LEONARDO  MATHIAS

Leonardo Mathias 1919Leonardo Gonçalves Mathias, nasceu na Benfeita em 13 de Dezembro de 1872 e faleceu com 78 anos de idade, após cirurgia à próstata, no Hospital de Santa Marta, em Lisboa (antigo Hospital Escolar da freguesia de Camões), no dia 30 de Dezembro de 1950, sendo inumado em jazigo, no cemitério do Alto São João e, conforme seu desejo expresso, trasladado para o cemitério da Benfeita, no mês seguinte, ocorrendo o seu sepultamento a 30 de Janeiro de 1951.

Era filho de José Gonçalves Mathias, da Benfeita, e de Ana de Jesus, do Casal do Sepinho, Benfeita. Casou na Igreja de Santa Cecília com Maria da Assunção Nunes Mathias, do Sardal, em 14/07/1898, de quem teve 2 filhos: Mário, em 11/08/1899, na Benfeita (Dr.Mário Mathias) e Marcello, em 15/08/1903, em Lisboa (Dr.Marcello Mathias).

Reformado da função pública em 1926 pelo Ministério das Finanças, onde exercia as funções de "Telefonista, guarda-fios e electricista" na Secretaria de Estado das Finanças, passou a viver com sua esposa na sua casa do Bairro de Santa Rita, na Benfeita, a maior parte do ano, apenas se ausentando para Lisboa, onde tinha residência no Bairro Alto (antigo bairro da Encarnação), na Rua do Diário de Notícias 32, por motivos de saúde e nos meses mais rigorosos de Inverno.

Foi o grande impulsionador da criação da Liga de Melhoramentos da Freguesia da Benfeita, em 1945, tendo sido seu fundador e sócio benemérito desde 1948. Foi eleito presidente da Assembleia Geral desde a data de criação da Liga, cargo que manteve até ao seu falecimento.

O seu caloroso bairrismo e amor às coisas da terra fizeram erguer à sua volta um verdadeiro movimento de respeito, veneração e simpatia. A seu lado teve uma esposa dedicada, inteligente e carinhosa, cuja bondade e compreensão a fizeram merecedora da estima de todos.

Seus filhos alcançaram lugares de destaque na cena política nacional, razões pelas quais a ilustre família Mathias teve lugar cativo no coração dos Benfeitenses.

VIVALDO QUARESMA

Em 28 de Setembro de 1942, perante um movimento da opinião pública que a imprensa regional secundou, a Câmara Municipal de Arganil homenageou Leonardo Gonçalves Mathias, ainda em vida, dando o seu nome a uma rua da aldeia.

Busto de Leonardo MathiasLEONARDO GONÇALVES MATIAS

Foi dado o nome deste dedicado benfeitense a uma rua da povoação da Benfeita

Na última sessão da vereação municipal deste concelho, o seu vice-presidente, Sr. Frederico Simões, pediu a palavra para dizer que a Junta de Freguesia da Benfeita deliberara, em sua sessão de 4 do corrente, incumbi-lo de apresentar uma proposta para que seja dado o nome do prestimoso cidadão Leonardo Gonçalves Mathias à rua onde nasceu, na Benfeita, e que, no desempenho dessa missão, apresentava a seguinte proposta:

Atendendo aos relevantes serviços prestados pelo Sr. Leonardo Gonçalves Mathias à freguesia da Benfeita, serviços estes assaz conhecidos, que o elevaram no conceito bem merecido, não só dos seus conterrâneos, mas também da população deste concelho, proponho que à rua que vai da praça Simões Dias ao bairro do Tanque, na Benfeita, seja dado o nome daquele prestimoso cidadão, como nota de apreço e reconhecimento pelos trabalhos bem orientados que tem dispendido em prol daquela freguesia.

Mais proponho que no dia da colocação das respectivas placas lhe seja prestada uma simples mas sincera homenagem, devendo dar-se-lhe conhecimento desta deliberação, que tem em vista galardoar tão modesto e incansável regionalista.

A Câmara, reconhecendo que o homenageado tem, de facto, demonstrado as mais altas virtudes cívicas, ser um devotado regionalista e trabalhador incansável pelo progresso e engrandecimento da freguesia em que nasceu, que já lhe deve relevantes serviços, deliberou aprovar por unanimidade a proposta do seu vice-presidente, atendendo assim ao pedido formulado pela Junta de Freguesia da Benfeita.

