COMPASSO  PASCAL

Uma tradição religiosa que se mantém

O Compasso ou Visita Pascal, na Benfeita, tal como num grande número de aldeias do nosso país, é o momento em que, segundo a tradição cristã, o pároco, com a ajuda de outros clérigos auxiliares, mordomos e leigos, visitam, no domingo de Páscoa, as casas dos paroquianos que previamente mostraram esse desejo e se inscreveram.

Vestidos a rigor com batina, sobrepeliz e estola, deslocam-se em cortejo, de casa em casa, anunciando a sua passagem com sinetas. Levam o Crucifixo de Cristo adornado de flores, fazem a benção das casas e anunciam festivamente a Ressurreição do Senhor.

Mas, o compasso é, simplesmente, a Cruz com a imagem do Crucificado que, para os cristãos, após a Ressurreição de Jesus, se tornou num sinal de redenção e glória.

Em cada uma das casas, após a benção inicial, os seus habitantes beijam a imagem de cristo, do crucifixo, em sinal de respeito, humildade, lealdade e reverência. O beijo na cruz é considerado um acto sagrado que traz bênção e felicidade. Olhando Jesus na sua paixão, nós vemos, como num espelho, os sofrimentos da humanidade e encontramos a resposta divina ao mistério do mal, da dor e da morte. "Obrigado, Jesus, obrigado Senhor."

Depois, é feita uma breve reza, seguindo-se uma rápida confraternização entre os membros da comunidade paroquial e os presentes que, geralmente, oferecem para consumo no local, alguns alimentos próprios da quadra pascal, ou apenas são passados alguns momentos para repouso do grupo itinerante.

Enquanto que, na aldeia, o compasso continua a fazer todo o sentido e a ter todo o acolhimento das populações, nas cidades, a visita pascal teria de ser reinventada; pois, a sua realização não seria possível nos mesmos moldes em que é efectuada na aldeia.

Nas cidades, salvo algumas excepções, como em Braga, a religião parece ser cada vez mais uma referência teórica e, a Páscoa, é apenas um período do calendário para gozo de férias escolares a que os estudantes associam a coelhinhos brancos, amêndoas e ovos de chocolate.

A visita pascal termina com a oferta de um donativo em dinheiro à paróquia (côngrua ou dízimo), seguindo o cortejo pascal, a pé, pelas ruas da aldeia, para a próxima habitação.

Este ritual cristão, de "bênção anual das famílias nas suas próprias casas", esteve um tanto "arrefecido" nas nossas aldeias, após o 25 de Abril de 1974, tendo voltado a ser incluído na celebração das Festas Pascais da Benfeita, a partir de 1988, pelo Padre António Dinis, por recomendação, em carta-circular, da Sagrada Congregação para o Culto Divino.

V.Quaresma - 04/04/2010