«A homenagem que hoje se presta a Leonardo Gonçalves
Mathias importa acentuá-lo não é fruto dum improviso,
nem se deve à iniciativa dum só, ou dum grupo; ela brota
espontânea da alma do povo que o conheceu e estimou em vida
e guardou em seu peito gratidão imperecível e memória viva duma
presença que a todos impunha respeito e veneração.
Há muito que o povo o celebra nos seus cantares e tudo leva
a crer que o seu nome, transmitido a uma familia ilustre, que
à Benfeita vota a maior afeição e não se desprende por nada
do torrão natal, continuaria lembrando pelos tempos fora.
Mas era bem que a sua figura veneranda, já invocada nas
placas da rua que foi dedicada, se perpetuasse no bronze, para
grata recordação daqueles que o conheceram e transmissão às
geerações vindouras, da imagem daquele de quem sempre se há-de
ouvir falar.
Ela aí está, pois, por vontade desse mesmo povo e na visão
fiel do escultor, a olhar a Benfeita que ele tanto amou, lição
perene de baírrísmo e amor pelas coisas da terra e motívo de
medítação que a todos aproveitará.
Tem-se falado muito na obra material que Leonardo Mathias
empreendeu em favor da Benfeita, quando em 11 de Novembro de
1931, iniciou na Portelinha, com uma cavadela simbólica, a construção
da nossa Estrada. E, falando nessa obra, não se tem esquecido,
nem podia esquecer-se, o nome desse obreiro que foi seu companheiro
de trabalho e contínuador, Alfredo de Oliveira.
Não serei eu a mínímízar tal trabalho e só há que agradecer
e louvar a quem em todas as oportunidades o tem lembrado.
Mas não é esse, a meus olhos, o maior benefícío que
a Benfeita deve à sua memória, nem ele só explicaria o grande
movimento de veneração e simpatia que se ergueu à sua volta.
Certo que as terras precisam de estradas, de escolas, de
luz, de fontes e tudo o mais que o progresso material vai proporcionando
às sociedades.
Mas elas precisam, mais que tudo, de se elevar moral e socialmente,
tomar consciência dos grandes problemas que importam à humanidade
alcançar, em suma, aquilo a que se chama civilização.
Ora, foi neste aspecto, segundo penso, que a acção de Leonardo
Gonçalves Mathias mais se fez sentir.
Educado na escola do trabalho e dotado de espírito vivo
e observador, Leonardo Mathias foi levado pelos acasos da vida
e pela ânsia de se elevar, ao contacto com novos mundos
e novas gentes.
Em presença dos grandes centros, foi-lhe fácil libertar-lhe
dos estreitos limites do meio em que foi criado e abrir novos
horizontes, através dos quais a vida adquiriu para ele renovadas
perspectivas.
Deu-lhe Deus uma palavra fácil e presença simpática e atraente.
Alma franca, braços abertos para os amigos e para todos que
o procurassem, conselho pronto e oportuno, breve a sua casa
da Benfeita se transformou em verdadeira escola de civismo.
E, por fortuna sua, não lhe faltou por companheira a esposa
dedícada, inteligente e carinhosa, cuja bondade e compreensão
era outro grande atractivo daquela casa feliz.
Deste lar exemplar, espelho de virtudes e modelo de sacrifícios,
nasceram dois filhos que, sendo valor destacado da Nação, são
da Benfeita a maior honra e glória.
Só por tê-los dado à Pátria, valia a pena ter vivido.
Sou forçado a terminar e faço-o em plena alegria.
É que a Benfeita, na medida em que se mostrou grata
e reconhecida, terá escrito hoje uma das mais belas páginas
da sua história e, apresentando aos vindouros tão nobre exemplo,
ter-lhes-à prestado o melhor serviço.»
in: "Benfeita 1963-1965", por Mário
Mathias