A Junta de Freguesia da Benfeita e a homenagem a Leonardo Gonçalves Mathias

Caros conterrâneos, benfeitenses e amigos da nossa terra:
—Têm muitos de vós vindo às colunas dos jornais pôr em destaque os relevantes serviços prestados à freguesia da Benfeita pelo nosso prezado conterrâneo Sr. Leonardo Gonçalves Mathias.
Não podia também deixar de me associar a essas manifestações de justo aprêço a tão exemplar cidadão, pois ninguém melhor do que eu, conhece os sacrifícios que, com tão boa vontade, aquele nosso grande amigo tem dispendido em favor da estrada, do cemitério, do telefone, do adro da igreja e de muitos outros melhoramentos que a junta de freguesia tem levado a efeito.
É a Leonardo Gonçalves Mathias que a junta de freguesia da Benfeita tudo deve. Tem sido ele, com sua alma clara e franca e sempre propensa para o bem, que a junta tem encontrado sempre pronto a ajudá-la a vencer as horas difíceis que, desde 1931, se lhe têm deparado, e muitas têm elas sido.
A ele se deve o lisonjeiro resultado de muitas subscrições abertas em favor da estrada e do telefone. A ele se deve o rápido andamento que todos os projectos de melhoramentos têm tido. É dele que muito podemos ainda esperar. Pena é que o seu estado de saúde não seja mais satisfatório. Mas, apesar dos seus sofrimentos, encontramo-lo sempre cheio de boa vontade e entusiasmo, com a alma a trasbordar de fé e bairrismo, pronto a dar todo o seu apoio moral e material aos empreendimentos em favor do progresso da Benfeita.
Não se tem cansado de trabalhar em prol da sua querida Benfeita, patrocinando todos os melhoramentos que, sem o seu auxílio, jamais se poderiam realizar.

Caros conterrâneos que na nossa terra e longe dela me escutais: Devemos orgulhar-nos por termos na nossa terra um homem de tão grande valor, um cidadão tão prestante e exemplar, porque Leonardo Gonçalves Mathias, em todas as fases da sua vida, tem-nos dado sempre um grande exemplo de civismo.

Caros conterrâneos: A junta de freguesia, num gesto simples de merecida e justa homenagem a tão ilustre cidadão e homem de bem, deliberou, em sessão de 4 do corrente, propôr à Camara Municipal do nosso concelho, que seja dado o nome de Leonardo Gonçalves Mathias à rua onde nasceu e habita aquele dedicado benfeitense.

Logo que esta deliberação seja tomada pela Câmara, será marcado o dia em que deve fazer-se a inauguração das placas e prestada homenagem àquele nosso ilustre conterrâneo.

Para acorrer à despesa com a compra das placas e com a respectiva inauguração está aberta uma subscrição pública, podendo os donativos de quem desejar associar-se a esta justa e merecida homenagem, ser enviados directamente à junta desta freguesia.

S U B S C R I ÇàO

Alfredo Nunes dos Santos Oliveira Benfeita
20$00
António Nunes da Costa Benfeita
20$00
Albino Dias Pinto Benfeita
20$00
Dr. Alberto do Vale Coimbra
20$00
Capitão António Pedro Fernandes Folques
20$00
Dr. Fernando Vale Arganil
20$00
Frederico Simões Arganil
20$00
F. Pimenta de Carvalho Arganil
   20$00
   
160$00

Benfeita, 15-07-1942
O presidente da Junta de Freguesia,
Alfredo Nunes dos Santos Oliveira

C.A. - 2865 -21/07/1942

A FREGUESIA DA BENFEITA
prestou anteontem uma significativa manifestação de apreço
ao Sr. Leonardo Gonçalves Mathias

A Junta de Freguesia da Benfeita julgou do seu dever homenagear um dos seus mais prestimosos conterrâneos - o Sr. Leonardo Gonçalves Mathias - dando o seu nome a uma das ruas da sua linda e graciosa aldeia.

Iniciativa cheia de beleza espiritual, que logo teve o consenso unânime de todos os habitantes daquela freguesia tão importante e da nossa própria Câmara, que imediatamente e com o maior prazer abraçou a ideia.

Porquê este consenso unânime? Porque o homenageado era e é absolutamente digno da homenagem projectada.

Cidadão de irrepreensível conduta social, chefe de família exemplaríssimo, que soube educar para a vida os seus filhos, que tanto honram os seus pais, e tanto ilustram a terra em que nasceram, pessoa sempre pronta a patrocinar todas as iniciativas que possam engrandecer a sua terra, e a auxiliar os seus conterrâneos carecidos de protecção e amparo, bem merece ele as homenagens que a sua freguesia lhe prestou, e a que espontaneamente se associaram todos os seus amigos e admiradores das suas belíssimas qualidades morais e de carácter.

