SANTA  BÁRBARA

Esmola para Santa Bárbara!

Na madrugada do Domingo de Páscoa, antes do Sol nascer, é habitual, na Benfeita, proceder-se a um peditório por todas as casas da aldeia, com a finalidade de mandar rezar uma missa por Santa Bárbara. Conforme seja o montante apurado neste peditório, que é entregue à Comissão de Culto da Paróquia, assim se mandam rezar uma ou mais missas, durante todo o ano. Nessas missas roga-se a Santa Bárbara, Virgem e Mártir, que nos afaste dos perigos das trovoadas, dos incêndios e das cheias. Essa tradição, agora mais discreta e sem o espalhafato de outrora, ainda se mantém viva, trazendo alguma animação à aldeia e aos seus filhos que nos visitam durante a quadra pascal.

Esmola para Santa BárbaraA forma como se realiza este singular peditório não era, por vezes, do agrado de algumas pessoas, pois que tem de ser efectuado antes do nascer do Sol:

- Por volta das 4 da manhã, os noctívagos mendicantes, em número de dois, saíam à rua batendo com um pau ou com o cajado nas portas das casas, gritando: Esmola para Santa Bárbara! Os residentes, que dormiam, acordavam sobressaltados com a algazarra; mas, sabendo do que se tratava lá se dirigiam à porta para cumprir o sagrado dever de entregar a sua esmola, geralmente preparada na véspera sendo introduzida dentro de um envelope ou pequeno saco. A entrega da esmola tinha de ser feita em mão e, via de regra, era acompanhada por um pequeno petisco ou simplesmente um copo de vinho ou outra bebida, para aquecer os pedintes da friagem da noite e que, normalmente, não era recusada. Por volta das seis da manhã, quando terminava o peditório, já os esmoleiros andavam cambaleantes, aos tombos, a mais o saco das esmolas, que também podia ser uma cesta com a imagem da santa.

O Ricardo e o Renato, tio e sobrinho, formaram este ano o grupo da colecta, e sucederam ao grupo do Zé da Mata e Eliseu que, por sua vez, tomaram o lugar do célebre duo Zé Rusga e Eduardo Mineiro. E, assim, estes pares se vão formando e sucedendo ao longo dos anos enquanto a tradição se mantém.

Santa BárbaraSanta Bárbara, era uma ilustre e jovem donzela de extraordinária beleza, que viveu na Nicomedia, Turquia, nos anos 300 d.C. e foi enclausurada, pelo próprio pai, numa torre do palácio onde vivia, afastada de todos, para que não fosse vista por nenhum homem e apenas aceitasse o pretendente que ele mesmo lhe destinasse.

Como ela não aprovasse as suas escolhas nem se interessasse por jovem nenhum, o pai trouxe-a de volta para casa; mas, o seu temperamento insubmisso, querendo continuar a viver em castidade, mantendo a sua fé em Cristo, chegando mesmo a ser baptizada por um padre disfarçado de mercador, aumentaram a fúria de seu pai que frequentemente a castigava, batendo-lhe, chicoteando-a e salgando-lhe as feridas, numa tentativa de a punir pela sua recusa em adorar os deuses pagãos do Império Romano.

Os seus tormentos só tiveram fim quando o seu pai lhe pôs termo à existência, decapitando-a com a sua espada, num final trágico, por não aceitar renunciar à sua fé cristã.

A fúria dos céus contra este acto terrível, em que a mártir se sacrificou por Cristo e pela sua fé, revelou-se durante a tempestade que se formou logo de seguida, por um raio que fulminou o seu odioso e cruel pai e incendiou completamente o palácio onde viviam.

Na hora de sua morte, Bárbara ainda se ajoelhou e pediu a Jesus que a absolvesse de todos os seus pecados e rogou para que a mesma graça fosse concedida a todos os que, em situações de morte iminente, por seu intermédio implorassem a Extrema Unção, tendo recebido de Jesus a garantia da satisfação dos seus pedidos. Daí que as pessoas invoquem o seu nome, sobretudo, como protectora contra a morte trágica e contra os perigos de explosões, raios e tempestades.

Na iconografia cristã Santa Bárbara é geralmente apresentada como uma virgem, alta, magestosa, com uma palma significando o martírio, um cálice como símbolo de sua protecção em favor dos moribundos, ao lado de uma torre, representando o local onde esteve enclausurada durante longo tempo, e de uma espada, instrumento de sua morte.

Santa Bárbara é a padroeira dos bombeiros, mineiros, artilheiros, pirotécnicos, arquitectos, construtores, pedreiros, carpinteiros, electricistas,  guardas prisionais e presidiários e o seu dia comemorativo, no calendário litúrgico, é a 4 de Dezembro. Na Benfeita, não há a tradição de culto a Santa Bárbara; aqui, só nos lembramos dela, mesmo, só quando troveja.

Rezas para afastar as trovoadas

Fazendo Pelo Sinal:

Chagas abertas,
Coração ferido,
Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo
Se derrame entre eu (diga o seu nome)
E o perigo!

Pelo Sinal
Reza-se fazendo uma cruz na testa, outra na boca e outra no peito, com o polegar direito e a mão fechada; depois faz-se o sinal da cruz: testa, peito, ombro esquerdo e ombro direito, com a ponta dos dedos e a mão aberta.

U Chagas abertas, U Coração ferido, U Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo U Se derrame entre eu (nome) e o perigo! Amém.

Santa Bárbara bendita,
Que no céu está escrita
Num papel com água-benta
Livre-nos desta tormenta!
Que a leve lá para bem longe
P'ra onde não haja nem pão nem vinho,
Nem flor de rosmaninho,
Nem mulheres com meninos
Nem vacas com bezerrinhos,
Nem gadinhos de lã,
Nem alma cristã,
Porque já os galos cantam,
Já os anjos se levantam,
Já o Senhor está na cruz,
Para sempre amém, Jesus.

Magnífica a minha alma,
Engrandece o Senhor,
O meu espírito ardente
Meu Deus Salvador.
Chagas abertas, coração ferido,
Deus se meta entre nós e o perigo.

Magnifica a minha alma
Engrandeço ao Senhor
Meu espírito se alegrou
Em Jesus meu Salvador.
Oh, que estrondos vão no Céu!
Que nos valha a Divindade,
Valha-nos a Cruz de Cristo
E a Santíssima Trindade.
Santa Bárbara bendita
Se vestiu e se calçou,
Ao caminho se deitou,
Jesus Cristo encontrou
E Ele lhe perguntou:
-Onde vais Bárbara?
-Vou amarrar aquela trovoada,
Que no Céu anda espalhada.
-Amarra, amarra,
Onde não haja eira nem beira
Nem raminhos de oliveira
Nem pão, nem milho,
Nem babete de menino,
Nem bolinho de alma cristã.
Santa Bárbara bendita
Que no Céu está escrita
Tendes a Torre na mão
Pedi a Nosso Senhor
Que nos abrande o trovão.

Quando troveja acende-se uma vela e faz-se uma reza.
Também se queimam os ramos bentos (oliveira e alecrim), benzidos
no Domingo de Ramos (Domingo anterior ao Domingo de Páscoa).

V.Quaresma - Março 2008