HISTÓRIAS  DA  NOSSA  TERRA

Tempos difíceis, mas tempos inesquecíveis!

Adelina FernandesMaria Adelina Dias nasceu na Benfeita, em 25/11/1929. É filha de Antonino Dias e de Jesuína dos Reis e neta paterna de Artur Dias e de Amélia da Conceição, e materna de José dos Reis Júnior e de Maria da Assunção. Baptizada na Igreja de Santa Cecília, em 20/04/1930, foram seus padrinhos José Augusto Correia Gonçalves e Etelvina Dias de Figueiredo, todos da Benfeita.

Com 9 meses de idade partiu com a sua mãe para Lisboa, para se juntarem a seu pai que para lá tinha ido trabalhar, pouco tempo depois de ter casado. Mais tarde, logo que a vida lhes permitiu, passaram a ir de férias à Benfeita, quase todos os anos.

Em 1941, o seu pai embarcou para os Estados Unidos a bordo do navio de passageiros Serpa Pinto, com 34 anos de idade e a profissão de cozinheiro de bordo, tendo-se alistado no exército norte-americano, em 1942, com a mesma profissão, e aí tendo permanecido até ao final da Segunda Guerra Mundial, em Setembro de 1945. Depois da guerra estabeleceu-se com um restaurante, em Elizabeth, Nova Jersey.

Em 22/12/1949, a Maria Adelina, com 20 anos de idade, partiu mais uma vez com a mãe para junto do pai, tendo-se casado em 17/12/1950, na cidade de Elizabeth, com Ernesto (Ernest) Henrique Fernandes, um luso-americano natural de Nova Iorque que, tal como o seu pai, também tinha estado no exército norte americano durante 4 anos, no Pacífico, e que viria a conhecer no restaurante do seu pai. Deste casamento nasceu uma filha, Maria Dália Fernandes, em 30/04/1952.

O seu pai Antonino, viria a falecer em 26/01/1953, com apenas 46 anos de idade devido a uma doença renal; o seu marido Ernesto, em 27/07/1974, com 53 anos de idade e a sua mãe Jesuína, em 27/12/1997, com 90 anos de idade. A sua filha viria a ser a primeira luso-americana a ocupar um cargo público na presidência da Câmara Municipal de Sea Bright, New Jersey, sendo eleita Mayor (Presidente da Câmara) em 01/01/2008, cargo que desempenhou até 31/12/2011, embora anteriormente também tivesse desempenhado o cargo de vereadora democrata, desde 1996. Faleceu nova, em 26/02/2012, com apenas 59 anos de idade, após doença prolongada.

A Maria Adelina Fernandes é o exemplo dos filhos (neste caso, de uma linda donzela de 20 anos) que, deixando para trás amigos e paixões, tiveram de acompanhar os seus pais que, na grande aventura da emigração, procuraram uma vida nova para sustentar as suas famílias. Deixaram o nosso país, trabalharam, venceram todas as dificuldades e construíram uma vida melhor, nunca deixando de amar a sua pátria, nem esquecendo as suas origens.

A sua mais recente visita a Portugal terminou em 07/09/2022, tendo visitado a Benfeita e revisto muitos amigos na Benfeita e em muitos outros lugares. Regressou aos Estados Unidos, local onde reside e onde estão sepultados seus pais, marido e filha, e onde tem amigos sem conta, cuja amizade conquistou ao longo dos 73 anos que já lá vive.

Do outro lado do Atlântico, a uma distância de aproximadamente 5.500 kms, entre Elizabeth NJ e a Benfeita ARG, a Maria Adelina que todos conhecemos, com os seus 93 lindos e graciosos anos, partilha algumas das suas memórias connosco, da forma que lhe é mais peculiar, bem disposta e sorridente:

««« Fui para Lisboa com os meus pais com 9 meses de idade e aí fui criada, embora todos os anos fosse de férias para a Benfeita, durante os meses de Agosto e Setembro!
Foram tempos maravilhosos pois tínhamos um grupo com raízes na Benfeita, todos mais ou menos com a mesma idade. Uns vinham do Porto, outros de Coimbra e outros de Lisboa. O Dr. Elísio da Fonseca, coronel médico e o seu filho Dr. José Martins da Fonseca, juíz do Tribunal Constitucional, faziam parte desse grupo, juntamente com a Ilda Prata, a Letinha, a Noémia Prata, a Edite Nascimento, a Guidinha Oliveira, a Guidinha do Porto e a São Oliveira, quando podia.
Passeávamos na estrada, sentávamo-nos à sombra dum castanheiro à Ponte Fundeira e dizíamos tolices próprias das nossas idades. Ríamo-nos imenso, trabalhávamos na quermesse na Sra. das Necessidades e dançávamos nas festas.
Eram tempos de felicidade e todos adorávamos a Benfeita. O Dr. Elísio até dizia: "A Benfeita é a capital do mundo!".

A Guidinha Oliveira tinha uma grafonola que o pai lhe tinha trazido da América do Norte e, então, juntávamo-nos todos a dançar na casa dela ao som da música dos seus discos.
Um dia, em que se encontrava presente o Jorge Frias, a quem carinhosamente tratávamos por "Padre Jorge", pois andava a estudar para padre, a Letinha estava a ensinar-lhe a dançar o tango. Como isso fosse do total desagrado das tias dele, e que a todo o momento poderiam aparecer, a Guidinha foi incumbida de ficar de vigia, observando a rua pela janela; mas, a sentinelazinha distraiu-se pois também estava interessada em ver os novos passos de dança e, de repente, apareceu a tia do "Padre Jorge" à porta. Estarrecida com o que viu, gritou:
— Meu Deus, mas que sacrilégio!
E o pobre Jorge lá foi forçado a retirar-se do convívio dos seus amigos, seguindo contrariado à frente da tia ouvindo um interminável sermão!

Mais tarde, numa das minhas vindas a Portugal, vi-o na Benfeita! O Dr. Jorge, afinal, tinha-se formado em Direito e já estava casado e com 2 filhos!

Tempos magníficos com recordações maravilhosas inesquecíveis! »»»

ADELINA FERNANDES
Sea Bright, New Jersey - USA (mas com o coração na Benfeita)

 

Ver também:
Histórias da Nossa Terra