A Comarca de Arganil a essas homenagens se associou com todo o entusiasmo, felicitando muito sinceramente o amigo querido que só simpatias conta na sua terra e nesta casa. E, felicitando-o, felicita de um modo especial os seus filhos, Srs. Dr. Mário Mathias e Dr. Marcello Mathias, que pelos seus méritos de inteligência brilhante, de trabalho intenso e de carácter integro e impoluto, ascenderam às elevadas posições sociais que ocupam. Filhos amantíssimos, não lhes podem ser indiferentes as homenagens que o povo da sua terra, da Câmara deste concelho e de todos os seus amigos, prestaram ao seu bondoso pai.

Ao homenageado e aos seus filhos, um grande e efusivo abraço de sinceros parabéns.


Entramos na Benfeita ao som dos acordes da filarmónica Pátria Nova, de Côja e no meio de contínuo estralejar de foguetes. A freguesia está em festa. Aguardam a vereação municipal, representada por todos os seus membros, e outras entidades, a junta promotora da manifestação, com todo o povo da freguesia e muitas pessoas das freguesias limítrofes. Há vivas, palmas, saudações, abraços, cumprimentos.

Em cortejo, dirige-se toda aquela mole de gente para a Praça de Simões Dias, situada no centro do lugar. Das janelas de todas as habitações pendem colgaduras e vêem-se festões com bandeiras e outras ornamentações.

Em volta de uma mesa, naquela praça, o povo apinha-se. Vai realizar-se ali a sessão solene comemorativa da consagração a Leonardo Gonçalves Mathias, benfeitense dedicadíssimo que todos os seus conterrâneos estimam e admiram.

Preside o Sr. Capitão António Pedro Fernandes, presidente do Município, ladeado pelo homenageado e pelo Sr. Alfredo Nunes dos Santos Oliveira, presidente da Junta de Freguesia.

Este, usa da palavra para agradecer à Câmara a sua comparência e o ter deferido a sua proposta para que a uma rua da Benfeita fosse dado o nome do grande homem de bem que é Leonardo Mathias, cujo amor à terra em que nasceu, enaltece com palavras encomiásticas, referindo os vários melhoramentos a que tem dado o seu eficiente concurso, entre os quais a estrada, o alargamento do adro, o telefone público, etc. Agradece ainda a todos quantos ali estão a associar-se àquela merecida homenagem e aos que para ela também contribuíram monetariamente, e pede ao Sr. Capitão Fernandes, a quem a freguesia e o concelho muito devem, para daí a pouco descerrar as lápidas que dão à rua do Cabo até ao bairro do Tanque o nome de Leonardo Gonçalves Mathias.

Pelo Sr. Albino Pinto é a seguir lido o expediente recebido, do qual constam, entre outras, cartas e telegramas das seguintes pessoas e entidades: Dr. Costa Rodrigues, Secretário-Geral do Governo Civil de Coimbra; Dr. Urbano Dias Diniz, de Eixo (Aveiro); José Nunes Caldeira, de Pombal; Dr. José Alves Pais e Abel Perdigão, de Arganil; Dr. Elias Gonçalves, de Santarém; Manuel Martins Travassos, Dr. Abel de Andrade, José Maria Alves Caetano, Bernardo d'Abranches Freire de Figueiredo, José Gonçalves Matias, José Rosa Gomes, Alfredo Francisco Gomes, Pedro Maria dos Santos Freire, Dr. José Fernandes Machado, Augusto Pimenta e esposa, José da Igreja, Sérgio e José Dias, Baptista de Carvalho e Adelino dos Santos, de Lisboa; Comendador António Duarte Martins, da Vila Duarte; Capitão José Simões Martinho, D. Maria Susana Martinho, Alfredo Costa, Alberto Luiz Gonçalves e Jaime Mendes, de Coimbra; Dr. Alberto do Vale, Fernando Silva e José Luciano das Neves Pimenta, de Côja; D. Silvéria Dias, de Carvide (Leiria); Eduardo Barbosa e família, António de Moura Correia Dias, D. Zulmira e D. Margarida e António Águeda, do Porto; Francisco Peres, do Monte Frio; Adelino Maria, de Vidago; Horácio da Cruz Barata, de Folques; Padre Júlio Pereira da Cruz Diniz, de Soure; António Simões Quaresma, da Benfeita; Luciano Amaral, de Coimbra; Padre Adelino Dias Nogueira, de Arganil; Dr. Fausto Dias Martins Pereira, de Beja; Simões Travassos, de Vila Nova do Ceira; Horácio e Adelino Quaresma, de Tancos; Bernardo Pimenta, de S. Joaninho (Santa Comba Dão); D. Alzira Coelho e Manuel Coelho e filhos e Pedro de Vasconcelos, de Salvaterra de Magos; etc., etc.

