SAUDADES  DA  BENFEITA

Beatriz Alcântara

Beatriz Alcântara visitou a Benfeita!

 

Discretamente, numa peregrinação de saudade e amor à terra, Beatriz Alcântara visitou a Benfeita, terra onde identifica as suas raízes familiares e guarda inesquecíveis recordações de infância.

 

MARIA BEATRIZ ROSÁRIO DE ALCÂNTARA, natural de Fortaleza, Brasil, capital do Estado do Ceará, onde nasceu em 06/02/1943, é filha de José da Fonseca Rosário Dias e de Maria Beatriz Barreiros Rosário Dias. Seus avós paternos, José Augusto Rosário Dias e Maria Augusta da Fonseca, eram naturais da Benfeita.

Ainda muito nova veio viver para Portugal, juntamente com os seus irmãos, para Lisboa, local onde estudou no Colégio de São José e no Liceu Feminino de Maria Amália Vaz de Carvalho, tendo regressado ao Brasil no final de 1963, com 20 anos de idade. Tem dupla nacionalidade, portuguesa e brasileira. Enquanto viveu em Lisboa, na Praça João do Rio, no Areeiro, repartia as suas férias grandes entre as praias da Costa da Caparica, em Julho, e a casa de seus avós, na Benfeita, em Agosto e Setembro.

Casou com o Dr. Lúcio Gonçalo de Alcântara, médico, escritor e conceituado político brasileiro, ex-Governador do Estado do Ceará, de quem teve dois filhos, Maria Daniela Rosário de Alcântara (arquitecta) e Leonardo Rosário de Alcântara (advogado e ex-deputado federal). Foi poetisa, ensaista e contista, para além de ter concluído o Curso de Letras da Universidade Federal do Ceará e ter sido jornalista e professora da Universidade Estadual do Ceará, tendo obtido um mestrado em Literatura, pela Universidade de Brasília.
Membro da Academia Cearense de Letras, foi autora de vários livros que publicou entre 1973 e 2007, sendo detentora de vários prémios literários, medalhas e menções honrosas.

Beatriz de Alcântara quis partilhar connosco, a sua visita à terra que trás no coração desde criança, oferecendo-nos a poesia que a seguir transcrevemos.

Obrigado e até sempre!

V.Quaresma - Agosto 2013

 

ALDEIA DA PAZ

Não se afasta do coração
quem da Benfeita leva lembrança
do sino a tocar a Paz,
o amarelo das giestas entre sol e chuva
num Maio intenso, primaveril,
águas cantantes entre as ribeiras,
hinos na missa domingueira da Matriz,
num coro feminino, afinado como cristal,
tudo singelo, sem igual, a abraçar os dias às noites.

Vales, montes, cumes arredondados;
súbito, ao dobrar uma curva, a aldeia pequenina.
Ao longe, numa torre altaneira sem ornatos
o sino badala suave e ritmado,
mil seiscentos e vinte toques avivam à memória
o flagelo da Guerra Mundial, a Segunda,
a paz assinada numa tarde, a sete de Maio.
Hoje, no areal, grupos reúnem-se à conversa,
voz baixa, todos atentos ao repicar,
orgulho e satisfação por serem,
decerto, os únicos a não esquecerem
de bendizer a Paz, ano a ano, após tantos.

Não se pode escapar ao coração
nem separar de si a felicidade
quando ao seguir caminho adiante,
chegada a ponte fundeira, aconchegar o olhar
ao amanho do campo e na lide das quelhas.
No adeus, as palavras são travadas pela emoção
a dizer, bem-haja, já cá volto a te ver.
A curva apaga a aldeia e o pensamento
liberto, quase ingrato, toma a forma do vento.

Benfeita, 7 de Maio de 2013.