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Festa da Espiga é uma festa profundamente rural ligada ao
aloirar das searas e à multiplicação das flores que anunciam
o pão e a vida e que compreende, além das cerimónias religiosas
da liturgia cristã, certas práticas específicas tradicionais,
revelando aspectos verdadeiramente ancestrais, relacionados
com as nossas próprias raízes culturais.
Esta manifestação
tradicional tem lugar na Quinta-Feira de Ascensão, em que
se comemora a subida de Cristo ao Céu, fechando um ciclo
de quarenta dias que se abriu pela Páscoa. Sempre a Ascensão
foi um dia de festa nestas terras, mesmo não sendo dia feriado.
Hoje, essa prática
já desaparecida, apenas está na memória de alguns.
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No
"Dia da Espiga", dia sagrado da terra, rapazes
e raparigas largavam a enxada e saíam para o campo, de manhã
cedo, aproveitando os dias cheios de sol e a imensa alegria
que emana da terra e dos homens, para folgarem e colherem
uma espiga de trigo e um ramo de oliveira, que haveriam
de compor o ramo da espiga. Para além destas espécies, o
ramo poderia incluir, ainda, espigas de outros cereais -
centeio, cevada, aveia, etc., esgalhos de cepa, pés de alecrim
e de rosmaninho florido, papoilas, rosas, malmequeres e
margaridas. Este ramo pendurava-se algures dentro de casa
e aí se conservava durante todo o ano, até ser substituído
pela "Espiga" no ano seguinte. "Bendita
é a terra que é farta e louvado seja o Senhor!"
- Esta é a essência da festa, um hino à força e à generosidade
da Natureza de que depende a nossa vida.
É crença do povo
que a espiga apanhada na quinta-feira da Ascensão proporciona
felicidade e abundância no lar. Aliás, a espiga de trigo
propriamente dita representa a abundância de pão, o ramo
de oliveira simboliza a paz, as flores amarelas e brancas
respectivamente o ouro e a prata que significam a fartura
e a prosperidade.
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O
"Dia da Espiga", que de alguma forma marcava o
início da época das colheitas, assumia uma importância especial,
uma vez que se aproveitava esta data, para as manifestações
tradicionais mais características desta freguesia rural.
Os alunos da escola
primária formavam pequenos grupos e saíam para as redondezas,
em busca daquele que seria o melhor ramo de espiga da escola.
Depois, com a sala florida, ouviam os ensinamentos do mestre
e, no final, levavam os ramos para casa para os oferecerem
a suas mães.
Muitas destas crianças
mantiveram este hábito e, durante os anos seguintes,
continuaram a oferecer o "raminho da espiga" às
suas mães, sendo colocado pendurado, atrás
da porta principal da casa, até ao ano seguinte,
altura em que seria substituído por outro, para que
trouxesse sorte, fartura, amor, paz, alegria e prosperidade
ao lar.
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