É também lido um ofício da Junta de Freguesia de Côja, a fazer-se representar pelo Sr. Eduardo Francisco Filipe; e uma carta do nosso camarada Luiz Ferreira, redactor d'A Comarca de Arganil em Lisboa, que não podendo, bem a pesar seu, deslocar se à Benfeita, fez-se representar pelo Sr. António Nunes Leitão. O Sr. Alberto Luiz Gonçalves, residente em Coimbra, também se fez representar por seu filho, o Sr. Dr. António Luiz Gonçalves.

Fala, depois, o Sr. Francisco Pimenta de Carvalho, Chefe da Secretaria da Câmara Municipal, que se associa à homenagem prestada a quem dela é merecedor pelas suas qualidades de perseverança e de lutador em prol do progresso da freguesia da Benfeita; e saúda também o Sr. Dr. Mário Mathias, ilustre filho do homenageado e em quem os benfeitenses têm um grande amigo.

O Sr. António José Filipe, que fala a seguir, diz ter apoiado a homenagem que se está a prestar, logo que dela teve conhecimento, e relembra que foi o primeiro a responder ao angustioso apelo feito por Leonardo Mathias, nas colunas de A Comarca de Arganil, para que os benfeitenses o auxiliassem na consecução final da estrada - a permanente preocupação do homenageado. Promete continuar a emprestar o seu concurso no sentido de ser ultimado tão importante melhoramento e termina fazendo votos pela saúde de Leonardo Mathias.

Em seu nome e no da Casa da Comarca de Arganil e do Sr. Dr. Vasconcelos Carvalho, associa-se também o Sr. Dr. Fernando Vale, e com o maior prazer, à festa simples que se está realizando para consagrar os méritos de quem se tem dedicado, de alma e coração, à sua terra, dando a todos nós um grande exemplo pelas suas qualidades e virtudes cívicas, e ainda pela tenacidade com que tem sabido vencer as contrariedades que lhe hão surgido na realização de uma obra que todos julgavam impossível. Faz votos pela saúde do homenageado e alude ainda à situação brilhante a que ele viu ascender seus ilustres filhos - os Srs. Drs. Mário e Marcello Mathias.

Fala a seguir o Sr. João d'Almeida Júnior, da Portela da Cerdeira e importante comerciante na capital, que se refere ao esforço desenvolvido pelo homenageado em Lisboa, de cooperação com os também grandes bairristas António José Filipe e António Nunes Leitão, na angariação de donativos para a estrada, batendo a todas as portas dos conterrâneos ali residentes. Sente-se satisfeito em prestar as suas homenagens ao cidadão prestigioso que tem a estima de todos os benfeitenses e dos habitantes das terras circunvizinhas e deseja que ele ainda assista à realização de um outro melhoramento em perspectiva: a continuação da estrada até ao Monte Frio.

Usa a seguir da palavra o Sr. Capitão Fernandes, que, apesar do seu precário estado de saúde, não quis deixar de pessoalmente tomar parte na justa consagração que se estava prestando. A Câmara - disse - honrou-se com a homenagem que prestou, pois Leonardo Mathias é um exemplo para todas as freguesias que queiram progredir. Rende o preito da sua admiração pelo Sr. Dr. Mário Mathias, que naquela hora solene compartilha também da alegria de que todos os benfeitenses se sentem possuídos ao ver tão justamente homenageado seu venerando pai. E concluiu aconselhando o povo da Benfeita a que continue unido para a conquista de novos melhoramentos.

Levanta-se, por último, o Sr. Leonardo Gonçalves Mathias, que é acolhido por uma prolongada salva de palmas. Agradece a Deus e à Virgem o ter-lhe proporcionado a satisfação de ainda ali se encontrar no meio de tantos amigos e testemunha, profundamente emocionado, o seu reconhecimento pela homenagem que lhe foi tributada, frisando que ela deveria ir antes para todos quantos, com os seus generosos donativos, ajudaram a levar a efeito o sonho de todos os benfeitenses: a estrada - aspiração de tantas dezenas de anos, só agora tornada possível realidade. Recordou os nomes dos que para essa realização concorreram e já não pertencem ao número dos vivos, como o Conselheiro Dr. Albino de Figueiredo, Antonino Gonçalves e António Dias, e aludiu aos vivos, citando, entre outros, Alfredo d'Oliveira, Venâncio dos Santos, António Nunes da Costa, Firmino Penedo, António Rosa, João Ferreira da Costa, Padre António Quaresma, António Nunes Leitão, António José Filipe, Dr. Alberto Vale e João d'Almeida Júnior. Referiu-se também à acção desenvolvida pelo Sr. Capitão Fernandes, durante os longos anos em que tem presidido aos destinos deste concelho, e associa-se à manifestação de apreço que nesse dia lhe vai ser também prestada e de que é merecedor, pelo seu esforço e tenacidade, pela obra que realizou adoptando uma só política: a do engrandecimento de todas as terras do município, a começar pela sua sede.

