BENFEITA
Faleceu
Fernando Guilherme Ferreira
por:
CARLOS DA CAPELA
Telefona-me
o meu muito estimadíssimo amigo e parente próximo Carlos Cerejeira,
homem avisado sabedor, de são conselho, otimista por natureza
e solidário sempre. Os seus telefonemas são sempre uma lufada
de ar fresco e de vida mas, desta vez, a sua voz triste e por
demais pousada não podia indiciar boa nova. Assim foi: O nosso
Fernando Ferreira tinha falecido.
Perdeu
a Benfeita um dos seus filhos que muito lhe queria. Aqui exerceu
sempre com sentido do bem comum cargo de responsabilidade e
dever cívico. Foi presidente da Assembleia da Freguesia da Benfeita.
Vimo-lo sempre com uma ação pedagógica sobre a discussão e resolução
dos problemas, com bom senso, espírito de conciliação, trabalho
desinteressado para o bem de todos.
Mas muito antes, teve papel de relevo na dinamização cultural
da Benfeita, as suas qualidades de ator, que o era a sério e
entendedor da arte, levou-o a produzir e realizar grandes noites
de teatro que galvanizava a assistência. Deve-lhe a Liga de
Melhoramentos da Benfeita e todos nós, palavras e gestos de
reconhecimento e gratidão. Mas, se a sua ação como cidadão empenhado,
também lhe devemos, e não é pouco, a sua presença assídua e
certa na Benfeita.
O
seu convívio, lhaneza no trato, amabilidade, conversa fluída
e bem-humorada, com graça, fazia dele um ser apaixonante. A
Benfeita estava-lhe no coração e esta paixão nasceu-lhe quando
na Igreja de S. João de Deus, a 19 de Abril de 1964, em Lisboa,
casou com a estimada benfeitense Maria Luizete Rosário Dias
Ferreira, filha de um bairrista e devoto benfeitense José Dias
e de D. Assunção de Rosário Dias.
Perdeu
também a Benfeita, o poeta Fernando Ferreira, que nos deixou
alguma da sua poesia dedicada à nossa aldeia. A Benfeita colocou
em tempos, e bem, uns versos seus na Fonte das Moscas:
Tem
por graça esta graça feia
“Fonte das Moscas” - é demais grotesca
Porém, ao povo desta minha aldeia
Eu pago a graça dando-lhe água fresca.
E
ao visitante que até mim chegar
Sacio-lhe a sede, fico satisfeita!
E dou-lhe ainda para admirar
A minha aldeia… a linda Benfeita.
Também
há pouco, Alfredo Martins, como presidente da Junta de Freguesia
da Benfeita, homem atento e sentido agudo e conhecedor da importância
do património cultural das nossas terras e das nossas gentes,
colocou no Jardim Simões Dias um poema seu, que ficará ali para
todo o sempre a lembrar ao viandante que passa o nome do Poeta
Benfeitense.
Fernando
Ferreira, figura na antologia dos poetas Benfeitenses organizada
por Carlos da Capela (1988) e também no Dicionário de Autores
da Beira Serra, organizado por João Alves das Neves (2008),
donde se transcreve:
“Ferreira,
Fernando Guilherme
Nasceu a 17 de Janeiro de 1931. Filho de Serafim de Jesus Ferreira
e de Maria da Piedade Guilherme de Almeida Ferreira, herdou
as ligações à Beira-Baixa sendo igualmente prolongadas as suas
estadas na casa da Benfeita.
Para além de contos e poemas publicados em diversos jornais,
deu à estampa em 1989 o livro: “Poemas” de leitura impetuosa
e cristalina num autor que tem colecionado inúmeros e merecidos
primeiros prémios. Este primeiro livro é dedicado às três mulheres
de sua vida: Maria da Piedade, Maria Luizete e Paula Alexandra,
respetivamente, mãe, esposa e filha do autor.”
O
livro “Poemas” é um objeto lindíssimo também do ponto de vista
gráfico, que é autora a sua filha Paula Alexandra. Vai a Editorial
Moura Pinto mover todos os esforços, junto à família, para que
se publique a obra do poeta e do contista.
Ficará
o escritor e o homem bom para sempre no coração dos Benfeitenses,
que lhe perpetuaram a memória no espaço público da terra de
Santa Cecília, protetora dos músicos e poetas, que decerto lhe
velará pela sua alma de poeta que sempre procurou a beleza,
o amor e a felicidade.
CARLOS
DA CAPELA
in:
A COMARCA DE ARGANIL - 16/04/2020
|