JOSÉ SIMÕES DIAS |
|
||||||||||||||||
|
||||||||||||||||
Com 10 anos concluiu os seus estudos na escola primária da Benfeita, tendo por mestre o padre António Pedro Nunes Teixeira, seu parente e velho liberal, muito acostumado ao uso da palmatória e aos puxões de orelhas aos seus discípulos, que sofrera as torturas do exílio e das prisões de Almeida, tendo-se ordenado padre depois de enviuvar, após concluir os estudos interrompidos pelo casamento. Daí seguiu para Pedrógão Grande, no distrito de Leiria, onde foi estudar Latim com o mestre-régio João Cabral de Brito, pedagogo ferrenho e ignorantaço, tendo ficado a morar com o seu tio, o reverendo padre Manuel Simões Dias Cardoso, pároco desta freguesia. Regressou temporariamente à Benfeita, de onde saiu aos 13 anos para casa de um parente, em Coimbra, onde a sua vida foi sempre eivada de rara parcimónia e de sucessivas dificuldades. Cedendo à vontade dos parentes, que o desejavam clérigo, fez os estudos preparatórios e inscreveu-se em 1858, no Seminário de Coimbra, que terminou aos 17 anos de idade. Ao atingir a maioridade matriculou-se na Universidade de Coimbra,
Faculdade de Teologia, sendo forçado a leccionar dentro e fora de
casa por forma a sustentar a sua independência, tendo concluído a
sua formatura em Teologia no ano lectivo de 1867-1868, a 3 de Julho
de 1868. Ao longo dos 5 anos que durou o seu percurso universitário
foi distinguido com honras de Accessit*
desde o 1º ano, e com vários prémios e distinções, tendo sido convidado
para lente, cargo que não viria a aceitar. A 3 de Setembro de 1868, com 24 anos de idade, casou-se em Coimbra na Igreja da Sé, de madrugada, com a sua muito amada D.Guilhermina Simões da Conceição, sem o conhecimento dos seus parentes que o queriam padre, tendo ido viver para a cidade de Elvas, aonde foi exercer a actividade de professor da cadeira de Português, Francês, Latim, Economia Rural e Administração Pública, tendo sido nomeado professor vitalício por decreto de 30 de Novembro de 1868, após concurso público. Aqui, experimentou, pela primeira vez, as suas armas de polemista, batalhando nas ardentes pugnas, que então se feriram contra a Nação, o Bem Público e outras folhas, ditas "reaccionárias", que não lhe perdoavam o desvio para fora dos arraiais teológicos. O seu "campo de batalha" era o jornal «A Democracia», de Elvas, onde colaborava com o reverendo Henrique de Andrade, seu companheiro e devoto admirador e a quem deve uma das mais calorosas biografias. A sua musa dilecta dos bons tempos de Coimbra, Guilhermina, sucumbiria, vítima de doença denominada "varíola grave", na melhor quadra de sua vida, em 14/04/1869, com 24 anos de idade, flor tão modesta como formosa que se desfolhava em pleno viço, por ironia da sorte, ao desabrochar das flores primaveris, sendo sepultada no cemitério de S.Francisco, na cidade de Elvas. Em Agosto de 1870, transfere a sua residência para Lisboa, onde obtivera por concurso, um modesto emprego na Secretaria da Justiça. Daqui, partiu para Viseu, no ano seguinte, por nomeação do governo, para ir leccionar a cadeira de Oratória Poética e Literatura, no Liceu Nacional de Viseu. Um ano depois da sua chegada a Viseu, casou-se, pela segunda vez, em 26 de Setembro de 1872, com D. Maria Henriqueta de Meneses e Albuquerque. Deste enlace proveio uma única filha, Judith de Meneses Simões Dias que nasceu a 13 de Julho de 1873. Eleito deputado, às cortes, por Mangualde, em 1879, estreou-se como orador parlamentar de excelentes recursos, ao propor que fosse considerado dia de gala nacional, o dia em que se comemorava o tricentenário da morte de Camões. Três legislaturas mais o tiveram por deputado: por acumulação de votos (12/12/1884 - 07/01/1887); por Pombal (02/04/1887 - 10/06/1889) e por Mértola (19/04/1890 - 02/04/1892). Sua esposa resolvera desertar de Viseu, onde a escandalizavam os seus rasgos tribunícios e artigos de polémica, indo refugiar-se no meio dos rosmaninhos floridos da pequena Benfeita. Transferido de Viseu, em 16 Setembro de 1886, foi colocado como professor no Liceu Central de Lisboa, tendo acumulado com as funções de Chefe de Secretaria. Com os seus modestos recursos consegue edificar, desde os alicerces, um despretensioso mas confortável lar doméstico, em 1891. Em 1892, Simões Dias, ferido nos seus brios e largos serviços, pela ingratidão dos partidários dirigentes, abandona a actividade política. «Mal empregado descaminho de 15 anos!». Que proventos, que honrarias, que posições deu a negregada política a Simões Dias? A política não é a arte de bem governar, como se pensava e dizia na infância da palavra; é