Ao terminar, calorosos vivas são levantados ao homenageado, a quem as Srªs D. Olívia Costa e D. Maria do Patrocínio Rosa Quaresma, entregam ramos de flores naturais.

Placa junto à Praça Simões DiasA filarmónica toca o hino nacional e, em seguida, um cortejo se forma para o descerramento das lápidas, acto a que procede o Sr. Presidente da Câmara Municipal.

O nome do Sr. Leonardo Mathias é aclamado e sobre ele e os assistentes são despejados açafates de flores.

Em casa da ilustre família Gonçalves Mathias é, em seguida, servido um finíssimo "copo-d'água", durante o qual se trocaram amistosas saudações, brindando os Srs. Frederico Simões, Vice-Presidente da Câmara Municipal, Padre António Quaresma, pároco da freguesia, Dr. José Caldeira, Dr. António Luiz Gonçalves, etc.

Cumulam a todos de atenções a Sr. D. Maria d'Assunção Gonçalves Mathias, esposa do homenageado, e as Srªs D. Maria Manuela de Sanches Mathias e D. Maria Amélia de Brito Mathias, respectivamente esposa e filha do Sr. Dr. Mário Mathias.

Estava terminada a festa de consagração a um homem que viu reconhecidos pelo povo da sua terra os esforços que por ela vem despendendo, e com a qual este jornal jubilosamente se congratula também.

A filarmónica de Côja percorre ainda as ruas da localidade, e os visitantes que acorreram à Benfeita começaram a retirar, satisfeitos por se terem associado a um merecidíssimo preito de justiça.

C.A. 2884_3/4 - 29/09/1942

A 4 de Janeiro de 1951, o Jornal "A Comarca de Arganil" publicou a notícia do funeral do Dr. Leonardo Gonçalves Mathias, para o cemitério do Alto São João, em Lisboa:

Leonardo Gonçalves Mathias, 03/01/1940 FALECIMENTOS

Leonardo Gonçalves Mathias

LISBOA, 31 - No hospital de Santa Marta, para onde fôra transportado há dias, da sua residência nesta cidade, faleceu ontem à tarde o Sr. Leonardo Gonçalves Mathias, respeitado e muito querido componente da colónia da Benfeita e antigo funcionário do Ministério das Finanças.
O saudoso extinto que resistira, até agora, às sucessivas crises da doença que o apoquentava, morre com 78 anos e deixa em todas as pessoas que com ele conviveram as melhores e mais imperecíveis recordações. Era um carácter de eleição, chefe de família exemplar e grande amigo da sua terra.

Deixa viúva a Srª D. Maria de Assunção Nunes Mathias, era pai dos Srs. Drs. Marcello Mathias, embaixador de Portugal em Paris e Mário Mathias, inspector da Administração Política e Civil, do Ministério do Interior, sogro das Srªs. D. Fedora Zaffiri Mathias e D. Maria Manuela Sanches Mathias, avô da Srª D. Maria Amélia Mathias Parente e cunhado do Sr. Dr. José Elias Gonçalves, Secretário-Geral do Governo Civil de Braga.

Após o falecimento, o corpo do extinto foi conduzido para a igreja dos Anjos, de onde, hoje, às 16 horas, saiu o funeral para jazigo no cemitério do Alto de S. João. E embora o passamento não tivesse sido divulgado, foram em elevado número as pessoas que apresentaram condolências à família enlutada e aguardaram no cemitério a chegada do carro funerário. Entre outras, fixámos as seguintes, que acompanharam o Sr. Dr. Mário Mathias, esposa e filha, nesta jornada dolorosa: Virgílio Maia, Dr. Óscar Fragoso e esposa, Comendador António Duarte Martins, Dr. António Luís Gonçalves, Francisco Moreira Vinagre, José Ricardo da Costa, Eduardo Filipe, Dr. José Martins da Fonseca, José Augusto Rosário Dias, Capitão Joaquim Vieira Justo, Capitão Parreiral da Silva, Dr. Ângelo da Fonseca Rosário Dias, Dr. Fernando Maia Vasconcelos Dias, António Joaquim Júnior, António José Bravo, Adelino dos Santos, Luís dos Santos, José Martins Ribeiro, José Luciano Correia Amaral, Octávio Amaral, José Martins Pereira, José Rosário, D. Maria de Assunção Peres, D. Maria do Carmo, Manuel Pedro, César Gonçalves, António Simões Quaresma, Tenente Joaquim Pina, Eng. Ângelo Rosário, Luís Rosário Duarte Carvalho, António dos Santos Tomé, D. Lúcia Duarte Rosário Carvalho, António Rosário Oliveira Dias, Dr. Luís Gonzaga Oliveira, D. Deolinda Costa, António Augusto, Aníbal Filipe, António Gonçalves Pereira, Inspector Escolar Manuel Rego, José Pereira da Fonseca, Augusto Alcoforado, Eugénio Ferreira Soares, José Dinis, Augusto Costa, José M. Pereira, António Ferreira Gomes, João Figueiredo, Sérgio Martins, José Martins da Cruz, Humberto Rosário da Fonseca, Franco Nunes, Joaquim Bernardo, Armindo Pereira, Américo Pereira, Jaime Martins dos Santos, Eduardo Jorge Rodrigues Júnior, etc.

