Cecília
nasceu no princípio do século III de uma antiga e ilustre
família da nobreza romana, Gens Ceccilia, famosa
já no século V antes de Cristo.
As notícias relativas à história
desta Santa apresentam-nos Cecília como uma virgem amante
de Jesus e da virtude, que assistia todos os dias às missas
rezadas pelo papa Urbano nas catacumbas da via Ápia, onde
procurou o Santo Pontífice e lhe confessou como desde criança
se havia consagrado a Jesus Cristo e lhe suplicou que aceitasse
o seu voto de castidade. Praticava o amor a Deus e ao próximo,
especialmente aos pobres, que são a Imagem de Jesus. Respeitava
servos e escravos, acolhia benignamente os mendigos e oferecia-lhes,
juntamente com a esmola, uma palavra de conforto, para mitigar
os seus sofrimentos.
Sem o seu conhecimento, foi
prometida em casamento por seus pais a um nobre jovem de
nome Valeriano. Diz a lenda que no dia de núpcias, Cecília
cantava a Deus, o hino da pureza e declarou a Valeriano,
ainda pagão, como ela Lhe pertencia totalmente e que um
anjo guardava a sua consagrada virgindade.
Valeriano respondeu que só
acreditaria se visse o anjo. Então, Cecília apresentou-o
ao Papa Urbano para que o preparasse para o baptismo. Deste
encontro resultou a conversão de Valeriano, que recebeu
o baptismo e pôde assim ver o anjo ao lado de Cecília. O
anjo segurava nas mãos duas coroas de flores simbolizando
o martírio que em breve deveria glorificar Cecília e Valeriano.
Tal como Maria Santíssima,
Cecília teve a glória de se ter casado e permanecido virgem.
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Tibúrcio, irmão de Valeriano, quis igualmente receber
o baptismo. Pouco tempo depois, os dois irmãos,
acusados de serem cristãos, foram decapitados. Cinco
meses depois, Cecília era condenada à morte. Diz-se
que quando foi decapitada, sua cabeça não caiu.
Sobreviveu três dias, professando em silêncio a
sua fé em um Deus uno e trino, com uma das mãos
apontando um dedo e a outra, três.
O Papa Urbano mandou
recolher o seu corpo e depositá-lo nas catacumbas
de São Calisto, bem perto da cripta dos Papas, corria
o ano de 225. Mais tarde, em 821, por ordem do Papa
Paschal I foi transportado para a Basílica dedicada
a Santa Cecília, construída sobre a antiga casa
dos Cecílios, no Trastevere.
O ofício da Missa
desta Santa traz, como antífona, um tópico das actas
do martírio da Santa, no qual se diz que, no dia
do seu matrimónio, a festa prosseguia, com vinhos,
danças e muita música, quando Cecília ouvindo os
músicos tocarem, terá elevado o seu coração a Deus
entoando baixinho estas piedosas preces: "Fazei
Senhor que o meu coração permaneça imaculado e não
permitais que sejam frustradas as minhas esperanças"
(Sl.118,80).
No texto das actas existe, porém, uma má interpretação,
quando a imagem desta santa é invocada tocando um
órgão. Isto sucede porque é dito: "Cantantibus
ou canentibus organis ..." sendo mal
traduzido, pois organa era um instrumento
musical dos músicos que animavam as festas. Esta
tradução errada, típica do século XIV, levou alguns
pintores a interpretarem a frase como: “Cecília
cantando com acompanhamento de órgão.”
De facto, os artistas da Renascença representam
Santa Cecília com um instrumento musical nas mãos.
Daí, a tradição que Cecília tocasse harpa, tendo
sido declarada padroeira dos músicos, que
a celebram como sua Santa protectora no dia 22 de
Novembro.
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A
estátua de mármore branco, desta santa, virgem e
mártir, tão bem amada e descrita nos livros de História
da Arte é considerada como uma das maiores obras
de arte da escultura barroca. Representa o corpo
de uma jovem, em tamanho natural, deitada sobre
o seu lado direito, com as pernas ligeiramente dobradas,
como se estivesse na cama a dormir, com uma roupagem
de traços inacreditavelmente suaves e com um profundo
golpe no pescoço, muito real e comovedora. Esta
estátua foi originalmente encomendada pelo Cardeal
Paolo Sfondrato, em 1599, a um jovem escultor italiano
de 23 anos, Stefano Maderno.
Maderno tentou reproduzir
fielmente as dimensões e a posição do corpo como
foi encontrada a santa durante as escavações de
restauro da igreja e quis também realçar a posição
dos seus dedos: três abertos na mão direita e um
esticado na mão esquerda. Segundo a tradição cristã,
a santa quis indicar a sua fé na Unidade e na Trindade
de Deus.
Séculos de detritos,
sujidade, fumos e cera de velas ofuscaram a estátua
de Santa Cecília; mas, graças ao trabalho efectuado
pela junta de Conservação de Arte Italiana, em 1900,
foi restituída à estátua o seu antigo esplendor,
tendo ficado como nova, na também restaurada Igreja
de Santa Cecília, em Trastevere, Roma.
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Foto: Einar
Odden
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Fonte:
«SGARBOSSA, Mario
e GIOVANNINI, Luigi - Um santo para cada dia, São Paulo:
Paulus, 1983, 9ª ed.»
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