o «barracão de feira franca, aonde primeiro chegam os que mais atropelam, gritam e ousam». Em Julho, o seu casamento sofre danos irreparáveis e viu-se coagido a desfazer o seu lar, alugando-o a estranhos, indo viver com a sua filha para casa alheia. Em 29/11/1892, ocorre o seu desquite conjugal, com separação de pessoa e bens, conforme escritura do tablião Barcelos. Em 1895, a sua filha Judith, então com 21 anos de idade, deixa a sua companhia indo viver para Coimbra, para casar em Fevereiro, com o seu primo Carlos Simões Dias de Figueiredo. Manda, então, construir uma casinha, composta de rés-do-chão e primeiro andar, no extremo do amplo e alongado quintal da sua antiga casa, que mantém alugada, longe do convívio mundano, onde trabalha como um recluso, na emenda e revisão da sua obra poética já conhecida e consagrada, e continuando a exercer a sua actividade no liceu lisboeta, e aí tendo permanecido até à sua morte. A 4 de Março de 1899, borrascoso Sábado de Inverno, pelas 3 horas da tarde, o seu corpo dava entrada no Cemitério dos Prazeres, em Lisboa, onde permaneceu, provisoriamente, no jazigo do amigo Júlio César dos Santos, onde ficou a aguardar trasladação para o jazigo de família, em Coimbra; o que aconteceu em 9 de Abril de 1900. Transportado de combóio para aquela localidade, foi ocupar o seu lugar, no dia seguinte, no jazigo do Arcediago José Simões Dias e sua família, seu primo, no Cemitério da Conchada. Em 13 de Outubro de 1999 os seus restos mortais foram transferidos para o Cemitério do Corga, na Benfeita, juntamente com os do seu tio, Padre José Simões Dias, onde repousam. |
||||||||||||||||
|
||||||||||||||||
De 1861 a 1870 colaborou em diversos periódicos
literários de Coimbra, como: o Tira-teimas, Prelúdios Literários,
Fósforo, Hinos e Flores, Harpa, Átila,
Academia, que fundou com Emídio Navarro
e Lopes Praça, Crisálida, em que se
associou com Teófilo Braga e Duarte Vasconcelos e, finalmente, na revista
Folha, dirigida por João Penha, seguindo
muito de perto o Parnasianismo. Notam-se influências do Ultra-Romantismo
e do Realismo, em especial nas suas obras de ficção.
Reuniu e prefaciou os Contos, de Álvaro do Carvalhal. Pode dizer-se que, neste período, não houve uma publicação literária em Coimbra que não tivesse a sua colaboração, podendo ainda mencionar-se: o Povo, País, Estrela da Beira e Comércio de Coimbra. Especializou-se no estudo da literatura espanhola, em especial no mito de D. Juan, tendo publicado alguns artigos sobre o assunto na revista Panorama. Em Lisboa dirigiu o jornal progressista Correio da Noite (1887); fundou com Cândido Figueiredo, Visconde de Sanches de Frias e Oliveira Simões, O Globo (1888), uma folha diária que durou 3 anos, até 1891; e foi redactor do Tempo (1891), com Lobo de Ávila e Oliveira Martins. |
||||||||||||||||
|
||||||||||||||||
Publicou em Coimbra: a colecção lírica
Relicário ou Mundo Interior (1863), primitiva edição das
Peninsulares; o poemeto Sol à Sombra (1864); a segunda edição do
Mundo Interior (1867), mais tarde integrada nas Peninsulares; o
livro de contos Coroa de Amores (1868) e a 2ª edição do livro A
Instrução Secundária (1883), discussão da lei orgânica de 14 de Julho
de 1880.
Publicou em Lisboa: os poemetos Ruínas (1871), ainda
impressos em Elvas; reimprime o livro "Coroa de Amores", com
o título Contos em prosa (1885), numa 2ª edição reformada e melhorada,
com a intenção clara de revogar a inexperiência literária da primeira
edição; o livro A Escola Primária em Portugal (1888), um exame
das condições em que se encontra o ensino primário português e um atado
de contos chamado Figuras de Cera (1888). Publicou em Viseu: o livro Compêndio de História Pátria (1872), para uso nas Escolas Primárias; Compêndio de Poética e Estilo (1872), mais tarde refundido na Teoria da Composição Literária; o livro Lições de Literatura Portuguesa, em cujas edições posteriores se chamou História da Literatura Portuguesa (1875) e atingiu 10 edições, aprovado pelo governo para as aulas de Literatura nos liceus e colégios; a 3ª edição do Mundo Interior (1876); o romance contemporâneo Às Mães (1877); traduz e publica A Flor do Pântano (1879), romance de Carlos Rúbio e a 1ª edição do livro Elementos de Oratória e Versificação Portuguesa, refundida depois na História da Composição (1881). Publica no Porto: o romance O Pecado (1878); traduz e publica Curso de Filosofia Elementar (1878), de Balmes; a 1ª edição do livro A Instrução Secundária (1880); traduz e publica a História da Filosofia (1881), de Balmes e escreve em colaboração e publica o livro Manual de História e Análise (1883).
|
|