de atracção e de interesse aos mais jovens, para que cada vez mais e com maior vontade venham até esta terra maravilhosa que se chama Benfeita.
Hoje, a inauguração da Casa da Liga, amanhã o parque acimentado do Areal, depois o coreto, etc., etc., de forma a que as raízes que prendem à Benfeita os nossos pais possam vitalizar-se e revitalizar-se, para nos prenderem também a nós.
Terminarei com um voto de agradecimento a todos quantos possibilitaram a realização desta obra e um viva muito expressivo à Liga e à Benfeita».

O Sr. professor José Dias Coimbra começou por saudar o Sr. Governador Civil, que pela segunda vez visitava o concelho de Arganil por motivo de inaugurações, embora aqui já tivesse estado para auscultar as necessidades deste concelho, grande em extensão mas também grande na sua gente - acentuou. Aludindo ao facto de para a Casa que se inaugurava nem a Junta de Freguesia nem a Câmara Municipal terem contribuído com um único tostão, disse que ela é obra de amor, é obra do Regionalismo, do Regionalismo da Benfeita. Referiu-se aos jovens presentes, incitando-os a aprenderem a lição dos regionalistas que têm honrado a Benfeita, daqueles homens que sabem nada se poder fazer se não estivermos unidos. Exaltou o bairrismo válido dos benfeitenses, consubstanciado em avultadas verbas gastas em melhoramentos, dizendo: «Para a Liga, os nossos aplausos e o pedido para que continue a trabalhar para que a Benfeita seja uma terra onde os seus habitantes possam ter aquilo a que têm direito». Considerando a Casa Regional como centro de recreio, falou da necessidade de ali ser instalada uma biblioteca, e disse que lhe fôra muito grato assistir aquela inauguração. Dirigiu depois algumas palavras de apreço ao Sr. Dr. António Luís Gonçalves, realçando a obra que realizou na presidência da Câmara Municipal de Arganil, e ao Sr. Eng. Ângelo da Fonseca Rosário, «um arganilense de muito valor».
Lembrando a notável acção do Sr. Presidente do Conselho e as suas atenções para com o Regionalismo, propôs, finalmente, que fosse enviado ao Sr. Presidente do Conselho um telegrama de apoio à política seguida por S. Exª.

A sugestão do Sr. presidente da Câmara foi calorosamente secundada pela assistência com demorada salva de palmas.

O Sr. Governador Civil, depois de saudar os presentes e de se congratular pela inauguração da Casa Regional, afirmou:

«Num mundo quase submerso em maré de irracionalidade, ainda sobressai um país onde surgem obras como a que acabamos de inaugurar, e que se engloba na série de benefícios que são devidos à cooperação das Ligas de Melhoramentos com as autarquias e de que a da Benfeita é verdadeiro paradigma.
Alto exemplo nos é dado pelas Ligas e Comissões de Melhoramentos.
Ao egoísmo gritante desta hora, respondem com a solidariedade que torna melhor a vida do seu próximo;
Ao materialismo que se expande a nossos olhos, respondem com obras como esta onde o espírito se valoriza;
Ao absentismo que empobrece a região, respondem com uma presença dignificante nos momentos como o que estamos vivendo;
À massificação opressiva da sociedade urbana, respondem com associações, vivas e livremente aceites, dos naturais das povoações da região;
Ao orgulho pelos bens de fortuna adquiridos, respondem com o virtuoso desprendimento na valiosa quotização para beneficiar a terra natal;
À vaidade por posições sociais atingidas, respondem com o debruçar atento sobre projectos e empreendimentos que carecem de competência e de protecção.
Tudo isto, afinal, justo motivo de regozijo para todos os homens bem formados.
Vivem o mundo e a nação uma hora de renovação.
Com simplicidade, atenção e coragem, temos de colaborar uns com os outros e todos com os responsáveis pelo Governo nas reformas que urge fazer.
Ouvimos e lemos o pensamento do Sr. prof. Marcelo Caetano apresentado em tais termos de clareza e sinceridade, que lhe são devidos não só a nossa aprovação como o nosso apoio.
Para que lá, nos Paços do Governo, ele possa sentir como é compreendido e como é acreditado, apoio a sugestão apresentada pelo Sr. Presidente da Câmara, exprimindo a vossa adesão à política definida pelo Sr. Presidente do Conselho e a vossa Fé numa Nação íntegra, grande e livre».

Terminado o discurso do Sr. Eng. Cunha Matos, que foi muito ovacionado, o Sr. Eng. Ângelo Rosário leu os vários telegramas recebidos, entre os quais um do Sr. Eduardo Oliveira, de Moçambique, oferecendo 6.000$00 para a obra inaugurada, e outro da Casa do Concelho de Arganil, que nas cerimónias se fez representar pelo Sr. professor José Dias Coimbra.

Seguidamente, o Sr. Governador Civil, acompanhado do Sr. Presidente da Câmara e outras entidades, deslocou-se ao santuário da Senhora das Necessidades, à Fraga da Pena e aos Pardieiros, sendo, nesta última localidade, obsequiados com colecções de colheres de pau, cuja manufactura tiveram ocasião de apreciar.

De regresso a Benfeita, e enquanto o povo confraternizava na Casa Regional, foi servido, no salão paroquial, um lanche aos convidados.

Aos brindes, usou da palavra o Sr. Dr. António Luís Gonçalves, que disse da sua satisfação em saudar o Sr. Governador Civil na sua própria terra. Terra de gente de trabalho - acentuou - o que se fez deve-se ao trabalho árduo, insano, dos benfeitenses, à sua persistência, ao seu amor ao torrão natal. Gente de grandes virtudes - disse - os naturais da Benfeita sabem agradecer tudo o que lhes fazem. Em nome dos benfeitenses, agradeceu a presença do Sr. Governador Civil e, referindo-se ao Sr. presidente da Câmara, afirmou que, não sendo natural deste concelho, a ele se devotou, gastando grande parte da sua vida no interesse das terras arganilenses, e agradeceu-lhe a sua dedicação à causa pública e tudo o que tem feito pela Benfeita. Saudando todos os visitantes, terminou dirigindo-se aos benfeitenses, fazendo votos para que a Casa Regional seja o ponto de partida para novas realizações a bem da Benfeita.

Finalmente, o Sr. Eng. Cunha Matos agradeceu as palavras do Sr. Dr. Gonçalves e prestou homenagem ao «seu alto sentido de servir», agradecendo-lhe também a colaboração que dele tem recebido. Associou-se às palavras dirigidas ao Sr. Presidente da Câmara, que «tão devotadamente se dá ao serviço do concelho, para cujo progresso não tem descanso, não deixando de bater a todas as portas, desde o Sr. Presidente do Conselho até ao Governador Civil».
Fez votos para que o Sr. professor José Dias Coimbra continue por muitos anos à frente dos destinos do concelho de Arganil, com o apoio do povo.
Referiu-se à presença do Sr. Dr. Parente dos Santos e outros visitantes e agradeceu ao presidente da assembleia geral e dirigentes da Liga de Melhoramentos da Freguesia da Benfeita os momentos de agradável convívio que lhe proporcionaram viver com o bom povo da Benfeita, agradecendo-lhes ainda tudo o que têm feito pela sua terra. Teceu um hino de louvor às gentes da Benfeita e desejou a todos muito e muito Boas-Festas.

Depois, foram as despedidas e a debandada dos visitantes, enquanto a Benfeita continuava em festa.

A COMARCA DE ARGANIL
6723 - 13/04/1971

Veja também:
A Liga de Melhoramentos