A Liga de Melhoramentos da Freguesia da Benfeita, de que Leonardo Gonçalves Mathias era presidente da Assembleia Geral, estava representada pelos directores Srs. Tenente-Coronel Dr. Elisio da Fonseca, António Correia, José Rosa Gomes, António Pereira, António Nunes Leitão, Humberto Rosário da Fonseca e José Dias. O estandarte associativo cobriu a urna e, sobre esta, foi deposta uma palma de flores, oferta dos corpos gerentes da Liga.

No próximo sábado, às 11 horas, será realizada missa por alma do extinto na igreja dos Anjos e em 28 de Janeiro far-se-à a trasladação da urna contendo os restos mortais para o cemitério da Benfeita.

A COMARCA DE ARGANIL, que tinha no saudoso extinto um bom e dedicado amigo, fez-se representar no funeral pelo seu redactor na capital, Luís Ferreira, e reitera as mais sentidas condolências à família enlutada.

C.A. 3706_3 - 04/01/1951

A 20/01/1951, A Comarca de Arganil publicava uma extensa lista com o nome de centenas de pessoas que tomaram parte nas cerimónias fúnebres e, a 30 de Janeiro, o mesmo jornal viria a publicar uma reportagem sobre a trasladação e o funeral no cemitério da Benfeita:

FALECIMENTOS

Campa de Leonardo Mathias e esposaMais de mil pessoas acompanharam à sua última jazida os restos mortais do estimado benfeitense Leonardo Gonçalves Mathias

Sepultura de Leonardo Mathias e esposa, no cemitério da Benfeita

Repousam já, para sempre, no cemitério da sua aldeia, os restos mortais do nosso saudoso amigo Leonardo Gonçalves Mathias que no dia 30 do mês passado faleceu na Capital.

Constituiu o préstito fúnebre da sua trasladação uma impressionante e grandiosa manifestação de pesar, pelo enorme número de pessoas que nele tomaram parte e ainda pela elevada categoria intelectual e moral da maior parte delas.

O que impeliu toda essa gente ao cumprimento deste imperioso dever cívico e social? As belíssimas qualidades morais e de carácter do extinto!
Assim, homenageando esse exemplaríssimo chefe de família que tão dignamente soube cumprir o seu dever, educando pela palavra e principalmente pelo exemplo, os seus filhos dilectos que, em tudo, são absolutamente dignos daqueles de quem vêm - pessoas que todos estimam e apreciam pela sua impecável linha de conduta social, pela sua inteligência e pela boa vontade, de que a todos dão as provas mais evidentes, de serem úteis a quantos os procuram, para os ajudar a solucionar os problemas da sua vida, quando disso necessitam.

O prestigioso benfeitense amou, também, até ao sacrifício, a sua terra natal, promovendo e auxiliando todos aqueles melhoramentos a que ela tinha direito.

A sede da freguesia da Benfeita é hoje uma terra muito progressiva e, para o ser, contribuiu imensamente a sua estrada de acesso que, pelas dificuldades a vencer para a sua construção, e ainda pela sua extensão, exigiu grande soma de esforços da parte de todos os seus habitantes e, principalmente, dos mais entusiastas, entre os quais figurava sempre na primeira linha o querido morto.

Foi, finalmente, o saudoso Leonardo Mathias, o cidadão prestante e bondoso que todos os seus conterrâneos multo respeitavam.

Era ele uma pessoa de irradiante e comunicativa simpatia, exprimindo com muita facilidade os seus pensamentos e com a clareza de quem só diz o que é preciso.

Tinha o aspecto grave e sereno das pessoas sérias e honestas. Nunca afrontou o seu semelhante, antes tratando toda a gente com a gentileza que é própria das almas bem formadas.

Foram, pois, todos estes predicados tão apreciáveis que aquela multidão de pessoas de todas as categorias sociais quis homenagear e acompanhar à sua última jazida, no impressionante silêncio de que as almas se encontram possuídas nestes acompanhamentos, em que só a prece sentida se vai doce e suavemente ciciando baixinho, a pedir a Deus o descanso eterno de quem vai a enterrar.

