A  ESTRADA  DA  BENFEITA

Fonte: Jornal de Arganil
Data: 30/08/2001

Perigo eminente

O diabo espreita entre a Dreia e a Benfeita

Há meses que este enorme buraco causado pelas chuvadas de Janeiro corta toda uma faixa de rodagem, constituindo um enorme perigo para os condutores que por ali circulam.

O que espera a Câmara e os respectivos serviços, para procederem à reparação urgente desta situação? Sangue no asfalto? Corpos espalhados pela ribanceira? Mais subsídios? Ou, simplesmente, que as chuvadas de Inverno, cortem definitivamente esta estrada?

Esta não foi, certamente, a maneira mais cordial de dar as boas-vindas aos inúmeros visitantes que se dignaram assistir às festas da Benfeita, no 15 de Agosto. Alguns imigrantes teriam desabafado “vimos de tão longe para visitar a nossa aldeia e os nossos amigos, nestes dias de festa, e ainda nos arriscamos a ter uma recepção fatal, logo à entrada!”.

Será que eles terão coragem de cá voltar, para o ano, para verificar se a estrada foi arranjada? Ou, não querendo correr esse risco, trocam a sua aldeia pelas “apetitosas” praias do Algarve?

V.Q.


A estrada da Benfeita

Este título foi manchete nos jornais da região durante longos anos e constituiu o desejo mais antigo e mais legítimo do povo benfeitense. Desde quando esta estrada era apenas um sonho, em 1928, todos acreditavam que ela seria o elo de ligação ao mundo, uma porta aberta ao comércio na região, até então completamente isolada da rede rodoviária nacional. A estrada de macadame, da Portelinha à Benfeita, foi iniciada em 1931 e terminou em 1938.

Graças aos programas comunitários, hoje, este troço com pouco mais de 4 quilómetros, está com um piso bastante aceitável, mau grado as 57 curvas que compõem o seu traçado. 
Brava gente "lutou" por esta estrada, tendo em vista a melhoria das condições de vida dos residentes.
Hoje, à distância do tempo, podemos concluir que a suprema aspiração dos benfeitenses não se concretizou. A estrada "apenas" serviu para que os benfeitenses saíssem em busca de melhores condições de vida, fora da Benfeita, e não voltassem. O comércio local reduziu-se à sua expressão mais ínfima. Aqui, o único local gerador de postos de trabalho é o Centro Social Paroquial, que alimenta e trata os nossos idosos.

Por uma razão ou por outra alguns benfeitenses resolveram "dar a volta" às suas vidas, fora da Benfeita; no entanto, o chamamento do sangue às origens é muito forte e, pelo menos, uma vez por ano, ainda congrega a vinda de muitos benfeitenses para umas merecidas férias ou para matarem saudades dos amigos.

Manter esta estrada em condições atractivas deve ser uma preocupação dos benfeitenses residentes, para que os benfeitenses ausentes, e eles próprios, não sintam as dificuldades e os perigos de antigamente.

Perder a visita dos benfeitenses ausentes é acelerar o colapso populacional e condenar a escassa população residente a um isolamento social ainda mais profundo.

V.Quaresma - 2001

Veja também:
A Estrada da Benfeita