A essa prece colectiva nos associámos também, como era nosso dever de crente sincero, em nosso nome pessoal e ainda no do jornal que o querido morto tanto apreciava, pelo seu esforço na propaganda dos melhoramentos da sua terra natal e na de todos os demais da nossa região. Por tal motivo nos curvamos perante os restos mortais do ilustre extinto que tanto honrou com a sua actuação sincera e honesta e com a sua inteligência, a terra em que nasceu.

Está toda a sua ilustre família de luto pesado pelo falecimento do seu chefe tão querido. Mas deve servir-lhes de lenitivo, tão salutar e tão justo, o convencimento de que todos pranteiam e sentem a sua dor pelo multo que queriam e estimavam o chorado extinto.

A trasladação dos restos mortais do querido benfeitense efectuou-se anteontem, saindo de madrugada a urna funerária do cemitério do Alto de S. João, em Lisboa, onde se achava depositada.

Como estava previsto, verificou-se às 10 horas a chegada à Benfeita do cortejo, constituído por dezenas de automóveis em que viajavam pessoas de família do extinto — entre as quais seu filho Sr. Dr. Mário Mathias, inspector da Administração Política e Civil do Ministério do Interior, sua nora Srª D. Maria Manuela da Silva Sanches Mathias e sua neta Srª D. Maria Amélia Mathias Teixeira Parente — e numerosos amigos de Lisboa, Alcobaça, Coimbra, Braga, Aveiro, S.Martinho da Cortiça, etc. Em Cója, mais automóveis e três camionetas, idas desta vila, se incorporaram no cortejo.

Impossivel tomar nota das pessoas que tomaram parte no funeral, pois o seu número ascendeu a mais de 1.000.

A urna, depois de retirada do carro fúnebre, foi colocada na carreta da Liga de Melhoramentos da Freguesia da Benfeita, após o que o funeral se organizou, indo à frente as Irmandades de Nossa Senhora de Assunção e Santíssimo, da Benfeita, e a de S. Nicolau, dos Pardieiros, e as crianças da Cruzada Eucarística.

Sobre o ataúde foram colocadas várias coroas e ramos de flores naturais e artificiais.

Através das ruas da localidade, o extenso cortejo foi até ao Tanque, onde parou alguns momentos, em religioso silêncio, junto da residência do finado, seguindo depois para a igreja, aí tendo lugar a missa de corpo presente, celebrada pelo Rev. José Rodrigues Redondo, coadjutor da freguesia. O Rev. Nunes Pereira, de Côja, que proferlu algumas palavras de homenagem ao morto, explicava as cerimónias litúrgicas da missa.

Finda esta, reorganizou-se o funeral, cuja extensão ia da igreja até ao Cemitério da Corga.

Tomaram parte no préstito as filarmónicas de Arganil e do Barril de Alva, que executaram sentidas marchas fúnebres.

Nos olhos de muitas pessoas viam-se lágrimas, nota bem frisante da falta que vão sentir os benfeltenses com o desaparecimento deste seu dedicado conterrâneo.

Junto do coval onde o saudoso extinto foi sepultado e onde já repousavam os restos mortais dos seus progenitores, assim sendo cumprido o desejo que sempre manifestara em vida, proferiu comoventes palavras de saudade o Sr. António José Bravo, residente em Lisboa, amigo de Leonardo Mathias. A Benfeita chora-o — disse — e tem razão para isso, pois com a sua morte perde um benfeitor, que adorou a sua terra, por ela tendo uma paixão idolatrada, um culto fervoroso, depois do que dedicava à família, que estremecia também; e frisa que há muito não assistia a tão grande manifestação de sentimento como aquela, o que mostra que o povo da Benfeita sabe ser grato a quem foi seu amigo, amigo que ele também perdeu.

Falou, depois, o Sr. José Rosa Gomes que, em nome da Liga do Melhoramentos da Freguesia da Benfeita, disse da mágoa que todos sentiam com o desaparecimento do grande benfeitense.

Em breves palavras, que aquela hora dolorosa e de angústia não permitia grandes considerações, o Sr. Dr. José Elias Gonçalves, Secretário-Geral do Governo Civil de Braga e cunhado do extinto, testemunha, em seu nome e no de toda a família, a sua rendida gratidão a todos quantos ali vieram dizer o último adeus a quem foi um dedicado amigo da freguesia em que nasceu. Este dilúvio de afectos e de simpatias — disse, visivelmente impressionado — a que os seus olhos, rasos de lágrimas, assistiam, comoveram-no. Leonardo Mathias — vincou — viveu para três cultos que lhe enchiam a vida: a dedicação pela família, a dedicação pelos amigos e a dedicação pela sua terra. Ele era dotado de uma paixão bairrista, um atleta de energia indomável, dominado por quantas aspirações incendiavam os filhos da Benfeita; e, assim, a sua memória ficará intacta em todos os benfeitenses que têm amor à aldeia onde nasceram. Findou pedindo a Deus o descanso eterno da sua alma.

Para as borlas do ataúde, foram organizados os seguintes turnos:
1º. José Luciano Correia Amaral, Virgílio Maia, José Gaspar, Armando Gonçalves Pereira e António Graça;
2º. Capitão José Vieira Justo, José Augusto da Fonseca, Manuel Henriques, José Carlos e Adelino F. Nunes;
3º. Dr. António Luis Gonçalves, Frederico Simões, José do Rosário Gonçalves, Emídio Freire, António Castanheira e Joaquim Bernardo;
4º. José Alves Esteves, Eduardo Filipe, Abel Perdigão, Francisco Moreira Vinagre e Veríssimo Duarte;
5º. Dr. Alfredo de Brito Pereira, Dr. Casimiro Águeda de Azevedo, António Águeda, Albano Pires Dias Nogueira, José Francisco Filipe e José Pedro Vasconcelos;
6º. Dr. Vasco de Campos, Dr. Parente dos Santos, Alfredo Nunes dos Santos Oliveira e Casimiro de Azevedo.

De entre as multas entidades que se fizeram representar, conseguimos tomar nota das seguintes: Câmara Municipal de Arganil, pelo seu presidente, Sr. Dr. António Luis Gonçalves e vereador Sr. Jaime da Costa Matias; a Junta Provincial da Beira Litoral, pelo seu chefe de secretaria Sr. José Alves Esteves; a Casa da Comarca de Arganil, pelo Sr. António Correia; a Liga de Melhoramentos da Freguesia da Benfeita, pelos Srs. José Rosa Gomes, António Correia, António Pereira, José Dias e pela delegação; a Liga de Melhoramentos dos Pardieiros, pela sua delegação; a Misericórdia de Arganil e os Srs. Dr. Eugénio de Lemos, Governador Civil de Coimbra, Conselheiro Dr. Baptista Rodrigues, de Lisboa, Capitão J. Simões Martinho, de Coimbra, Comendador António Duarte Martins, do Estoril, e Francisco Filipe, de Côja, pelo Sr. Dr. António Luís Gonçalves; o Sr. Dr. Lisboa Mendes, Subdelegado de Saúde Concelho, pelo nosso colega José Castanheira Nunes; a Casa Regional de Vinhó, pelo Sr. Joaquim Gregório Filipe; os Srs. Dr. Costa Rodrigues, Secretário-Geral do Governo Civil de Coimbra, Dr. Baltasar de Carvalho Alberto, médico veterinário, Dr. José Alves Pais e Alfredo Costa, pelo Sr. Frederico Simões; o Sr. António Nunes Leitão, pelo Sr. João Jorge; o Sr. Dr. Bernardo Baptista Ferreira, Subdelegado de Saúde de Góis; o Sr. Dr. Alberto Vale, pelo Sr. Eduardo Filipe, etc. etc.

O Município ia também representado pela respectiva bandeira.

A Associação dos Bombeiros Voluntários Argus fez-se representar pelo seu Inspector-Comandante Sr. Frederico Simões e pela corporação, com o seu pronto-socorro e o respectivo estandarte.

Dirigiu o funeral o Sr. José Rosa Gomes, tesoureiro da L. M. F. B.

A Comarca de Arganil fez-se representar pelos seus Director e Editor.

O Sr. Dr. Mário Mathias, filho do saudoso finado, recebeu os seguintes telegramas:

LISBOA, 27, às 16:35
— Antigo professor da Benfeita, amigo e companheiro de lutas pela estrada do querido morto, associo-me à dor inconsolável que neste momento punge, não só a família enlutada, mas toda a Benfeita, acompanhando-o em pensamento à sua última morada. Igualmente junto as minhas fervorosas preces para que a sua alma seja tão bem recebida no Céu quanto bem soube em vida dar um nobre exemplo de esforço e dedicação pelo bem colectivo, concretizado no da sua terra. Saudoso amigo, companheiro leal e inesquecível de lutas, apesar de só tarde ter sabido do seu passamento, aqui estou também no triste momento, fazendo justiça ao seu carácter, à sua alma de eleição, aos seus ilimitados sentimentos de pai. Paz à sua alma.
— João Ferreira da Costa.

QUELIMANE (ÁFRICA ORIENTAL), 26, às 10:20
— A V.Exª e sua Exmª família, enviamos sentidos pêsames.
— José Pereira, Casimiro Correia, António Dias.

C.A. 3717_3 - 30/01/1951


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Homenagem do povo